Tanto para a mágica da Tecnologia e para o Mercado Livre -
O WWW e a Corporação do Sistema de Mídia


Robert McChesney


Grande parte da literatura contemporânea discute as grosseiras implicações antidemocráticas e a trajetória do Sistema de Mídia Contemporâneo (McChesney, 1999). Dominada por um punhado de firmas maciças, companhias de propaganda e seus donos bilionários, o sistema está circulando em um hipercomercial com pouco serviço público. Na junção com a cristalização do Sistema de Mídia Contemporâneo nos fins dos anos 90, uma teoria diz que não há razão para estar preocupado com o controle concentrado da corporação e a hipercomercialização da mídia. Isto reivindica que o WWW, ou, mais abrangente, as redes de comunicação digital nos deixarão livre. Este é um argumento dificilmente comentado: toda grande nova mídia de tecnologia eletrônica deste século – de filme, rádio AM, ondas curtas de rádio, e transmissão fax para o rádio FM, televisão terrestre à cabo e satélite – geram noções utópicas similares. Em cada caso, variando os níveis, visionários nos dizem que como essas novas mágicas tecnologias irão destruir os monopólios existentes na mídia, cultura e conhecimento e abrir o caminho para a igualdade e a ordem social. Mas o WWW é quantitativamente mais radical e varre as novas tecnologias de comunicação, e reivindica ser mais adiantada visão tecnológica de larga margem.

As reivindicações para que a Web seja mídia e comunicação serão não menos varridas. “A Internet é altamente menosprezada,” afirma Nicholas Negroponte, diretor do laboratório de mídia no Instituto de Tecnologia de Massachusetts. “Irá crescer para ser a tecnologia que disponibiliza toda a mídia – TV, rádio, revistas” (citado em Lohr, 1998b: A11). Como a discussão continua, se tudo nesse processo de está se tornando digital, se qualquer um pode criar um site de custo mínimo e esse site pode ser acessado em todo o mundo via Web, é somente uma questão de tempo (ex.: expansão da banda larga, melhoramento no software) antes dos gigantes da mídia se encontrarem varridos pelos inúmeros competidores de alta qualidade. Seus monopólios serão destruídos. John Perry Barlow, em um comentário inesquecível de 1995 desconsidera preocupações sobre concentração e união de mídias. As grandes firmas de mídia, como Barlow percebeu, são “meramente recolocar cadeiras no Titanic”. O iceberg, ele diz, pode ser o WWW, com os seus 500 milhões de canais (citado em Herman e McChesney, 1997:107). Como um correspondente do New York Times escreveu em 1998, “para ouvir Andy Grove [da CEO] e Reed Hunt [presidente da comissão federal de comunicação], a indústria da mídia estava como os negócios de cavalo e carroça quando Henry Ford começou a produção em linha” (Landler, 1998: séc.3, D.9).

Neste capítulo eu tento clarear as reivindicações, apesar da mitologia, sobre o WWW do histórico observado, mesmo que isso não seja uma tarefa fácil. Primeiramente, a Web é um fenômeno complexo e notável que não pode ser categorizado por nenhuma experiência mediana anterior; ele usa o que logo será o código binário universal; ele é global; o que não está claro é como exatamente é/ou poderá ser regulado. Somado a isso, o WWW está mudando num nível histórico sem precedente. Qualquer tentativa de prever durante épocas tumultuosas é impossível; alguma coisa escrita sobre a Web recente com 1992/93 tem tanta atualidade quanto 2000, como os discursos da Guerra das Rosas são para se entender as regras militares na Europa contemporânea. Mas eu acredito que tanto aconteceu no espaço cibernético, que podemos começar a ter uma noção pela trajetória da Web, e uma noção de como provavelmente a abrangência será.

Enquanto não há sombra de dúvida que a WWW será parte das maciças mudanças sociais, eu não divido o otimismo de George Gilders, Newt Gingriches, e Nicholas Negropontes [1]. Muita discussão da Web é premissa em cima de um utópico ou distópico, otimista ou pessimista modo de ver a mudança tecnológica e social. Resumindo, é um determinante tecnológico, e é essa determinação de utopia ou variedade de Luditte? Essas são discussões interessantes, mas conduzidas no isolamento de fatores sociais, elas não são especialmente produtivas. A utopia da Web de Negroponte e outras é baseada não somente na crença da mágica da tecnologia, mas, mais importante, numa crença de que o capitalismo é justo, racional e o mecanismo democrático que eu acho mitológico. É quando utopia, tecnologia e determinação são combinadas com uma vista do capitalismo sendo benigno e natural, onde nós conseguimos uma genuína preparação ideológica precipitada. Então é verdade que a Web está mudando radicalmente a natureza da nossa paisagem. Como Berry Diller, criador da FOX e um legendário profeta da corporação da mídia, coloca em dezembro de 1997, “nós estamos num estágio muito atrasado da maior transformação radical de tudo que ouvimos, vemos e sabemos” (“All Together Now,” 1997:14). O que eu queria examinar neste capítulo, especificamente se estas mudanças irão pavimentar o caminho para uma qualidade diferente de uma cultura de mídia e sociedade ou se o sistema de corporação comercial irá apenas vestir uma nova peça de roupa.

A mitologia do mercado livre

Uma das características que marcaram o WWW é que não há debate público sobre o que deveria ser desenvolvido neste espaço; um consenso de especialistas simplesmente decidiu que o WWW deveria ser direcionado para o mercado. Certamente, a natureza antidemocrática das regras da Web é explicada ou defendida por simples argumentos. A Web é para ser/deveria ser regulada por um mercado livre. Esse é o mecanismo regulador mais racional, justo e democrático conhecido pela humanidade. Então, por todos os direitos deveria ser automaticamente aplicado por qualquer ou todas as áreas da vida social onde lucro pode ser encontrado. Nenhum debate é necessário para estabelecer o mercado, como o reinado de mecanismo regulador, porque o mercado naturalmente assume este papel, a menos que o governo interfira e impeça o mercado de fazer a sua mágica. Compreendido por sua lógica, qualquer debate público sobre as regras da Web pode ser somente improdutiva, pois poderia apenas nos guiar longe do sistema direcionado de ganho. A intromissão pública iria permitir improdutivas burocracias a interferir no produtivo jogo de mercado.

Combinando o mercado com a Web, nós somos lembrados que empresários serão permitidos competir como nunca, oferecendo maravilhosos novos produtos, e preços baixos como nunca. Irá suprir uma cornucópia virtual de escolhas para os consumidores e imporá pessoas em todo mundo em uma maneira previamente inimaginável. Empresas irão florescer como as multidões se tornarão empresários online. Será uma Valhalla capitalista. Nenhum lugar terá a revolução do mercado cibernético mais aparentemente que no domínio da mídia e da comunicação. Quando qualquer um pode colocar qualquer coisa na Web a discussão continuará, e quando a Web efetivamente convergir com a TV, o valor de ter uma televisão ou uma rede à cabo se aproximará de zero. Eventualmente, o controle de qualquer distribuição de rede será de nenhum valor como toda mídia convertida para o formato digital. Também estúdios de produção terão aumento de trabalho por que um mercado será aberto para inúmeros novos concorrentes. Mesmo se o governo for, no fim, encontrar esse poder (McHugh, 1997).

Como conseqüência, o resultado comum da revolução digital será a intimidação (mesmo a eliminação certa) dos gigantes da mídia e a floração da competitividade de um lugar no mercado da mídia comercial, como aqueles que nunca foram vistos. Compreendido que o crescimento das ameaças da Web, não somente para o poderoso mercado dos gigantes da mídia, mas também muitos sobreviventes dos gigantes da telecomunicação e softwares de PC (ver Gilder, 1994).

É irônico que nas reivindicações sobre os gênios do mercado cresceram em um discurso convencional nas duas décadas passadas. A necessidade para suprir evidência empírica para as reivindicações decresceram. O mercado assumiu um status mitológico se tornando um totem religioso no qual todos precisam orar para submissão ou enfrentar a expulsão para as margens. A mitologia do mercado é tão abrangente porque ela tem alguns elementos de verdade. É formalmente um mecanismo voluntário, sem coerção direta, e permite um elemento de escolha do consumidor. Mas a principal razão é voltada para o topo do totem ideológico. É porque ele serve os interesses dos elementos de maior dominância da nossa sociedade, e os poucos mitológicos perigos do mercado livra-se de algum interesse poderoso – crescem sem desafio algum. Como essa mitologia do mercado livre é a fundação de quase todo caso da falta de qualquer debate público, no curso (e para privatização e comercialização) da Web, ela exige um escrutínio muito cuidadoso.

A reivindicação de que o mercado é um honesto, justo, e racional distribuidor de coisas boas e serviços, é premissa para a noção de que o mercado é baseado na competição. Essa competição constantemente força todos os atores da economia a produzirem produtos de alta qualidade pelo menor preço possível e isso beneficia aqueles que trabalham mais duro e com mais eficiência (ver Friedman, 1962). No entanto, estas novas tecnologias permitirão que empresários famintos entrem no mercado, assassinem corporações antigas, baixem preços, melhorem produtos e, no geral, façam coisas boas para a humanidade. E não apenas quando estas novas empresas ou empresários de sucesso estão “por cima da carne seca”, juntamente com um começo corajoso (provavelmente com uma nova tecnologia) será ensinada a eles a lição e a trabalhosa mágica da competição em pouco tempo de novo. Isso é um certo alimento que é servido para os americanos que investem significativamente na economia. Isso dá uma imagem atrativa para o jeito como a nossa economia trabalha – fazendo ela justa e racional – mas isto tem pouco a ver com como a economia atual opera. A corporação de executivos irá invocar em tom declamatório ao lidar com o Congresso e com o público, num certo nível, eles podem até acreditar. Cedo as ações desses falarão mais alto do que as palavras.

A verdade é que para estes que estão no topo da nossa economia, a chave para o sucesso é baseada em grande parte através da eliminação da competição [2]. Eu estou sendo um pouco faceto porque no fim o capitalismo é compreendido como uma guerra de um contra todos, desde que todo capitalista esteja em competição com os demais. Mas a competição é também algo de sucesso entre os capitalistas (o tipo que continua sendo capitalista) para que aprendam a evitar como praga. Quanto menor competição que uma firma tem, maior o risco da empresa não ser lucrativa. Todos os investidores e firma têm o desejo racional de ter a posição de maior monopólio possível. Em geral, a maioria dos mercados dos Estados Unidos do século XX tem uma tendência de não ter um status de monopólio, mas um status de oligopólio. Isso significa que algumas firmas – variando de 2 ou 3 ou até 12 ou mais – dominam com grande abrangência os resultados do mercado e elas colocam barreiras para que novos empresários não entrem no mercado, apesar da sorte da probabilidade que Milton Freedman nos diz poderá criar a competição. Ao colocar preços e resultados, mercados de oligopólio estão muito perto de ser monopólios e então eles são mercados competitivos descritos como no folclore do capitalismo.

Para ter certeza, a despeito de toda concentração essas firmas ainda competem – mas não na maneira que a mitologia sugere. Como um escritor de negócios coloca “companhias e algumas indústrias parecem fazer de tudo para ganhar clientes, mas deixando a parte o fato de cortar preços” (Martim, 1998). A propaganda, por exemplo, cresce para ter o significado principal na competição dos mercados de oligopólio. Isto é um jeito de proteger ou expandir mercados divididos com as outras empresas num preço que ameaça o lucro. Na ocasião, na competição internacional, com a crise econômica, novas tecnologias, ou um outro fator que pode quebrar o oligopólio estável e liderar para uma confusão nesse baralho uma mudança de trajetória nos personagens da corporação. Mas o resultado estável quase sempre será um oligopólio estável; na outra maneira, nenhum capitalismo saudável iria participar disso. Ainda a mesma noção de oligopólio é insuficiente: uma conglomeração, largamente espalhada juntamente com o envolvimento pronunciado por grandes instituições de financiamento nos negócios de corporação, reduzindo a autonomia nas indústrias distintas, trazendo um grau de instabilidade – senão muito mais competição direta – para o sistema. Ao invés de se concentrar em indústrias de oligopólio específicas, ao invés de, porventura melhor reconhecer a economia em crescimento dominada pela pequena centena de grandes firmas. Isso é certamente o melhor contexto para perceber o desenvolvimento da mídia e da comunicação.

Então como deveríamos esperar pelo WWW para desenvolver este modelo de mercado livre? Exatamente como foi até aqui. Ignorando, agora tendo capacidade tecnológica para competir, as grandes firmas são extremamente reticentes sobre entrar em novos mercados e forçando os caminhos deles em um existente e altamente lucrativo mercado de comunicação. Assim as companhias de telefone tenderam evitar juntar seus fios deles com os de TV paga, e as companhias à cabo evitaram serviços de telefone nas linhas deles. Isso não é conspiração. Houve poucas, e sem sombra de dúvidas haverá mais, atentados para estas firmas e outras para continuar e competir em novos mercados. Mas isso será feito seletivamente, geralmente tendo como foco mercados abundantes que são mais atrativos para estas firmas (Mehta, 1998). Mais importante, nenhum gigante existente irá tentar entrar em outro mercado se não estiverem certos de ganharão um monopólio, ou ao menos tenham um grande pedaço de um oligopólio estável com barreiras bem significativas para entrar. Uma opção com menor riscos para estas firmas, ao invés de se aventurar num Kamikaze empresarial num território inimigo, é visto que para se expandir eles têm que ter muito mais proteção e munição como se eles tivessem de entrar numa competitiva batalha, ou ao menos se proteger por fora do ataque. Com curtas margens, o outro curso prudente é estabelecer parcerias de risco com prospectiva de competidores para reduzir o potencial de competição e risco. Resumindo, num comportamento racional para tentar reduzir a ameaça de competição menor possível, e então engajar numa linha direta de competição assim como pode ser gerenciada.

Quando o capitalismo é visto desta forma, como Barlows falou que é um “iceberg” a tese é considerada menos plausível. Depois de tudo, as corporações de gigantes da mídia têm significantes armas no seu arsenal não apenas para confrontar, mas também para determinar as novas tecnologias. Mais ainda, como nós temos um entendimento realístico de como o capitalismo opera, nós sabemos ver porque as corporações de mídia têm dominância, ao invés de ir desaparecendo, estão de fato crescendo rapidamente nos Estados Unidos e em todo mundo. Nos Estados Unidos, a indústrias da mídia está crescendo muito mais do que toda a economia, e experimentaram, pela primeira vez nos anos 80, um crescimento de duplo dígito nos anos consecutivos de 1997 e 1998 (Mermigas, 1997; Cardona, 1997).

Mas e as novas firmas? Será que elas vão conseguir trazer a competitividade que os gigantes racionalmente equipados tentam negar? No geral, as novas firmas são pouco equipadas para enfrentar as firmas gigantes nos mercados de oligopólio devido às barreiras de entrada. O papel das pequenas firmas no clássico cenário é conduzir a pesquisa, o desenvolvimento e a experimentação que grandes firmas vêem como um lucro insuficiente, então, quando as pequenas encontram um modo novo lucrativo, elas vendem para o gigante existente. Alguns dos impulsos para as novas tecnologias vêm destas pequenas firmas, ansiosas por acharem uma nova colocação no mercado para que possam crescer, sair das sombras destas corporações gigantes nas indústrias existentes. Nesses tempos de convulsão social tecnológica, como agora, com a WWW e a comunicação digital, isto marca as novas indústrias que estão sendo formadas e há uma oportunidade para os novos gigantes emergirem.

É seguro dizer que os novos gigantes da comunicação foram estabelecidos nos anos passados, como a Microsoft atingiu um status gigante durante os anos 80 e 90. Mas a maioria das grandes novas fortunas serão feitas por firmas que começarem pelo desenvolvimento de uma idéia lucrativa e então vendê-las para os gigantes já existentes. (Sabe-se que Microsoft gastou mais de US$ 2 bilhões entre 1994 e 1997 para comprar ou conseguir um pedaço de 50% das companhias de comunicação). Compreendido, que isto é concedido para ser um objetivo explícito aproximadamente em todas Web que começaram e nas firmas de telecomunicações, que eram fundadas com a visão de um cenário de saída “com a venda dela para uma gigante” (Colona, 1998). Como o gerente do mercado da Web colocou em 1998, os preços das ações das companhias da Web eram “movidos pela especulação daquelas qual será a próxima companhia a ser adquirida por uma companhia muito maior que uma outra média, como um caminho de comprarem o seu próprio espaço na WWW” (Gilpin, 1998:7). Por causa disso, a função tradicional das novas firmas ainda é manter a regra. Para cada nova Microsoft, terá mil WebTVs ou Starwaves, firmas de pequena tecnologia que serão vendidas para mídias e gigantes da comunicação em negociações que fazem os seus mais ricos acionistas passarem aos seus sonhos mais distantes. E para toda Web TV e Starwaves que há, terá milhares de outras que serão adquiridas por elas.

O que devia ser esclarecido neste sistema de mercado talvez “funcione” num sentido de que serviços e coisas boas serão produzidos e consumidos, mas isto não significa algo justo no social, político ou no sentido ético do termo. Exsitem corporações que têm extremas vantagens sobre aquelas que estão começando. Elas usam seu poder para limitar a habilidade das novas firmas para entrar no mercado, para limitar resultados e fazer com que os preços continuem altos. Ainda essa injustiça que se estende ao longo da falta de mercados competitivos. Na participação como capitalistas, individuais muito ricos têm também tremenda vantagem sobre os pobres ou pessoas da classe média, que têm quase nenhuma chance. Isso, uma tremenda quantidade de talentos simplesmente nunca terá oportunidade para se desenvolver e contribuir para a economia. É marcante que eles mesmos se tornaram bilionários como Bill Gates, Ted Turner, Michel Eisner, Rupert Murdoch e Summer Redstone todos tiveram alguma base para ser privilegiado com isto. E, no lado da “demanda” do mercado, o poder é determinado por quanto dinheiro o individual tem; nesse caso um dólar, um voto a mais para aquela pessoa, um voto. Com este raciocínio, o sistema político para o qual o mercado é o mais similar é o dos limitados dias de sufrágio de democracias pré-século XXI, quando uma proporção de adultos não podia votar e seus interesses eram muito ignorados.

Na verdade, isso é o que a defesa do sistema de mercado, em termos de justiça, se determina como: novas firmas podem começar e se tornar gigantes, e para fazer isso eles provavelmente terão que fazer alguma coisa que será muito marcante, ou ter muita sorte. Tudo isso significa que o sistema tem que abrir a mínima possibilidade para pessoas que não são ricas se tornarem multimilionárias, o sucesso é extremamente difícil de ser conquistado, e o que se acredita ao se tornar rico é que muitas pessoas terão um fim nesta compreensão.

Existem outros aspectos do capitalismo que não se identificam com a mitologia. Primeiro, quando os estudiosos de mitologia do mercado livre criticam a mão pesada que o governo apóia, o que na verdade significa “mão pesada” é que isso pode representar os interesses dos cidadãos contra os interesses dos empresários. Quando o governo gasta milhões com empresas subsidiárias ou advogando os interesses dos empresários, nenhuma coisa é escutada sobre os diabos do “grande governo”. As regras do governo têm um papel decisivo ao insistir no lucro da corporação e dominar inúmeras indústrias, não somente as da comunicação. Muitas indústrias da comunicação associadas à revolução tecnológica – particularmente a Web – cresceram diretamente sem o subsídio do governo. Certamente, em algum momento inteiramente 85% da pesquisa e desenvolvimento das indústrias eletrônicas dos Estados Unidos foram subsidiadas pelo governo federal, mesmo que os lucros eventuais tenham vindo de firmas particulares (T. Chomsky, 1994). A livre distribuição da publicidade que tinha como dona o espectro eletromagnético para o rádio e companhias de TV dos Estados Unidos tem sido um dos maiores presentes de propriedade pública da história, avaliado acima de US$ 100 bilhões. Mais ainda, isto está caminhando em uma direção errada para se submeter a esta era neoliberal, na era do pró-mercado “desregulado” o governo está atuando em um papel menor do que em eras anteriores. De fato, o papel do governo é grande como nunca, ao menos durante a formação deste estágio digital dos sistemas de comunicação. Decisões extremamente cruciais sobre a Web e comunicação digital irão ser implementadas para os próximos anos, determinando efetivamente o curso do sistema de comunicação dos Estados Unidos por, no mínimo, mais uma geração. A maneira exata na qual a WWW e a comunicação digital se desenvolvem serão determinadas pelas especificações tecnológicas, tais como aqueles que controlam o comercial da indústria digital (Harmon, 1998). O governo será singularmente responsável por estas atividades, e o que ele faz e a quem favorece será correspondente e determinado por quais firmas e em quais setores ele vai atuar. O que é diferente de eras anteriores é o que está abaixo do “desregulação”, na qual não há uma pretensão de que o governo deva representar o interesse público versus o interesse comercial. O governo tem por dever expedir uma dominação comercial, a qual, como resultado, deveria servir ao interesse do público.

Compreendendo a importância crucial dos cortes do governo, também o mito de que o mercado existe por um fator “natural”, independente do governo, é cegamente beneficiada com os mais eficientes atuadores. As regras do governo são instrumentos para que sejam ou não vencedores, e essas regras são freqüentemente derivadas de uma maneira corrupta e antidemocrática. Mais ainda, a noção de que capitalismo é natural e que há uma negligência econômica ou um sistema regulador para a raça humana, que somente pode ser medido pela intromissão do governo ou pela troca de uniões, não comportam todo o mundo assim como se sabe. Sendo assim, mesmo o estabelecimento do capitalismo tendo sido um complemento histórico marcante, o capitalismo como sistema econômico, baseado na centralidade de um investimento e perseguição do máximo lucro, apenas desenvolveu um pequeno espaço/campo no mundo depois de centenas de transformações sociais. Ele requereu máximas mudanças na moral, leis, religião, política, cultura, e “natureza humana”, sem mencionar a economia. A recente indicação do absurdo de dizer que o capitalismo é um sistema de negligência humana vem do pós-comunismo do leste europeu, onde se tentou deixar o capitalismo desenvolver-se “naturalmente” o que não causou pequenos desastres em todos, já que algumas nações centrais da Europa onde os mercados tiveram fortes marcas comparadas ao comunismo.

Outra falha na mitologia de que o mercado livre é que as atividades para qual o mercado é dirigido sempre trazem um resultado social mais racional. Para estender esse argumento do mercado livre, se baseia no quase inexistente modelo de competitividade; numa teoria econômica de nível de concentração de mercado que existe ao longo da economia desconsiderando os relatos de uma produção racional e de ótimos resultados sociais. Mas essa falha é muito maior do que isso, e seria mesmo aplicada na mitologia dos mercados livres. A simples verdade é que os mercados freqüentemente produzem resultados irracionais e altamente destrutivos (Kuutner, 1997). Na outra mão, o que é racional para investidores individuais pode facilmente produzir resultados negativos quando é feito pela maioria dos investidores. Por exemplo, é racional um investidor retirar um investimento durante a recessão, já que as chances de lucro são pequenas ou nulas. Mas se muitos investidores consideram isso como um processo racional eles podem tornar a recessão numa depressão no qual muitos perderiam. O colapso econômico dos então chamados Tigres Asiáticos em 1998, no oeste da Ásia, fez com que este aspecto fosse destacado pelos mercados num nível muito doloroso.

Do outro lado, mercados produziram o que são chamados de “exteriorizações”. Há uma conseqüência social incompreensível dos mercados que são arrumados para contribuir perseguições individuais de utilidades e, o mais importante, lucro. Para entender melhor então, na perseguição do lucro há importantes coisas capitalistas que têm efeitos importantes, mas esses capitalistas não se importam – não podem se importar - porque esses efeitos não alteram as suas linhas de princípio. Algumas exteriorizações podem ser positivas, tais como quando corporações constroem lindos escritórios e fábricas. Eles não recebem material beneficente daqueles da comunidade que gostam de olhar para esta estrutura, mas a comunidade claramente ganha com isto (empregos, construções). Muitas exteriorizações são negativas, no entanto, assim como a poluição do ar. Além das regras públicas que interferem no mercado, não há incentivos dentro dele para que mostre este problema. Como exemplos extremos deste fenômeno, é preciso somente uma viagem para cidades como Santiago, no Chile ou Nova Delhi, na Índia, onde mercados sem regulação afetam a qualidade do ar, e onde a solução encontrada pelo merco é que os ricos se mudem para áreas com menor taxa de poluição e de alto preço.

O sistema de mídia produz exteriorizações limpas. No lado positivo, a mídia pode produzir efeitos cívicos e educacionais através de suas operações, também os benefícios não serão apenas para os donos de mídia. O lado negativo está muito bem catalogado. Na sua perseguição do lucro, as firmas de mídia produzem grande quantidade de passagens de violência, submetendo as crianças a um sistema comercial de bombardeamento, e produzem um jornalismo que dificilmente atinge a expectativa do cidadão. Os custos dos efeitos da mídia honesta nascem de toda a sociedade. As regras para se fazer uma mídia democrática, então, deveriam sistematicamente tentar criar um sistema que produz um maior número de exteriorizações positivas e um menor número de exteriorizações negativas.

Ainda as exteriorizações da mídia não são um resultado simples de mercado; eles também são resultado de como o mercado interage com as novas tecnologias, ou através das tecnologias. No caso da televisão, por exemplo – desconsiderando o conteúdo por si – quando se torna dominante, ela mudou o jeito das pessoas se socializarem e interagirem. Liderou para melhorar ou (no meu ponto de vista) para piorar, porque teve a maior isolação social. Todas as tecnologias de comunicação tiveram seus efeitos incompreendidos ou atrasados e uma função na feitura das regras ou das leis é compreendê-los, então nós podemos evitar ou minimizar aquelas que são indesejáveis. A digitalização e a computadorização da nossa sociedade estão nos transformando radicalmente, ainda mesmo aquelas que são muito associadas com estes desenvolvimentos expressam preocupações sobre a possibilidade de uma severa deteorização da experiência humana como resultado da revolução da informação. Como um observador percebe, “Muitos poucos de nós – e somente os que estão no topo – realmente compreendem as novas tecnologias, e estes são certamente as pessoas mais desqualificadas para fazerem as leis e tomarem decisões a respeito delas” (Charbeneau, 1995:28-29).

Para todo aquele argumento execrando a “comunidade virtual” e os aspectos libertadores do espaço cibernético, me parece um pouco possível alcançar uma distopia, ou como menor dos problemas, conclusões. Isto é tão maravilhoso ou necessário que precise estar ligado às redes de comunicações o tempo todo? É tão maravilhoso estar no ambiente das ruas da cidade onde todo mundo fala em pequenos telefones celulares? Ficar sentado na frente de um computador ou uma televisão digital por horas e horas por dia é realmente uma coisa muito legal ou ótima para humanos fazerem, a menos que isto seja interativo? Por que não olhar a Web como um processo que encoraja a isolação, atomização e marginalização de pessoas na sociedade? De fato, não pode a habilidade das pessoas de criar sua própria comunidade num espaço cibernético ter um efeito de criar uma comunidade num senso geral? Em uma classe estratificada, numa sociedade comercialmente orientada como nos Estados Unidos, não pode um canal de informação ter um efeito de simplesmente fazer isto possível para manter o equilíbrio da sociedade como um todo? Estes são precisamente os tipos de questões que precisam ser endereçadas e respondidas na forma da lei de comunicação, e precisamente os tipos de pergunta nas quais o mercado não tem interesse. Nós devemos olhar – e pensar – antes de pularmos.



NOTAS DO AUTOR


1 Para a discussão dos novos lares dotados de conexões, ver Schonfelf (1998).
2 Para a discussão da necessidade de eliminar a competição, ver Engler (1995) e Sweezy (1981) especialmente o capítulo 2, apêndice B, “Competition and Monopoly”.

McCheney, Robert (2000). So much for the magic of technology and the free market In: Andrew Herman & Thomas Swiss (Eds), The world wide web and contemporary cultural theory. (pp. 5-16). New York, NY : Routledge. Tradução: Rodrigo de Oliveira. Co-tradução: Thais Sardá








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