A primeira metade do s�culo XX, um per�odo marcado por duas Guerras Mundiais, foi tamb�m a ocasi�o em que a humanidade p�de colocar em nova perspectiva a reflex�o acerca da t�cnica. A euforia do final do s�culo XIX se esvai frente �s vis�es do horror da morte em massa, mas a morte n�o � o �nico evento assustador. Tr�gica �, essencialmente, a vida mecanizada; a vida aniquilada pelos ideais de produtividade, racionaliza��o, utilitarismo, progresso.
Se, j� desde antes dessa �poca, a literatura ficcional e as artes s�o campos em que florescem relatos e alertas � empobrecida situa��o do homem ocidental moderno, a filosofia da t�cnica tamb�m nos oferece reflex�es valiosas. Os textos aqui reunidos, elaborados por volta dos anos 1940, s�o exemplos de um pensamento cr�tico que percebe o qu�o desastroso pode se tornar um projeto que pretende transpor um ideal de perfei��o caracter�stico do pensamento mec�nico para a esfera humana.
O pensamento de Friedrich-Georg J�nger (1898-1977) � contundente e radical. Poeta e ensa�sta, irm�o do escritor Ernst J�nger, concluiu o livro Die Perfektion der Technik supostamente em 1939. Conta-se que duas vers�es pr�-impressas da obra foram destru�das em bombardeios durante a II Guerra, uma em 1942 e outra em 1944, adiando sua publica��o para 1953. J�nger v� o homem moderno como um usurpador da natureza, cujo �nico objetivo � domin�-la completamente. Este homem, incapaz de refletir sobre suas a��es, sequer percebe que pode estar forjando a pr�pria destrui��o. O anseio de J�nger seria por uma reconcilia��o entre homem e natureza, homem e imagina��o, homem e afetividade, mas, desiludido, sabe que o pensamento mec�nico vigente n�o deixa espa�o para tais esperan�as.
Arnold Gehlen (1904-1976) � um pensador de grande influ�ncia dentro da Filosofia e das Ci�ncias Sociais. Tem seguidores mesmo entre aqueles radicalmente opostos � sua posi��o pol�tica conservadora. O cap�tulo aqui traduzido encontra-se na nova edi��o do livro Man in the Age of Technology, publicado pela primeira vez em 1949, sob o titulo o Sozialpsychologische Probleme in der industriellen Gesellschaft. A nova edi��o, revisada, saiu em 1957, dessa vez com o nome Die Seele im technischen Seitalter. O autor empreende uma reflex�o sobre a t�cnica moderna a partir de pontos de vista sociais, filos�ficos e psicol�gicos. Para ele, o fen�meno da industrializa��o em curso pode afetar o homem de maneiras nunca antes vistas. Sugere, portanto, colocar em quest�o e investigar seriamente o problema, fundamental, do racionalismo.
O historiador de arte Siegfried Giedion (1888-1968) encontra repercuss�o principalmente com seus textos acerca da arquitetura moderna. At� mesmo o Brasil serve de objeto de an�lise para esse pensador, que escreve um artigo intitulado Brazil and the Contemporary Architecture. Em Homem em Equil�brio, publicado em 1948 dentro da obra Mechanization Takes Command, ele parte de uma perspectiva de an�lise que envolve a rela��o do homem com o seu ambiente para refletir sobre a sua situa��o na configura��o da realidade moderna. Tamb�m aqui nos deparamos com um alerta para a import�ncia do reencontro do homem com a sua totalidade.
Neste volume, encontram-se tradu��es de autores n�o muito explorados nos debates em l�ngua portuguesa e que, por�m, mostram-se de fundamental import�ncia �queles interessados na hist�ria do pensamento da t�cnica e da critica � modernidade. Podemos descobrir, com eles, a percep��o mais antiga de uma inquieta��o com o destino a que chegaria a humanidade na concretiza��o de todas as aspira��es do ideal prometeico do homem ocidental moderno. E, mais ainda, apoiarmo-nos em suas reflex�es para avaliar o qu�o longe estamos, na nossa vida contempor�nea, da exist�ncia mecanizada, cuja possibilidade apresentava-se aos pensadores germ�nicos t�o perturbadora no in�cio do s�culo passado.
* Graduada em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
|