Cibercultura on line
Contribuições à crítica da razão tecnológica


Vol. 7 - 2003

Cibersubculturas


Apresentação

por Barbara Nickel*


Gordom Graham em The Internet - A Philosophical Inquiry faz um alerta para a necessidade de se observar a Internet sob um ponto de vista cr�tico, que n�o ignore o seu significado em conex�o com a vida cotidiana que todos levamos fora do ciberespa�o. Em sua opini�o, "se a tecnologia n�o apenas altera, mas transforma o mundo, � preciso questionar n�o somente se ela nos permite fazer de forma melhor as coisas que sempre fizemos, mas se as novas coisas que ela nos permite fazer constroem um mundo melhor" (1999:17).

Considerando os valores modernos - e contrariando, neste ponto, o desejo do autor citado - � poss�vel afirmar que o mundo melhor tem sido amplamente definido como aquele nos quais os ideais democr�ticos de liberdade individual e igualdade sejam respeitados e, mais que isso, possam se fortalecer. Deste ponto de partida, pode-se facilmente deixar-se levar pela duvidosa obviedade da vis�o da Internet como um espa�o onde todos podem publicar sites livremente e, portanto, como um espa�o onde os valores da democracia finalmente se realizam de forma plena.

Por exemplo, seriam esses os casos de Richard Barbrook e Pierre L�vy (R�diger, 2003).

Como aponta Graham � preciso manter-se atento ao fato de que a multiplicidade de informa��es poss�veis de serem encontradas na Internet n�o � garantia de uma sociedade melhor informada ou melhor capacitada para compreender criticamente o contexto em que se insere. Se os tradicionais meios de comunica��o de massa, como o r�dio e a televis�o, s�o historicamente acusados de exercer alguma forma de opress�o sobre sua audi�ncia, transmitindo-lhe uma vis�o de mundo recortada sob a perspectiva de uma classe dominante, pensadores da cibercultura como ele percebem que a Internet n�o � uma resposta que solucione magicamente a quest�o. Antes disso, ela traz � tona uma nova problem�tica: frente a uma infinidade de sites com uma diversidade de temas imposs�vel de ser sequer imaginada, o internauta tende a se perder ou a andar pelos caminhos mais seguros, ou seja, o caminho que inclui apenas aquelas informa��es que lhe interessam e refor�am sua pr�pria vis�o de mundo.

Alheio �s discuss�es te�ricas sobre o tema, no entanto, o universo do ciberespa�o segue sua expans�o como dep�sito de todo tipo de id�ias, das mais relevantes e potencialmente emancipadoras �s mais in�teis e refor�adoras de �dios e preconceitos.

Neste volume, oferece-se � discuss�o o tema das subculturas que, se sempre existiram no mundo do qual participamos concretamente, hoje encontram nas novas tecnologias de informa��o - que, note-se, tamb�m participam do mundo concreto - uma nova forma de afirma��o e rela��o com a sociedade.

O assunto � visto sob a perspectiva do g�nero e da ra�a, al�m do grupo social conhecido como ravers. Este �ltimo � protagonista de um debate acerca da liberta��o individual, acerca de dissolu��o do eu supostamente encenada nas festas raves realizadas em todo o mundo. Maria Pini, em Pr�ticas de pique - A produ��o e regula��o de corpos ext�ticos no mundo rave, explora a articula��o entre tecnologia, corpo e qu�mica que pretensamente levaria os ravers a libertarem-se das m�scaras sociais, em benef�cio de uma experi�ncia de prazer e encontro profundo consigo mesmo.

A pornografia na Internet � o campo discutido por Joann di Filippo, que faz um relato hist�rico do surgimento e do desenvolvimento dos sites com esse tipo de conte�do. Ela aborda os debates feministas acerca do tema, confrontando o ponto de vista daquelas que v�em a Internet apenas como uma nova forma de opress�o do feminino pelo masculino com a perspectiva daquelas que, ao contr�rio, enxergam-na como uma possibilidade de liberta��o das mulheres, que t�m agora tanto uma forma de obter mais informa��es sobre o pr�prio corpo como de viver experi�ncias enriquecedoras.

Abordando o Outro Extremo - A cultura discursiva do ciber-�dio, de Susan Zickmund, faz uma an�lise da atua��o de grupos extremistas brancos na rede. Sob poucas a��es de censura, estas pessoas t�m na Internet n�o apenas uma forma de comunica��o ou troca de informa��es que reforcem suas id�ias de �dio ao Outro, mas, segundo a autora, o fato de elas serem tamb�m alvo de cr�ticas de usu�rios que discordam veementemente das suas id�ias apenas os faz unirem-se ainda mais como grupo e jogar-se com mais viol�ncia contra o diferente.

A populariza��o das novas tecnologias e da Internet atualiza os debates acerca da individualidade, da liberdade, do respeito ao outro, do espa�o da minoria e do refor�o aos valores da democracia. Para Kevin Robins, o ciberespa�o enquanto espa�o de realidade virtual, onde � poss�vel interagir sem limites ao que pode ser imaginado ou encenado acaba com a no��o de respeito ao outro - e, mais ainda, com a pr�pria no��o de exist�ncia desse "outro". Segundo ele, "tal fantasia, quando institu�da socialmente, deve ter conseq��ncias no mundo real das identidades situadas" (Robbins, 2003).

Seria para este mundo que, como defende Graham, a tecnologia deve contribuir.

* Graduada em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul

REFER�NCIAS BIBLIOGR�FICAS


GRAHAM, Gordon. The Internet - A Philosophical Inquiry. Londres: Routledge 1999
ROBINS, Kevin. Cyberspace and the World we Live in. In: TOFTS, Darren. Prefiguring cyberculture: an intellectual history. Londres: MIT, 2003.
R�DIGER, Francisco. Introdu��o �s Teorias da Cibercultura: Perspectivas do Pensamento Tecno-l�gico Contempor�neo. Porto Alegre: Sulina, 2003.




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