A revolução microcibernética e a dialética da ignorância

Jerome R. Ravetz


Que tipo de revolução está ocorrendo na microcibernética? Como isso afeta a economia, o político-social e a consciência? Quem está no controle, se alguém está? Ou isso está num estado fugaz? Quais são as implicações para o nosso próprio entendimento sobre nossas criações, para saber e controlar nosso futuro?

Desde que se anunciou há vários séculos a idéia de um 'progresso', que devesse ser realizado no mundo secular, este sobreviveu aos desgastes. Mas nas décadas mais recentes se tornou impossível sustentar a confiança que nosso sistema de produção material será necessariamente benéfico para a humanidade. Primeiro enfrentamos o prospecto do colapso da civilização resultante da guerra termonuclear, que poderia ser causada facilmente por acidente ou mal-entendido. Como essa linha atrofiou, o 'meio-ambiente' tornou-se saliente, já que causas e efeitos são indiscerníveis e desconhecidos, e não é fácil ter certeza de que algum remédio será suficiente ou mesmo relevante. Em ambos os casos podemos ver uma íntima mas não harmoniosa mistura de conhecimento e ignorância. O conhecimento está no lado técnico e a ignorância está no lado social e ambiental. Nesses casos o pesado e objetivo conhecimento das ciências naturais não consegue fazer sua tradicional função como um papel-modelo de ciência humana para o leve, subjetivo e social. Até certo ponto, podemos ver que a aplicação do conhecimento pesado, carregado na ignorância do seu contexto, criou possibilidades de autodestruição naquele sistema de sociedade total que o tem no núcleo.

Esse pano de fundo nos prepara para uma revisão da revolução microcibernética. Aqui as ameaças, se é que existem, não são tanto no plano da pura destruição física quanto no reino sócio-cultural. A identificação de causas e efeitos é cada vez mais difícil. E a taxa de mudança técnica é tão grande quanto os efeitos sócio-culturais irão estar particularmente complicados e também completamente diverso entre culturas nacionais a diferentes estágios de penetração das novas tecnologias. Nesse estágio nós só conseguimos identificar alguns esboços gerais do processo e considerar quão melhor pensar sobre isso e sobre nós mesmos nesta relação. Isso não é uma posição confortável para começar um diálogo entre esses que continuam tendo o destino iluminado na possibilidade de efetivar intervenções planejadas em casos sociais. Mas o reconhecimento da nossa impotência junto com nossa ignorância pode pelo menos nos prover uma abertura para um entendimento sobre nós mesmos em relação às nossas criações.

Que tipo de Revolução?

Desigual a qualquer outra civilização conhecida para nós, a Europa durante o milênio anterior em particular, parece caracterizada por freqüentes mudanças drásticas na variedade de reinos de experiências. O contraste com o Oriente 'sem eras' é indubitavelmente exagerado, mas parece ser devido à qualidade da profunda e irreversível mudança na história européia, que não é combinado com outro lugar. Embora nossos termos herdados dessa confusão pressupõem uma cíclica concepção do processo ('re-nascimento', 're-forma', 're-volução'), as idéias de 'o moderno' e mais recentemente de 'progresso' importaram a suposição que a mudança é unidirecional, irreversível e essencialmente boa.

Como exemplos desse tipo de transformação de época, nós podemos pegar os eventos originais descritos como renascimento e reforma, por meio de que a Idade Média estava acabado. Embora a anterior era em maioria um caso da elite cultural e a segunda de várias formas um movimento de massa, eles tiveram algumas similaridades estruturais. Em cada caso estava a rejeição da venda por atacado do intelectual e/ou das estruturas institucionais que antes tinham sido tomadas como garantia como únicas possíveis, certamente as únicas concebíveis, únicas. Após batalhas pontuais, envolvendo idéias e em alguns momentos também a força, uma nova realidade foi estabelecida, na qual a antiga ordem estava ou suprimida completamente, ou sobrevivendo ao preço de pegar alguns atributos essenciais do seu antagonista. Desta maneira o aprendizado 'escolástico' que era o alvo do renascimento entrou em declínio e caiu no final do séc. XIII, e no ressentimento de tentativas sérias de reviver (século XVI e mais tarde no séc. XIX), isso sobreviveu somente nas distantes margens da 'república das letras', que o substituiu. Na Reforma, as doutrinas da formal Igreja Universal vieram dentro do descrédito assim como sua organização, heresia se tornou cisma, e cada tendência dissidente consolidou poder ao redor da suas próprias doutrinas e estruturas. Só através de sua 'contra'-reforma a Igreja Católica pode sobreviver e manter seu poder em parte do seu domínio anterior. Europa estava então separada, por séculos até o presente, ao longo de linhas de estilo em religião, pensamento, economia e sociedade.

Na Europa moderna, 'revoluções' começaram com o radical e implausível pensamento teórico de Copérnico. Seu grande livro astronômico era sobre o movimento cíclico dos corpos celestes (agora incluindo a Terra), mas depois o filósofo Kant referiu à "revolução Copérnica" num novo senso. Então históricos e publicistas acharam revoluções ao redor, no presente e no passado; a 'Revolução Industrial' transformou o significado da produção material e deu ascensão a sociedade urbana; e a 'Revolução Científica' de dois séculos antes foi associado com o conhecimento positivo e a visão de mundo que distinga a Europa moderna definitivamente de todas outras culturas. Mais recentemente, 'revolução' indica a superação de alguma estrutura existente, provavelmente com o uso da força e violência (como, notoriamente, na Rússia em 1917); e essa conotação está presente até mesmo no conceito filosófico de 'revolução científica' avançado por Thomas Kuhn.

O que aconteceu com todos essas diversas revoluções? O termo virou só mais um rótulo multi-finalidade? Esse uso realmente nos diz algo sobre um particular processo de mudança? Em relação aos microeletrônicos, faz o presente rápido e, mudando constantemente acelerado, constitui uma revolução? E se sim, quais são as descontinuidades, quais estruturas serão destruídas, e que tipo de novos sistemas irão emergir?

Para responder essas questões, nós precisamos distinguir os diferentes tipos de níveis que essas várias revoluções podem ocorrer. Algumas são focadas na produção material; assim como nós temos a revolução "Neolítica" ou "Agricultural" identificadas pelos arqueólogos, quando alguns tipos de seres humanos adotaram o tipo de existência estabelecida no grande e altamente estruturado rio-vale no qual civilizações emergiram. Perto deles estão as mudanças radicais nos sistemas sociais, que nós geralmente entendemos, hoje em dia, como 'revoluções'. Tais mudanças geralmente precisam de uma preparação através das revoluções em idéias, avançadas pelos intelectuais e facilmente escrito por escolares em retrospecto. Mas há também revoluções na consciência, como a experiência vivida de (alguma significante fração de) trocas humanas, e o que foi anteriormente real e valioso ao moldar a vida das pessoas não o faz mais. Em relação ao último conceito, nós também podemos mencionar a idéia de uma 'geração', avançada pelo historiador e filósofo espanhol Ortega Y Gassett¹; isso é um grupo de pessoas, que nasceram com diferença de uma década ou mais, mas principalmente que vieram a um mundo marcado por alguma grande experiência, como a Grande Guerra, a Depressão ou os anos 60.

Nos dias em que a história estava amplamente acreditando ser a ciência que explica os casos humanos, estava na tentativa de achar relações causais entre os movimentos aos seus diferentes níveis, às vezes através da escolha de um como o 'fundamental' e os outros como derivados. Agora nós tendemos a ser mais modestos e estamos satisfeitos se conseguirmos achar conexões iluminadoras entre eles. Nós também estamos bem cientes que todos esses termos são mais bem vistos como vias de organizar nossas percepções e idéias, um tanto quanto descrever cientificamente objetos testados existentes em algum caminho 'fora daqui'.

Revolução a que níveis?

Deixe-nos ir através de vários níveis que indicamos, e veja como a microcibernética pontua em cada um deles. Ao nível da produção de coisas materiais, nós podemos ver processos de evolução, cada vez mais rápidos, que irão eventualmente modificar tudo que nós temos feito, mas que não parecem 'revolucionar' tudo logo. Será certamente constante, progressivo deslocamento de trabalho humano, já que variações de habilidades coordenadas e julgamentos são imitados de modo mais efetivo e barato por computadores. Fábricas do futuro irão ter cada vez menos empregados, mas continuarão sendo fábricas; e o mesmo pode ser dito das lojas e escritórios. Fazendas poderão ser completamente transformadas, se a engenharia genética iniciar o uso de substratos mais baratos que o espalhado solo natural. Mas em geral, nós podemos imaginar uma evolução na tecnologia como num transporte pessoal, de carruagens puxadas por cavalos, passando por carruagens sem cavalos para automóveis. Esse exemplo serve como um lembrete que embora exista uma continuidade na forma e na função da cópia para cópia de cada tipo de dispositivo (para qual uma história evolucionária de design pode ser facilmente feita), os efeitos sociais da tecnologia envolvida como um inteiro pode ser drástico. Isso é claro no caso do universalmente propagado automóvel privado, tanto que nós podemos falar de uma transformação, mesmo uma revolução, desse particular aspecto de vida. Isso é um exemplo instrutivo, já que nenhuma profecia futurística da virada desse século acabou por se tornar real.

Existe, no entanto, outro padrão mais radical no desenvolvimento de tecnologia, um bom exemplo cujo é a eletricidade. Isso tem sido tradicionalmente um pequeno fenômeno ímpar de atrações pertencente à mágica natural, mas isso gradualmente se tornou assimilado pela ciência, e através do século XIX recebeu coerência teórica tanto quanto aumento da aplicação prática. Então eletrotecnologia, dentro dos seus dois papéis como um significado da transferência de energia e também da transferência de informação, começa a cumprir coisas que antes eram difíceis ou inimagináveis. O ofício produtivo tradicional não foi meramente deslocado, como antes na Revolução Industrial na técnica de manufatura e organização; foi rendido a irrelevante, como em absoluto novas coisas e processos estão por vir. Rádio e mais tarde a televisão fizeram mais do que facilitar o envio de mensagens; eles se tornaram poderosos instrumentos de difusão e formação de cultura.

Se nós estamos procurando por aspectos revolucionários da microeletrônica, nós conseqüentemente faríamos melhor ao ver eles emergindo criticamente na tecnologia da informação do que em processos produtivos em geral. Essa escolha aciona a conexão a ser feita sem dificuldade a outro nível que essas revoluções podem ser feitas: a da consciência. Isso irá se manifestar em todas formas, tanto nas materiais em que a informação personificada se torna menos sólida, mais flexível, quanto na 'etérea'. Por ora irá certamente surgir um estimulante senso de poder para todos aqueles que se deram conta dessas tecnologias na vida adulta e são competentes nelas; tanta coisa acessível, tanta coisa pode ser procurada e localizada num piscar de olhos; tanta, mas tanta coisa, que alguém pode realmente experimentar surfar pela World Wide Web. Tal fluidez não é só na experiência; os materiais por si perdem a permanência do papel marcado; não meramente fazem diferentes versões de um fluxo de texto em outro, mas o sobrevivente de versões particulares, dependente como são no complexo e perpetualizando obsoletos sistemas do hardware e software interativo, tornando-se problemático numa escala de tempo uniforme de décadas.

Nós estamos agora numa geração de transição com microeletrônica; antes, existia um pavor sobre máquinas 'mais rápidas que o pensamento' que geralmente eram cuidadas pelos mestres de habilidades esotéricas que acreditavam serem elas infalíveis.Agora elas foram domesticadas em grande escala, e nós assistimos elas ficarem mais baratas, rápidas, mais pedrosas e pequenas, assim como mais falíveis, sem finalidade aparente. Mas difícil em nossos saltos é outra geração, para qual não existe maravilha, mas uma tomada para poder garantido para criar padrões e sensações; isso inclui uma grande seção, principalmente masculina, dos jovens das afluentes salas de aulas em todo mundo. Em relação à revolução nascente de instrumentos e técnicas, eles são a primeira geração descendente disso. Talvez, eventualmente, eles irão se achar maravilhando as facilidades de seus próprios filhos, não habitando outro novo mundo de ainda mais poder em manipulação de estruturas e imagens.

Essa mudança na consciência será uma Boa Coisa? Na má-vontade dessa superfície da banalidade, essa questão vem depois de tudo que nos interessa. E nessa área como nas outras, é tão fácil construir um caso coercivo em qualquer lado da questão. Por exemplo, o aumento de e-mails abre todo tipo de possibilidades para ações de pessoas para educação mútua e começarem uma campanha; mas simultaneamente isso aciona a fragmentação da sociedade em grupos isolados em que os membros se comunicam significativamente só um com o outro. O Estado-nação está enfraquecido por essa expansão do populismo eletrônico, assim constituintes podem mobilizar instantaneamente e inundar legisladores com suas opiniões [2]. Além disso, negócios transnacionais agora operam ao redor do mundo em tempo real, deixando governantes de algumas nações no escanteio. Do outro lado, o estado ganha novos poderes de avaliação (especialmente com ativismo via e-mail) e de controle. Se o mundo Utópico de casas baseadas em 'prosumers'³, atribuído aos Tofflers, tem alguma semelhança com o futuro possível, não há dúvida.

Na esfera da cultura, nós estamos somente no começo da grande transformação de elementos cruciais de ensinar e aprender, por meio de que estudantes irão se beneficiar das enciclopédias, programas interativos criados por professores iluminados e bem apoiados, ao invés de resistir a qualquer um que esteja disponível às vagas de recrutamento, treinamento ou que tenha tempo. Claro que esses programas terão seus próprios custos culturais, tenderão a aumentar as habilidades de manipulação rápida sobre a compreensão detalhada, como também contribuirão furtivamente para o esmaecer a diferença entre imagem e real. Para possibilidade real de uma revolução na consciência nós devemos considerar o mercado de 'lazer', no qual realidades 'virtuais' podem se tornar mais reais, como provedores de estímulos e compromissos, do que as coisas do mundo real.

A grande novidade nessa nova tecnologia é essa operação que chega ao nível da consciência. Isso marca uma principal descontinuidade com as tecnologias dominantes da civilização da Europa moderna, que cresceu numa época histórica da trucagem de consciência, para um degrau que isso é sem precedentes entre todas grandes culturas do mundo. Esse autoconhecimento que caracteriza tantos novos pensamentos correntes, notavelmente pós-modernistas, é extremamente desconfortável, até mesmo ameaçador, para esses que precisam sobreviver em (ou voltar a) alguma estrutura de verdades aprendidas, qualquer que seja a arbitrariedade da escolha pessoal. Para essas pessoas jovens que já vivem num futuro eletrônico em que seus pais estão entre os culturalmente inabilitados, suas competências superiores e consciência podem ser um tipo de libertação, mas com todos os perigos que acompanham na licença de se tornar livre.

Outra perspectiva no mesmo fenômeno tecnológico revela a manipulação das consciências das pessoas através da tecnologia, não meramente ao nível de idéias e emoções, mas também na experiência vivida. Isso introduz o que é literalmente uma 'falsa consciência' entre essas massas de consumidores, com tendências desconhecidas para desabilita-las cidadãos ou mesmo trabalhadores. Como Niguel Clark argumentou, mesmo 'testar a realidade' precisa ser redefinida, como a experiência de realidade comum do mundo natural que se torna cada vez mais mediado pela alta tecnologia [4]. Isso pode ou não ser culturalmente significante já que tantos jogos de computador evocam símbolos de um passado pagão; mas nós não podemos minimizar a importância da fantasia tecnocratas moldando políticas para indústria e sociedade, elegantemente simbolizado na iniciativa 'Star Wars' do Presidente Reagan, que por pouco não foi trazido à tona pelo atual Líder do Congresso dos EUA.

Poderia continuar com todas esferas da vida, listando características boas e ruins de o que está por vir, a curto e longo prazo.Mas o fato é que nós não sabemos e não podemos saber em detalhe quão essa tecnologia nascente vai interagir com o mundo técnico, social e cultural que estão em processo de transformação. Em geral, nós podemos ao menos dizer que esse grande jogo de bom e mau irá ser mudado, já que as interações ocorrerão ao longo de fronts diferentes. Se nossas próprias características definidoras pessoais de uma boa vida, individuais ou sociais, irão ser afetadas favoravelmente ou desfavoravelmente por tudo isso, não pode ser previsto por um argumento conduzido como um estilo de Escola ortodoxa de prós e contras. Existem algumas tendências que podem ser extrapoladas sem nenhum efeito perturbador aparente, onde conclusões podem ser rascunhadas com alguma definitividade; então temos a tese de George Spencer sobre os efeitos da microcibernética na produção e desemprego. Mas em geral faríamos melhor em poucas predições como avaliações prospectivas estruturais dessa revolução em curso dessa tecnologia central da nossa civilização.

Quem é o "nós" que decide?

Um dos marcos característicos dos fantasistas tecnológicos por eras é sua falta de interesse pelas realidades brutais do uso e controle da tecnologia. O sinal característico de um fantasista é o uso do termo 'nós' para citar esses que não meramente irão se beneficiar, mas que também terão controle sobre a nova tecnologia. Nos dias em que os sofredores com novas tecnologias eram os mesmos privados de imunidade de uma forma ou outra, o otimista inclusivo 'nós' era pelos menos plausível; esses que estavam numa posição de receber a propaganda tinham uma chance justa de aproveitar os benefícios do que a inovação estava promovendo. As coisas são diferentes agora, a tecnologia moderna esmaeceu algumas das divisões de acesso ao poder e a cultura central. Em alguns casos, as vítimas do 'progresso' podem ser socialmente indistinguíveis dos seus perpetuadores. Isso tem sido muito marcado no fenômeno NIMBY ('Não No Meu Pátio'), onde os protestantes locais podem muito bem ser de uma classe social superior aos dos agentes oficiais ou defensores do LULU ('Uso de terra local não querido')*.

No caso da microcibernética, da estrutura de poder, benefício e opressão são tão complexos e mal definidos quanto uma espera poderosa de uma nascente tecnologia revolucionária. Os esforços na internet são um reflexo dessa imagem emergente. Esses que tiveram até agora operado o sistema estão com certeza numa posição privilegiada na sociedade; mas eles são em geral suficientemente embasados para serem hábeis a tomar uma posição pela democracia direta contra qualquer estado ou controle comercial. E esse sistema particular não está encaixado no tipo de indústria onde chefes podem facilmente comandar subordinados a obedecer a ordens ou mesmo puni-los. É sabido que a Internet tem uma estrutura policêntrica obtida no contexto da ameaça da Guerra nuclear; mas a descentralizada, quase anárquica política dos usuários habilidosos no computador fizeram isso dentro de um novo tipo de instituição social, correndo numa etiqueta de iluminação consensual e ética. Nesse caso presente, direção externa explícita irá ser mais difícil de ser imposta do que em qualquer outra tecnologia que nós conhecemos até então, por causa da muito amplamente difusa habilidade de modificar os elementos do sistema ou tirar vantagem dessas estruturas formais. A luta em torno do 'chip de escuta', pretendia prover ao governo dos EUA facilidade para quebrar dentro de qualquer mensagem na Internet, é uma indicação da forma dessas novas políticas. Enquanto o protesto democrático/libertário estava começando, alguém mostrou tecnicamente que o conceito era defeituoso; e o projeto inteiro colapsou.

Nessa área especial da microcibernética, a 'highway' para mensagens contendo informações, poderia ser dito que esse poder dos cidadãos pode certamente ser exercitado num modo democrático. Nisso o 'nós' tem mostrado possuir alguma realidade, e realmente pode ser desenvolvido num eleitorado cada vez mais abrangente através de extensões para internet. Mas as instituições de hardware e software que os fazem disponíveis na internet são tradicionais; Bill Gates da Microsoft nunca fingiu estar administrando uma cooperativa. Além disso, ainda está para ser visto como esses benefícios serão ser compartilhados por grupos que são menos culturalmente privilegiados. Certamente, as economias da transmissão eletrônica irão propiciar aos mais privilegiados das sociedades menos privilegiadas participarem com menos desvantagens na cultura intelectual global. Se as novas tecnologias serão possibilitar os menos privilegiados entre os mais privilegiados se auto-afirmar é outra questão. Se nada mais, entrada ao mundo multimídia agora custa tanto quanto um carro usado.

Além disso, microcibernéticas em casa é parte de uma industria de lazer, este grande e crescente setor das economias das sociedades ainda emergentes. E é no lazer que nós vemos a contradição mencionado por Vivian Sobchack [5], essa contradição entre consumidores e cidadãos. Não é que ser um consumidor seja necessariamente um estado mau ou degradado; nós somos todos consumidores, pouca ou boa parte do tempo. Mas visto que um cidadão debate sobre políticas, um consumidor pode não mais do que escolher entre produtos. Uma nação de consumidores é uma nação sem debate, onde questões são escondidas atrás da disposição dos produtos e a propaganda deles. Desde a perseguição do lazer oferecida pelo aumento microcibernético começou a ficar artificial, realidades comercializadas cada vez mais se tornaram mais vivas que as que existem fora delas, a contradição entre cidadãos inseridos eletronicamente e consumidores inseridos eletronicamente virá a tona em algum momento.

Meu interesse aqui não é descobrir uma balança entre aspectos 'positivo' e 'negativo desses novos produtos, mas só pontuar certas características estruturais desse novo mercado. Primeiro, isso está muito enviesado na estrutura, com algumas mega-empresas; e para elas o lucro e poder são enormes. Claro, jogos de computador são só o começo de uma multifacetada indústria do lazer que logo será provida de fibras óticas. Nós podemos esperar que fiquem cada vez mais sofisticados, realistas (como 'A Família' em Fahrenheit 451 [6]) e também iluminados de várias formas. E será indubitável uma grande indústria em 'info-' ou 'edu-tretenimento', suplantando e talvez mesmo substituindo métodos tradicionais de comunicar informações úteis e habilidades. As polaridades relevantes estão na dimensão social e individual: para o individual, se a nova mídia amplia atividade e consciência ou adota passividade e fantasia; e ao nível social, se elas liderará para a cidadania ou consumismo. Seria uma ingenuidade acreditar nas 'boas' polaridades juntas; assim já foi observado que quadros de boletins podem levar ao racha da sociedade em discretos grupos isolados mutuamente; e o aumento de pornografia feita em casa numa escala de massa já é conhecido por ter grande importância no sucesso do sistema francês Minitel.

Então se nós estamos pensando sobre 'nós' em conexão com microcibernética, nossa imagem poderia ser tanto a Internet harmoniosamente anarquista ou o Nintendo aditivo e fantasista ou ainda a Microsoft que irá prover possibilidade para qualquer um desde que a pague. Uma tarefa para nós é ver qual combinação desses símbolos está se tornando efetivo, em quais áreas, como a tecnologia que envolve.

Microcibernéticos: Uma tecnologia fugaz

De algumas formas essa é a idade do controle social da tecnologia. Cada vez mais implicações ambientais, éticas e sociais do desenvolvimento industrial e tecnológico, e também de pesquisa, são minimamente examinados em público. A respeito disso, existe mais controle democrático sobre todo sistema científico do que nunca, não só na prática como também no princípio. Esse exame minucioso é feito por agências e indivíduos de fora da comunidade responsável pelo trabalho, mesmo incluindo alguns daqueles que anunciaram hostilidade a ele. Cada vez mais, painéis de cidadãos, modelados em júris, se reúnem para julgar tecnologias, e suas opiniões têm peso moral e político comparável com as pessoas que atualmente sabem algo sobre o fluxo da sua própria experiência de trabalho. Tais forças externas podem influenciar agora o tipo de trabalho que está pronto em várias áreas sensíveis; Já que o Greenpeace está patrocinando o desenvolvimento de um refrigerador ecológico, ou ativistas ingleses pelos direitos dos animais estão ganhando poder para afetar o estilo e economia do estoque da produção animal, o poder dos movimentos éticos e ambientalistas para mudar políticas e consciência não deve ser subestimado.

Claro que a extensão da influência externa depende de vários fatores em especial, incluindo a vulnerabilidade da indústria e o grau de despertar da consciência popular. Esse poder nuclear civil pode ser um paradigma para uma indústria que destrói ela mesma em níveis ambientais. A euforia e arrogância dos líderes anteriores da indústria, que levou posteriormente à desilusão popular, custou assolamento e eventualmente acidentes, tornando-o politicamente vulnerável. E então suas dependências em algumas instalações muito grandes, cada uma tomando um longo tempo para ser construída (e sujeita a problemas massivos de custo e confiabilidade), tornaram isso um alvo fácil para protestos de qualquer tipo. Oponentes precisaram somente prevenir um pequeno número de projetos de tornarem-se reais para a indústria experenciar a paralisia e entrar em declínio. O único caso mais fácil de uma tecnologia arrasada foi o transporte aéreo supersônico, que sobreviveu agora como algumas cópias de aeronaves, sobrevivendo como um exercício tecnológico brilhante que se tornou fruto muito tarde dentro da era do meio ambiente.

Com esse fundo, seria razoável acreditar que alguns graus de controle social da microcibernética podem ser alcançadas. Certamente, a independência e integridade da Net têm sido lutas, com sucesso até agora, contra a intrusão do comércio e estado. Mas o alcance do efetivo controle social de qualquer tipo significante nessa nova tecnologia parece ser um desafio que já está perdido. Poder civil nuclear era um caso fácil; biotecnologia um intermediário. Aqui, oposição militante constrangeu desenvolvimentos em alguns países, notavelmente na Alemanha; mas até então o efeito principal tem sido recolocar o R&D* em outro lugar. Existe, de qualquer forma, uma supervisão geral dos aspectos mais sensíveis das novas tecnologias, tanto no âmbito ético (no caso da engenharia de reprodução humana) quanto no do meio-ambiente. O grau que isso pode ser efetivo é uma questão aberta, particularmente desde que não há prospecto de alcance de acordos internacionais de regulamentação.

As dificuldades de qualquer regulamentação possível das microcibernéticas são mostradas por aqueles que já experenciaram isso com a biotecnologia. Os dispositivos por si só não são atualmente alvos fáceis para identificação e possível ataque, como no caso do poder nuclear. Sem dúvida, eles estão por todo lugar, e nós dependemos deles de formas além do que conhecemos. Além do mais, nenhum produto está no mercado a menos que alguém tire benefício disso; e aqui a situação é análoga a engenharia biomédica, onde qualquer técnica, não importa quão bizarra em aspectos humanos ou éticos, pode ser defendido como que traz felicidade a alguém. Para ter certeza, vulgaridades culturais podem ser reguladas em alguma extensão para a proteção das minorias; mas dando a facilidade com os quais os produtos podem ser difundidos, mesmo que aqui a imposição pudesse ser problemática. Pior ainda, não há questão definível onde efeito, causa e remédio podem ser apresentados num pacote plausível para a mobilização popular. Mesmo na questão de destruição de trabalhos, não há caminho no qual uma linha possa ser desenhada definindo os limites do desenvolvimento.

Mesmo se alguém definir uma linha e proponha começar uma campanha, eles poderão se achar confrontando indivíduos que comandam vastos recursos, e com reputações de não ter piedade mesmo quando tratando com seus colegas. Então dessa forma nós estamos nos dirigindo para um aparente paradoxo nos problemas de controle dessa tecnologia que em tudo permeia. Enquanto uma mão distribui competência e poder político para um grande número de pessoas, como um inteiro a tecnologia tem uma resistência ao controle social por si só. Além disso, a tecnologia se empresta para a vigilância, não de cidadãos, mas de consumidores, possibilitando uma resposta rápida para desejos de massa que podem eventualmente ajudar a desviar reconhecimento das necessidades sociais. Entre a identificação individualizada das pessoas, locais através de sensores remotos, talvez mesmo a implantação de dispositivos em humanos, e a transferência de tanto poder e informação para organizações privadas [7], isso é fácil para imaginar um retorno de 1984 no qual isso irá não necessariamente para o Partido Interno para criar guerra permanente e pobreza artificial para a manutenção da estabilidade social. O prospecto desestabilizador é essa oposição à ditadura consumista microcibernética que irá então achar somente nos fanáticos que estão contentes em destruir sem tentar dialogar. E a tecnologia microcibernética é particularmente vulnerável justamente a esse tipo de oposição; como nós já vimos, hackers geralmente só são pegos quando se tornam arrogantes; e um determinado grupo de niilistas computólogos, presenteados com paciência e habilidade, podem agora até se esconder dentro do sistema, plantando seus bugs, worms e bombas. A resposta do estado para essas linhas é inevitável: o maquinário de vigilância e controle pode ser disposto todo ao redor do inimigo invisível. Então nós podemos encontrar uma contradição política: pode um regime ser consistente com o tipo de diversidade e inovação que é necessário para o crescimento e mesmo manutenção da altamente sofisticada tecnologia de hard- e soft-ware fundamental para microcibernética? O exemplo dos países socialistas, privados de inovações até mesmo para bens de consumo, não é um precedente completo, mas isso nos dá um exemplo da estagnação e finalmente colapso no interesse da burocracia e estabilidade social.

Isso poderia ser uma predição sombria e muito alarmante que iria estimular alguns que já experienciaram da luta pela Net que começariam agora a definir tarefas e estratégias para o controle social bem distribuído. Mas eu não posso imaginar agora que questões a cerca dessa luta poderiam ser efetivamente organizadas; e neste tópico eu tenho tudo a aprender. Mas na ausência disso como movimento, nós temos a situação que a tecnologia é realmente um estado fugaz. Se nossa sociedade irá sobreviver a esses impactos no emprego, e nossa cultura irá sobreviver aos impactos na consciência, parece que esse ponto depende mais da sorte do que do design. Essa linha corre em paralelo a aquela da destruição do meio-ambiente pela nossa tecnologia material; mas aqui ao menos algumas coisas (talvez não as mais efetivas) estão sendo feitas, muito embora possa ser tarde demais. Nesse caso, a questão 'o que é pra ser feito?' se apresenta somente em branco.

Uma nova Perspectiva no Progresso

Um útil texto é o logo do (American) Policy Studies Association, no qual há três anéis chamados 'causa', 'efeito' e 'política'. A mensagem disso parece ser que nós podemos ir de efeitos percebidos para suas causas verificadas, e, desse modo, desenhar políticas apropriadas [8] Isso é uma expressão elegante do destino Iluminado no poder prático da razão científica, um destino no qual um eventual produto tem sido a microcibernética. Claro, que nesse período fin de millènaire, o caráter refratário das instituições sociais e sociedades é bem indiscreto, e causas reais levando as políticas sociais efetivas não são fáceis de serem discernidas. Isso é já reconhecido como uma questão aberta, se nossa civilização material está danificada irreparavelmente em sua matriz no meio-ambiente natural global; e nós não podemos mesmo ter certeza que nós estamos salvos de uma aleijante guerra nuclear. Agora encontramos outra questão aberta, que é se o estresse social e cultural e instabilidades induzidas pela microcibernética irão ser tantas para nossas instituições herdadas para agüentar com elas. Trazer essas questões à tona não é condenar nossa civilização, dizer que deveremos voltar atrás para algum tempo melhor, ou que nós deveríamos ou poderíamos tomar outro curso de desenvolvimento. É bem sabido que grandes civilizações ascenderam e decaíram no passado, em grande variedade de padrões e talvez através de uma grande variedade de causas. Se nós nos posicionarmos de fora e ver numa perspectiva de milênios, nós podemos apreciar esses alcances ímpares como um grande experimento na visão de mundo e sociedade. Nós podemos tentar identificar esses efeitos possíveis da microcibernética que ajudarão a integrar nossas vidas e lançar energias criativas. Mas nós podemos também tentar identificar essas contradições que poderiam exaurir e dissipar essas energias criativas e mover na direção do declínio.

O que nós estamos considerando aqui não é algo que terá um impacto totalmente destrutivo ao nível material, e também nós podemos esperar alguma interação das tendências integrantes e destrutivas, as harmonias e contradições, no sistema social totalitário como isso se adapta a essa nova tecnologia. Nós podemos primeiramente considerar as tendências integrantes. Essas são a principal na área da experiência vivida e também são mais difíceis de relatar como questões de poder e controle. Para entender isso, nosso guia é McLuhan, 'a mídia é a mensagem'; não que o conteúdo cognitivo seja relevante, mas o estilo de apresentação se torna uma parte integral do que é convencionado.

Com multimídia interativa, nós podemos esperar que a tradicional hegemonia da linha isolada de texto como significados de instrução será corroído; a linha não irá só folhear conforme a vontade do observador participante; irá ser reforçada por figuras coloridas, paradas ou móveis, e falando palavras e música também. Nós podemos imaginar razoavelmente como essa tecnologia irá transformar as possibilidades da comunicação e criatividade para quem a sensibilidade está mais para um lado anestésico do que cognitivo. (Isso irá também ajudar muitos a vencer o desafio de uma ou outra forma de incapacidade) Indo além, nós podemos imaginar para crianças pelo menos a velha distinção entre trabalho e jogo, como poderes da criatividade inerentes na tecnologia fazer de cada lição uma aventura. Além, com grande engajamento provido pelos equipamentos, mesmo o conteúdo tradicional da educação formal, anteriormente aprendido por um roteiro entediante (e por isso acessível somente para quem persistisse), pode agora se tornar jogos. Minha própria fantasia privada é que muito dos ensinamentos padrões mesmo em nível universitário podem ser deixados para máquinas, e estudantes podem então explorar o lado humano disso tudo - história, literatura, filosofia, o que seja - tanto com equipamento multimídia quanto com um professor.

Tudo isso está começando a acontecer agora; e nós podemos ver isso se espalhando logo em dois tipos de meios privilegiados de aprendizagem: entre os que continuam em vantagem e entre os que estão tendo uma especial compensação por estarem em desvantagem. Nós podemos esperar que essa iluminação da educação (e agora não restringida a jovens) pode difundir a toda sociedade se ela está com problemas de estruturais de desemprego e destruição massiva de valores humanos em conseqüência? Para escapar desse fato, nossa sociedade precisaria transformar seus valores, então esses que estão desempregados continuariam a ser cidadãos valorizados, muito embora não seriam efetivamente consumidores. É possível que essa distinção poderia ser esmaecida de alguma forma, como o 'trabalho-em-casa' e trabalhando nos contratos se tornando cada vez mais um novo modo, de novo dependendo das novas tecnologias. Então a distinção entre ter um trabalho e não ter seria subtraída em absoluto. E esses com mais lazer ocasional e menos dinheiro poderiam ser habilitados a fazer uso da economia dessa mídia (comparada aos livros) para sua educação e comunicação. De qualquer forma, alguém poderia imaginar tendências de integração, trabalho atravessando barreiras de sensibilidade, idade, estilo de vida e renda.

Essa visão otimista depende mais de cidadãos com visão do que de consumidores na sociedade microcibernética. Agora nós precisamos focar no lado escuro do consumismo. Embora economistas geralmente fiquem num estado de ignorância cheia de felicidade nesse caso (e em tantos outros), não é mais possível sustentar essa suposição que esse consumo do setor privado é essencialmente de 'bondosos', e que alguns associados 'maldosos' são necessariamente externos à transação. O setor extralegal dos negócios é importante nas economias de muitas nações, e mesmo (em ocasiões) de algumas agências governamentais. Uma significante proporção de consumo pessoal é as 'drogas', que requerem algum tipo de regulamentação, passando por açúcar e cafeína (desregulamentados) passando pelo tabaco e álcool, e esses que são declarados ilegais em alguns, na maioria ou todos lugares. Extendendo essa idéia aos serviços, nós temos complexado e contestado áreas como sexo comercial (tanto na sua prática ilegal quanto na promoção legal) e até mesmo o turismo. Até mesmo nossas dietas são criticadas, tanto pelo seu efeito na nutrição individual quanto no seu impacto coletivo no eco-sistema (como na legendária destruição de florestas tropicais para a causa dos hambúrgueres). De novo, isso é só pra tornar explícito o que era isso em prática hoje em dia; historiadores sabem desses últimos sucessos de marketing de massa nos EUA incluindo empreendimentos com marketing nonsense (Proctor & Gamble com seu sabonete Ivory, "Isso flutua") ou com drogas (Cigarros Duke) [9]. Por essa razão nós temos bons precedentes para procurar no inteiramente legal e de produtos desejáveis de várias formas que são começam a serem oferecidos para consumidores na nova microcibernética, e para dizer a verdade, 'muito disso é entorpecente'.

Existe uma boa fundamentação empírica para as críticas de partes dessa nova faixa de produtos ser entorpecentes dado que tantas das propagandas para novos jogos de computador os anunciam como sendo 'viciante'. Para quem não está familiarizado com essa literatura, um típico exemplo segue. Um artigo sobre um novo jogo que um jornal de negócios apreciou antes: "Após 15 minutos, ... eu estava preso." Mas depois vem o comentário negativo: "Além, o ponto realmente vendável sobre Heretic - seu realismo - me deixa com dor de cabeça. Literalmente. Você pode se perder tanto no jogo que começa a ficar tonto só de seguir seu personagem descendo através de passagens tortas e corredores ventando. Finalmente olhando pra cima, você estará petrificado para perceber que perdeu as últimas três horas estrelando na tela, apertando botões ou mexendo seus joystick. Só lembre de fazer uma pausa para voltar ao mundo real por um momento. Em tudo, embora, Heretic vale a pena sob o preço de 40 dólares." O autor não se incomodou de lembrar-nos que seus filhos podem entrar nisso sem custos extras e compartilhar a experiência especialmente absorvente. Eles podem reclamar depois para seus professores que eles estão desabilitados para manter uma atenção efetiva nos materiais que são menos provocantes, e então precisarem de um edu-tretenimento se eles estão ali pra aprender alguma coisa [10]. Pondo o ponto no vernáculo, nós podemos algum dia olhar pra trás com nostalgia, para quando a pior coisa que poderia acontecer a uma pessoa era estar no sofá comendo batatas, onde pelo menos ela poderia apertar o botão mudo quando alguém falar com ela.

Tendo esses consumidores que se tornar trabalhadores, nós podemos esperar uma maior sutileza contraditória ao presente. Isso foi trabalhado antes, nesse século, em The Machine Stopped por E.M. Forster 11. É sobre o colapso do controle de qualidade na sociedade de alta tecnologia; eventualmente a máquina destrói a si mesma. Nos nossos termos presentes, nós podemos dizer que a garantia de qualidade requer algo acima e além do consumismo, chamada cidadania. Isso tem sido expressado mais claramente nas campanhas pela qualidade na indústria japonesa; lá os trabalhadores são lembrados que é seu dever parar a linha se ocorrerem defeitos. Claro que há riscos de vitimização se superiores não querem saber; e então a qualidade efetiva assegurada requer um comprometimento moral acima da linha, uma política real compromissada com a excelência na organização. Isso também requer competência de um tipo modelado há muito tempo; eu estive discutindo isso onde tem mais em conexão com o estilo 'clássico' de trabalho e arte, distinto do 'moderno' e 'pós-moderno' [12]. A destruição da garantia pode ser vista como uma contradição de qualquer sociedade consumista [13], e particularmente de uma onde a consciência dos consumidores tem sido tão cortada desgovernadamente da realidade. Sem garantia de qualidade a base tecnológica de toda cultura irá certamente degradar e talvez colapsar. Quanto mais sofisticado o sistema tecnológico, mais dependente crítico é da qualidade do seu software e hardware, menor a possibilidade de 'degradar gentilmente' e mover para um mais lento, mas ainda efetivo nível de performance. É impossível medir a extensão em que isso já ocorreu. Indubitavelmente, embora atualmente todos hardwares e a maioria dos softwares funcionem bem, a falha catastrófica de muitos grandes projetos de software tem sido noticiada [14]; e agora nós descobrimos que em alguns casos chips ou programas simples não podem ser confiáveis até mesmo para simples aritmética [15].

Finalmente, nós precisamos considerar a possibilidade de sabotagem e terrorismo como provendo a única saída para dissidentes se expressarem. Pode-se imaginar uma sociedade na qual as tendências divisivas do presente são extrapoladas; onde aqueles com mais dinheiro aproveitarão os liberadores benefícios culturais da microcibernética; aqueles com menos podem ainda usar isso para educação e organização; enquanto os que não tem nada são mais cruelmente excluídos de um mundo brilhante e vêem tudo ao se redor como no presente. Essas divisões podem persistir por algum tempo, então teremos novas gerações (no senso técnico), alguma experiência cada vez mais intoxicada de poderes e outras experiências cada vez mais profundamente desesperançosas, então a vulnerabilidade da microcibernética para penetração profunda pode se tornar uma franqueza crítica de todo sistema social e técnico. Exclusão de secreta malevolência depende de vigilância constante, que requer um alerta e uma força-tarefa comprometida; mas isso é só o que está em risco no novo consumismo viciante. Esses novos protestos não precisarão sentar em rodovias, ou em fábricas explosivas; sua satisfação pode ser um segredo como suas façanhas são, através de domínios específicos do sistema, eles gradualmente e progressivamente desligam o núcleo central. Talvez o sistema inteiro irá responder se tornando tão policêntrico como a Internet; mas então aquilo que deveria envolver uma correspondente difusão de poder ficaria, nesse momento da história, sem nenhuma agenda.

Conclusão

Estudantes do 'futuro' tem recentemente aprendido uma importante lição: o futuro não parece ser composto de elementos obtidos pela extrapolação linear do passado e presente. O mundo que nós conhecemos experenciou muitos choques e descontinuidades para estarmos aptos a acreditar que algum método irá predizer ou mesmo fazer previsões. A revolução microcibernética é o caso extremo de mudança na qual desafia previsões, e até mesmo evade controle. Para desligar os aspectos 'positivos' dos 'negativos' desse futuro precisamos envolver à criação separações bem irreais. Nós podemos esperar achar civilização avançada e consumismo aumentando, atentos e drogados, ativos e passivos, talvez até ricos e pobres, tudo misturado dentro de comunidades, famílias e indivíduos. É nesse sentido o que Donna Harraway já experenciou na Califórnia e que celebra nos seus escritos. Isso não é para dizer que todas as pessoas do mundo irão participar de uma cultura pós-hippie; mas essa mistura de categorias antes mantidas arrumadas e separadas é algo que nós podemos estudar como uma versão especial de o que poderá vir para nós todos em algum grau e forma.

Eu posso obviamente estar errado; como na guerra, onde todas novas armas ofensivas desenvolvem defensivas, nós podemos achar aqui novos significados de regenerações econômicas, sociais e culturais em contraponto aos aspectos negativos das novas microcibernéticas. Eu espero que sim; mas esses terão de ser novos se querem ser efetivos, tão novos quanto a tecnologia que está começando agora a revolucionar nossas sociedades e vidas em todos níveis, e longe da total fuga de controle. A visão Iluminada classifica os cientistas como um novo tipo de sábio; agora, nesse fim de século, nós somos cada vez mais forçados a ver eles como aprendizes de feiticeiros.

Para iniciar expressar uma resposta adequada a essa novela prevista, eu acho útil mostrar como minha análise é complementar a dois estudos recentes que vêem o problema em algum âmbito. Bruce Mazlish [16]. tinha mostrado como essa nova tecnologia irá produzir uma mudança na consciência humana análoga à trabalhada por Copérnico, Darwin e Freud: nos não estamos no centro do mundo, nós não somos únicos em nossas origens, nós não somos seres completamente racionais, e agora nós não podemos fazer uma clara distinção entre máquinas e nós! Nós podemos nos ver como coexistentes, e (graças à nanotecnologia) até mesmo interpenetrados e, como essas outras espécies continuam nos seus primeiros estágios de evolução, que poderão muito bem ter posse intelectual e outros poderes que poderão exceder os nossos. Em alguns aspectos esse estudo segue a linha da análise de George Spencer, para reforçar o ponto que não há limites discerníveis para o processo. De qualquer forma, Mazlish não está preocupado aqui com a articulação de jogos de domesticação e parasitismo, simbiose e competição, apoio e destruição, que será com certeza jogado no futuro próximo e remoto entre espécies e nós; e isso é minha preocupação presente.

Minha relação com os Tofflers [17] é próxima e pode ser expressa numa conveniente linguagem conceitual. Eles vêem claramente que esse inexorável desenvolvimento qualitativo dos significados de produção irá influenciar fortemente o modo e as relações sociais de produção, e, na verdade, inteiramente a superestrutura cultural. Sua preocupação é que esse processo irá ser negligenciado até impactar inteiramente na sociedade e, então, a resposta para isso será negativa, dirigida pelo medo e confusão. Então eles chamam para que entendidos vejam que alguma coisa está realmente acontecendo; como antes já acharam, mas com uma resposta limitada. Num senso construtivo na sua análise e conclusões, eu exploro a dialética do processo.

Minha aproximação pode ser chamada de "A Dialética da Ignorância". Desde que nós saibamos que algo irá certamente acontecer nessa revolução das revoluções, mas nós não sabemos o que, quando ou onde, o melhor que nós podemos fazer é especular nas principais contradições, ou 'linhas falhas' do sistema social, onde as inovações irão trazer a tona problemas que o sistema pode resolver somente com dificuldade ou nem assim. Nós já temos visto algumas dessas linhas falhas. Uma delas é no genuíno 'choque do futuro' (graças aos Tofflers) que em todas seções da população irão experenciar onde eles se acharão desabilitados pela sua incompetência nas técnicas que são uma segunda natureza para seus filhos. Análogo a isso irão existir novas divisões entre o rico e o pobre, onde os pobres irão expandir permanentemente em tamanho e permanência, se tornando totalmente irrelevantes para o processo produtivo, e cada vez mais expostos cruelmente para as recompensas que são incapazes de ganhar. Para essa profunda alienação (que poderá ser espalhada para alguns filhos de ricos e competentes) existe uma vulnerabilidade aumentada em todo sistema de sabotagem e terrorismo; e isso pode ocorrer regularmente, então todo o tom de vida civilizada poderá ser afetado para o pior. A parábola da Ilha do Pinguim [18] é utilizável para nós aqui; como os descendentes de anarquistas bombardeiros dos anos 1890 tornaram-se tanto mais destrutivos e desinteressantes, a civilização gradualmente desintegrou - e então começou tudo de novo.

Na verdade é a primeira casualidade na guerra convencional, liberdade é rapidamente alijada na guerra contra o terrorismo; e o estado deveria estar bem preparado para implementar vigilância total. Se essa situação irá ser consistente com a diversidade e liberdade necessárias para desenvolver e talvez mesmo manter uma cibercultura sofisticada, não sabemos no avanço. Então aqui estão as contradições que considerei inerentes a microcibernética como isso veio a tona nesse modelo de civilização. Uma é entre cidadãos possibilitados de participar e consumidores dopados: pessoas podem se engajar vigorosamente no debate eletrônico de grandes casos atuais, enquanto se alimentam de 500 canais de qualquer tipo de entretenimento? Talvez na América eles poderão, só o tempo dirá.E a outra contradição inerentes é entre a consciência pós-moderna da realidade virtual, onde o mundo externo é menos interessante e real do que aquele que vemos, e a necessidade de controle de qualidade clássico, que nós podemos manter na real-relidade, para que não achemos a máquina parada. Além disso, nós podemos especular nas conseqüências da falha de manter O Outro dominado e engaiolado, numa cultura onde, pela primeira vez, 'tudo vira' espetáculos comercializados de massa. O que isso parecerá para uma criança que cresceu exposta a essas experiências, e que tipo de pais gerenciarão isso, é algo que nós começamos agora a saber, tarde demais para fazer alguma coisa sobre isso para a geração presente.

Eu não posso dizer qual, se alguma, dessas contradições irá se manifestar como a principal em qual ponto do tempo e local. Outros poderiam publicar; e de alguma forma que eu não posso imaginar, o sistema poderia resolver essas principais contradições, como o sistema industrial foi resolvido por esses identificados com Marx, no caso da produção social e apropriação individual. Eu não disse 'solucionado', o que acontece na história é que essas contradições são contidas, exportadas e transformadas para a realização de alguma estabilidade durante algum tempo. As contradições do sistema de produção capitalista foram resolvidas parcialmente e localmente, pelo ganho na produtividade, e parcialmente global, através da exportação da pobreza e lixo industrial. Agora 'o meio-ambiente' apresente as principais contradições materiais nesse nosso sistema industrial que não pode ser sustentado numa escala global. Desse lado, o ganho na produtividade levou diretamente a microcibernética e suas linhas falhas características. Talvez essas contradições irão ser resolvidas, em alguma extensão, pela expansão transformadora da criatividade e consciência, como as novas mídias proporcionam nitidez e acessibilidade a todos para o melhor das nossas produções culturais, novas e velhas, como também para as piores. O que poderá vir depois disso, não é para nós sabermos.

NOTA DO TRADUTOR

* O movimento NIMBY nos EUA é basicamente formado por associações de bairro que tentam impedir construções que consideram inadequadas para a comunidade, tais como torres de celular, boates, prédios muito altos, etc... O LULU, por sua vez, é esse objeto não desejado no meio. (no caso, a própria torre de celular, boate, prédio alto...)
* R&D é abreviação de 'Research and Development' ou, em português, 'Pesquisa e Desenvolvimento'

NOTAS DO AUTOR

1. José Ortega y Gasset, The Revolt of the Masses, (Original em espanhol, 1929, Madri)
2. Robert Wright, 'Hyper Democracy', Time, 23 de Janeiro de 1995, pp. 15-21
3. Paul Gray, 'Inside the Minds of Gingrich´s Gurus', Time, 23 de Janeiro de 1995, pp. 20-1.
4. Veja Capítulo 5.
5. Veja Capítulo 4.
6. Ray Bradbury, Fahrenheit 451, (Londres, Hard Davis, 1954).
7. Dave Banisar, Call for Papers Advanced Surveillance Technologies, Conference, 25 de abril de 1995; ;
8. Irving Louis Horowitz, 'Policy and Causality', Policy Studies Journal 22/3, 1994, pp. 437-9
9. Alfred D. Chandler, Jr., The Visible Hand: The Managerial Revolution in American Business, (Cambridge, Harvard University Press, 1977).
10. Joe DeRouen, 'Shareware Out There: Heretic', Computer Currents (Dallas Edition), 7/2, Fevereiro de 1995, p. 64.
11. E.M. Forster, 'The Machine Stopped', in Collected Short Stories, (Hardmondsworth, Penguin Books, 1954).
12. S.O. Funtowicz and J.R. Ravetz, 'The Good, the True and the Post-Modern', Futures, 24/10, Dezembro de 1992, pp. 963-74.
13. J.R. Ravetz, 'Quality in Consumerist Civilization: Ibn Khaldun Revisited', in The Merger of Knowledge with Power, (Londres, Cassell, 1990), pp. 180-98.
14. W. Wayt Gibbs, 'Software´s Chronic Crisis', Scientific American, Setembro de 1944, pp. 72-81.
15. Morgan Frew, 'The Year in Review', Computer Currents, (Dallas Edition), 7/2, Fevereiro de 1995, pp. 28-32; 'The New Math, Part - 0.00' (about a three-year-old error in the Windows 3.1 calculator), p.30
16. Bruce Mazlish, The Fourth Discountinuity: the Co-Evolution of Humans and Machines, (New Haven, Yale University Press, 1993).
17. Alvin and Heidi Toffler, Creating a New Civilization; The Politics of the Third Wave, (with a foreword by Newt Gingrich) (Atlanta, Turner, 1994).
18. Anastole France, Penguin Island, (1st French edition 1908).

Traduzido por Lucas Casagrande. Tradução ainda não revisada.







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