Cibercultura on line Contribuições à crítica da razão tecnológica Vol. 1 - 2000 Genealogias da Cibercultura Apresentação |
Cibercultura é uma das expressões que vem se tornando usuais entre o público culto para dar conta das profundas transformações por que vem passando nossa paisagem espiritual com o desenvolvimento das novas tecnologias de informação e comunicação. O presente número objetiva colocar ao alcance do leitor de língua portuguesa um conjunto de textos exigente e gabaritado, em que se procura entender histórica e criticamente as origens de uma cultura que se orgulha de seu caráter pós-crítico e que, cada vez mais, parece inclinada a congelar a história em seus bancos de dados digitalizados. Destarte Phillipe Breton expõe os elementos históricos originários que, segundo o autor, permitem-nos caracterizar o pensamento de um de seus criadores - Norbert Wiener - como portador de uma imaginário ao mesmo tempo utópico e ideológico, para usar os termos de Mannheim, advertindo-se que, nem por isso, ele deve ser tomado como irrelevante ou inócuo do ponto de vista social e histórico. Avançando nessa mesma linha de análise Stephen Pfohl procura aprofundar o esclarecimento das circunstâncias que presidiram à criação e difusão do pensamento cibernético em meados do século XX, através da leitura crítica mais detida das idéias motivadoras que subjazem à sua articulação por parte daquele pensador. A partir disso, David Tomas examina - no texto seguinte - como o pensamento cibernético se entrelaça social e historicamente com o desenvolvimento político e tecnológico ocidental para criar o contexto de recepção do imaginário associado à figura já algo ambientada do ciborg (acrônimo, vale lembrar, de organismo cibernético). Ken Hillis fecha essa coletânea com um texto no qual aos fundamentos tecnológicos que vêm formando a nascente cibercultura são relacionados elementos não menos importantes mas, visivelmente, de outra ordem, tais como o pensamento matemático, a fábrica de diversões, literatura de ficção científica e o que foi chamado, nos anos oitocentos, de "necessidade metafísica do homem" por Arthur Schopenhauer. O resultado geral do estudo desses textos, esperamos possa ser a montagem, pelo leitor, de um vasto e informado painel, que, vindo a ser útil, colabore para o esclarecimento do modo como a tecnologia mais moderna depende em seu progresso de linhagens culturais e intelectuais que nada tem, em si mesmas, de tecnológicas. Bastante ricos em material empírico e, nisso, distinguindo-se do puro e simples ensaísmo, os trabalhos aqui reunidos nem por isso limitam-se a descrever seu objeto de reflexão, abrindo expressivas perspectivas interpretativas sobre a temática em foco a todos os que se dispuserem a dar-lhe a atenção muito especial por eles reclamada. Embora distintas no acento e fragmentárias no conjunto, tais análises, desejamos crer enfim, constituem bons materiais para quem quiser pensar criticamente as origens da cibercultura. Francisco Rüdiger - Professor da Pontifícia Universidade Católica e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Doutor em ciências sociais pela USP é autor, entre outras obras, de Introdução à Teoria da Comunicação (São paulo: Edicom, 1998) e de Comunicação e Teoria Crítica da Sociedade (Porto Alegre: Edipucrs, 1999). |
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