Comunidades Virtuais Como Comunidades: Os surfistas da rede
não viajam sozinhos


Wellan & Gulia





1. Esperança, falatório e realidade

Podemos encontrar comunidades online na Internet? As relações entre as pessoas que nunca se viram, se cheiraram, se tocaram, se ouviram podem ser íntimas e construtivas? Este debate permeia a Internet, as ondas sonoras, e especialmente a mídia impressa. Os entusiastas são mais numerosos que os críticos, porque como o profeta Jeremias descobriu há milhares de anos atrás, existe mais recompensa imediata em exaltar o futuro do que em elogiá-lo. Infelizmente, ambos os lados do debate freqüentemente são maniqueístas, precipitados, não-acadêmicos e paroquiais.

Os maniqueístas de ambos os lados deste debate afirmam que a Internet vai criar novas formas de comunidades ou vai destruí-las completamente. Ocorre que essas polaridades anulam-se reciprocamente, usando afirmações inequívocas do outro lado para contradizer seus argumentos. Suas afirmações de entusiasmo ou crítica deixam pouco espaço para situações mistas e intermediárias, que podem ser realidade. Os participantes de última moda, em seu debate eufórico, parecem não perceber que prosseguem com uma controvérsia obsoleta sobre a natureza da comunidade, embora com novos companheiros de discussão. Existe pouca percepção histórica.




O admirável mundo novo da Rede?

Os entusiastas saúdam o potencial da rede em realizar conexões sem levar em conta raça, credo, gênero ou geografia. Como Amanda Walkers afirma, online:

Cada avanço em comunicação transforma a natureza da realidade como nós a conhecemos. ...A Internet já é um outro revolucionário método de comunicação. Pela primeira vez na história do mundo, eu tenho um rápido e progressivo diálogo com pessoas, não importando sua localização física, agenda, ou outros impedimentos ... O mundo está mudando, e somos protagonistas disso, estejamos fazendo algo ou não.

Phil Patton, de maneira similar, afirma:

A comunicação mediada pelo computador... fará, via meios eletrônicos, o que as estradas pavimentadas são incapazes de fazer, isto é, conectar-nos mais do que atomizar-nos, colocar-nos no controle de um veículo de modo a não mais nos desligar do resto do mundo. (Patton 1986:20)

John Perry Barlow, co-fundador da Fundação Fronteira Eletrônica, é ousado em profetizar a radical e positiva transformação social que a rede trará:

Com o desenvolvimento da Internet e com a crescente presença da comunicação entre computadores interligados, estamos em meio ao maior evento de transformação tecnológica desde o descobrimento do fogo. Eu penso que é a maior invenção desde Gutemberg. Penso que você têm de voltar ainda mais... para sentir o enorme sentimento de comunicação, para perceber a maior experiência... Quero ser capaz de interagir completamente com a consciência que está tentando comunicar-se com a minha. Rapidamente... Estamos criando um espaço para a população do planeta ter este tipo de relacionamento comunicativo. (Barlow et al. 1995:40)




Perdidos no ciberespaço?

Em contraste, os críticos (principalmente na mídia impressa, é claro) preocupam-se com a hipótese da vida na rede nunca poder vir a ser significativa ou completa, porque isso levaria as pessoas a se distanciar da plenitude existente nos contatos interpessoais [offline]. Ou, concedendo um pouco do argumento, eles temem que as pessoas fiquem tão envolvidas no simulacro de realidade virtual, que irão perder contato com a vida real. Os contatos significativos iriam murchar sem a totalidade promovida pelo contato pessoal, em carne e osso. Como alertou o comentarista texano Jim Hightower, na Rádio ABC Network:

Enquanto toda essa parafernália nos conecta eletronicamente, ela nos desconecta uns dos outros, fazendo-nos interagir mais com computadores e telas de TV do que olhando para o rosto dos nossos semelhantes. (Fox 1995: 12)

Ou como Mark Slouka, autor de War of the Worlds: Cyberspace and the Hi-tech Assault on Reality (1995), teme: "De onde vem a necessidade de habitar esses espaços alternativos? Insisto que a resposta é: para fugir dos problemas e sofrimentos do mundo real" (in Barlow et al. 1955: 43)




2. Redes sociais como comunidades (virtuais ou outras)

Embora façam largas referências a Gutenberg (1455) e a McLuhan (1965), ambos lados do debate são presentistas e não-acadêmicos. Em sintonia com o ethos da orientação atual dos usuários de computadores, os porta-vozes do assunto escrevem como se as pessoas nunca houvessem se interessado sobre o assunto comunidade antes de a Internet. Porém, os sociólogos têm se maravilhado há mais de um século sobre como as mudanças tecnológicas (que vieram com a burocratização, a industrialização, a urbanização e o capitalismo) têm afetado a comunidade (Wellmann 1988a). Estas mudanças têm levado as comunidades a (1) separar-se, (2) preservar-se como vilarejos protegidos em meio à sociedade de massa, ou (3) liberar-se das amarras dos grupos solidários tradicionais? Como Jim Hightower diz hoje, até os anos 50, os sociólogos temiam que a rápida modernização poderia significar o fim da comunidade, deixando em seu lugar um grupo transitório, desconexo e de relações de apoio mútuo fracas (Stein 1960). Desde então, uma etnografia mais sistemática e técnicas de pesquisa survey têm, porém, demonstrado a persistência da comunidade na vizinhança e grupos de parentesco (p.e. Gans 1962).

Ainda mais recentemente, os sociólogos descobriram que laços de vizinhança e parentesco são apenas uma porção de todas as pessoas envolvidas em redes comunitárias, porque com carros, aviões e telefones podemos manter as relações mesmo em longas distâncias (Wellman 1988a). Eles perceberam que a comunidade não tem que ser um grupo solidário de vizinhos densamente entrelaçado, também podem existir como rede social de filiação, amizades e colegas de trabalho que não necessariamente vivem próximos. Não é que o mundo tenha se tornado uma aldeia global. Como McLuhan disse originalmente, a aldeia particular de cada um pode agora abranger todo o globo. Essa revolução conceitual significou um deslocamento da comunidade em termos de espaço - vizinhanças - para sua definição em termos de redes sociais (Wellman 1988).

Os estudiosos das redes sociais têm procurado ensinar aos sociólogos que estudam comunidades de forma tradicional, relacionando-a ao lugar, que a comunidade pode transitar além da vizinhança. Os membros de comunidades virtuais, por exemplo, têm como certo que redes de computadores também são redes sociais que se espalham por grandes distâncias (p.e. Rheingold 1993; Jones 1995; Hiltz e Turoff 1993; Stoll 1995). Essas redes sociais amparadas por computador [Computer-supported social networks - CSSNs] existem de várias maneiras, tais como email, sistemas de boletins eletrônicos (BBSs), Multi-User Dungeons (MUDs), grupos de notícias, e Chats de Internet (IRC). Todos os CSSNs pretendem fornecer companhia, ajuda social, informação e a sensação de pertença. Mas eles fazem isso realmente? O maniqueísmo dos entendidos no assunto - a favor e contra - provavelmente exagera a atual natureza da vida da comunidade. (Talvez seja difícil para esses entendidos chamar a atenção da mídia sem afirmar categoricamente que a comunidade virtual mudará muito a vida tal qual nós a conhecemos - para bem ou para mal.) Apesar dos críticos terem recentemente obtido alguma publicidade (p.e. Stoll 1995; Slouka 1995), a maioria dos relatos acadêmicos de interações online têm sido totalmente positivo. Embora nós compartilhemos essa mesma avaliação básica, suspeitamos porém que este entusiasmo é parcialmente atribuído ao fato de que a maior parte da pesquisa ter sido feita por acadêmicos e de que seus trabalhos são encomendados por empresas privadas, que têm muitos interesses ocultos em demonstrar que as redes realmente funcionam. Com a melhor das vontades do mundo, as pessoas que desenvolvem ou avaliam sistemas online desejam vê-los funcionando, porque acreditam muito no aparente sucesso dos sistemas no qual estão envolvidos.

De fato, a maior parte das análises que existem são paroquiais. Elas quase sempre tratam a Internet como um fenômeno social isolado, sem levar em consideração como as interações na Internet ocorrem juntas com outros aspectos da vida das pessoas. A Internet é apenas uma das maneiras através das quais as pessoas podem interagir. Não é uma realidade separada. As pessoas trazem para as suas relações online a bagagem de gênero, idade, cultura, status sócio-econômico e conexões offline com os demais.

Assim como a geração anterior se preocupou se a comunidade seria destruída ou transformada pelas as novas tecnologias de ontem - tais como o telefone (Fischer 1992) ou o automóvel - os entendidos dos anos 90 identificam a Internet como a última força transformadora (veja a revisão em Wellman 1988a). Acreditamos de nossa parte que é útil examinar a natureza da comunidade virtual à luz do que temos aprendido sobre redes sociais ou comunidades da vida real. Infelizmente, afirmações anedóticas sobre comunidades virtuais pesam de mais em relatos todavia cuidadosos factualmente. Eles se parecem com as antigos "histórias de viajantes", relatos de aventuras feitas a partir da experiência do mundo civilizado sobre regiões desconhecidas e exóticas. As revistas de interesse geral exibem semanalmente histórias sobre encontros ou bruxarias na Internet. Wired esforça-se em trazer um caso quase todos os meses. O website do milênio da National Geographic sonda o que pode ser a vida no ciberespaço.

Infelizmente, vê-se poucos estudos etnográficos detalhados das comunidades virtuais, não há pesquisa survey mostrando quem está conectado a quem e sobre o que falam, e não há nenhum relato da quantidade de horas que as pessoas gastam de convívio virtual. Revisaremos aqui o que a pesquisa existente fala sobre o assunto, suplementando-a com as descobertas de outro domínio amplamente estudado no campo das redes sociais sustentada por computador: o do chamada "trabalho cooperativo sustentado por computador" (revisado também em Garton e Wellman 1995; Sproud e Kiesler 1991 et al. 1996). Para preencher as lacunas existentes nos relatos com material de primeira mão, nós acrescentamos piadas relevantes e relatos de viajem, além de nossas próprias experiências. Nossas questões-chave são:

1. Na Internet, as relações são estreitas e especializadas ou são amplas? Que tipo de amparo alguém pode esperar encontrar em uma comunidade virtual?

2. Como a Internet afeta a capacidade das pessoas em sustentarem relacionamentos menos íntimos e mais fracos e a desenvolver novos relacionamentos? Porque os participantes da Internet ajudam aqueles que eles conhecem muito pouco?

3. O amparo dado na Internet é recíproco? Os participantes desenvolvem ligação às comunidades virtuais a fim de que haja confiança, solidariedade e que as normas de reciprocidade se desenvolvam?

4. Em que medida são fortes as possibilidades de relacionamento íntimo na Internet?

5. O que é mais envolvente na comunidade virtual do que em outras formas de envolvimento em comunidades da "vida real"?

6. Em que medida os participantes da Internet aumentam a diversidade de laços na comunidade? Em que medida essas diversidades ajudam a integrar grupos heterogêneos?

7. De que forma a arquitetura da Internet afeta a natureza das comunidades virtuais? Em que medida as comunidades virtuais são grupos solidários (como o eram as aldeias tradicionais) ou estão conectadas muito fragilmente na Rede? As comunidades virtuais são como as comunidades da "vida real"? Em que medida as comunidades virtuais são fechadas nelas mesmas ou estão integradas às comunidades em geral?




Questão 1: as relações online são especializadas de maneira estreita ou favorecem um amplo apoio mútuo?

A Idéia pastoral mais padronizada de pessoa, aldeia ou comunidade representava cada membro de comunidade como provedor de uma grande variedade de apoio para todos os outros. Nesta situação ideal, todos podiam considerar-se companheiros, suportes emocionais, de informação, de serviços (como cuidar das crianças ou da saúde), de dinheiro ou de bens (quer seja comida para matar a fome ou um furo na parede durante a reforma da casa).

Não é claro se essa situação de apoio amplo pôde realmente acontecer ou se se trata de pura nostalgia: o fato é que as comunidades contemporâneas no mundo ocidental são completamente diferentes. A maior parte dos laços de comunidade é especializada e não forma um grupo unido de relacionamentos. Por exemplo, nossa pesquisa em Toronto descobriu que exceto para grupo de parentesco ou pequenos grupos de amigos, a maioria dos membros de uma rede comunitária não conhece realmente uns aos outros. Mesmo relacionamentos muito próximos normalmente produzem apenas poucos tipos de apoio mútuo. Aqueles que prestam apoio emocional ou pequenos serviços, raramente são os mesmos que provêem os grande serviços, companhia ou suporte financeiro. As pessoas realmente recebem todo tipo de ajuda da comunidade, mas elas precisam procurar pessoas diversas para obter os vários tipos de auxílio de que necessitam. Significa que as pessoas devem manter um leque diferenciado de laços para obter o máximo possível de recursos. Em termos de mercado, eles devem comprar suas necessidades em lojas especializadas, ao invés de visitar casualmente lojas de generalidades. (Wellman e Wortley 1990; Wellman 1992b).

Apesar de muito da literatura corrente mostrar que a pessoa pode encontrar vários tipos de recursos na Internet, não há nenhuma evidência sistemática sobre se os relacionamentos individuais são estreitos ou amplos em termos de base. A leitura que fizemos dos relatos de viajantes e das anedotas sugere que, embora as pessoas possam encontrar quase todo tipo de amparo na Internet, a maior parte da ajuda disponível é predominantemete especializada.

Neste tocante, a Internet continua a tendência tecnológica no sentido de alimentar os relacionamentos especializados. Sua estrutura comporta as abordagens do mercado e a da cooperação, se é para encontrar recursos sociais nas comunidades virtuais. As pessoas podem adquirir recursos em termos de segurança e com o conforto de suas casas ou escritórios mais facilmente do que na vida real. O tempo gasto em viagens e pesquisas é reduzido. Ocorre nela como se a maior parte dos americanos vivesse preferencialmente em grandes cidades, densamente populosas, heterogêneas, fisicamente seguras mais do que na periferia, com baixa densidade demográfica e subúrbios homogêneos.

Os Internautas participavam de mais de 80 mil grupos coletivos de discussão temática até 4 de abril de 1998 (Smith 1998), mais de 3 vezes o número observado em 27 de janeiro de 1996 (Southwick 1996; Kollock e Smith 1996). Os assuntos deses grupos vão de política (grupos feministas etc.), tecnologia (hardware e software de computadores) até temas sociais (recuperação de viciados, grupos de solteiros) e recreativos (resenhas de livros, grupos unidos por hobby ou fantasias sexuais). Nos chats, as pessoas podem navegar através de vários canais especializados, antes de decidir em qual grupo gostariam de entrar (Reid 1991; Danet et al. 1997). Tais grupos prosseguem de forma tecnológica uma longa transformação conceitual que leva ás comunidades organizadas com interesses compartilhados, partindo daquelas baseadas em lugares (vizinhança ou aldeia) ou em relações de parentesco compartilhadas (grupos de parentesco; veja a discussão em Fischer 1975; Wellman 1998).

Assim como os grupos na Internet podem enfocar tópicos muito específicos, os relacionamentos nestas comunidades virtuais podem ser muito limitados, existindo na maior parte das vezes para processar informação (Kling 1996). Esses relacionamentos são facilitados na medida em que os membros podem expor facilmente uma questão e receber rapidamente sua resposta (Sprull e Faraj 1995). Isto pode ser importante quando a eficiência e a rapidez são necessárias. Exemplos diários são as combinações de encontro dos grupos, mas a internet também é usada para amealhar recursos, como após o bombardeio da cidade de Oklahoma em abril de 1995. Apenas algumas horas após a explosão, os estudantes universitários da cidade tinham criado sites de informações e boletins eletrônicos informativos via Internet (Sallot 1995). Entre outras coisas, essas informações permitiram fazer uma lista de nomes dos feridos, seus locais de atendimento hospitalares e endereços de emergência para doadores de sangue. Essa fonte de informação não foi somente rápida, muitos acharam nela informações mais precisas do que nas reportagens de TV. Os movimentos sociais também têm se organizado via online; por exemplo: os professores em greve na universidade israelense utilizaram mensagens tanto particulares como em grupo para coordenar sua luta contra o Governo (Plinkin e Romm 1994; ver também Marx e Virnoche 1995).

Fosse a Internet apenas um meio de troca de informações, então as comunidades virtuais distribuídas em rede conteriam apenas relacionamentos limitados e especializados. Entretanto, a informação é apenas um dos muitos recursos sociais que é trocado na Internet. Muitos usuários da Internet buscam ajuda em grupos eletrônicos para os seus problemas sociais, físicos e mentais, como informações sobre tratamentos, médicos especialistas e sobre outros recursos. Por exemplo, mulheres atravessando as mesmas experiências físicas e emocionais da menopausa têm encontrado apoio online ao saber que outras estão tendo os mesmo sintomas, sentimentos e interesses (Foderaro 1995). Similarmente, a Internet ajuda na formação de grupos de acompanhamento e de apoio emocional para pessoas em recuperação de vícios de álcool e drogas; os encontros virtuais são importantes complementos ao atendimento regular nos encontros mantidos na da vida real (King 1994).

A terapia emocional tem sido amplamente promovida via Internet. Um funcionário de uma clínica de psiquiatra social de Nova Iorque observa sobre seus clientes na BBS:

Falta a dinâmica do processo interativo pessoal. O trabalho online pode, contudo, capacitar a pessoa a começar a explorar seus próprios pensamentos e sentimentos sem ser julgada... Como eu me deparo com palavras apenas na tela do computador, minha sensibilidade para comunicação e as delicadas mudanças nos padrões de "falar" acabam fortalecidas. Saber o que uma palavra significa para o "falante" é muito importante, quando a comunicação é apenas entre palavras numa tela. Em função disso, tendo a perguntar sobre o significado de mais palavras do que eu poderia fazer pessoalmente. ... os e-mails ou boletins eletrônicos podem abrir uma porta para as pessoas que jamais buscariam esse tipo de ajuda naturalmente. (Cullen 1995; 7)

Os grupos eletrônicos não são os únicos meios eletrônicos onde os internautas podem encontrar apoio emocional e companhia. Peter e Trudy Johnsosn-Lentz têm ajudado grupos online por vinte anos, trabalhando para criar mais autoconsciência, atividades de apoio mútuo, trocas sociais e um sentimento de bem-estar coletivo. Em 1978, eles cunharam termo "groupware" (traje grupal) para descrever a "cultura mediada por computador": "Algumas partes são incorporadas pelo software, mas outras partes pelo coração e pela mente dos usuários" (Johnson-Lentz e Johnson-Lentz 1990: 1). O centro dos seus wokshops é um "círculo virtual", baseado em tradições não ocidentais de transmissão do "bengalas falantes". As ferramentas do software rearranjam as estruturas de comunicação, modificam o ambiente de troca, marcam o ritmo do grupo e encorajam os voyeurs a se expressarem (Johnson-Lentz e Johnson-Lentz 1990. 1994).

Inclusive quando os grupos online não são projetados para serem de apoio mútuo, eles tendem a sê-lo. Como seres sociais, aqueles que usam a Internet não buscam apenas informação, mas também companhia, apoio social e um sentimento de pertença. Por exemplo, enquanto a maioria dos usuários mais idosos da "SeniorNet" relataram ter entrado na Internet para buscar informação, perto da metade (47%) também entra para obter companhia. De fato, a atividade mais popular é o chat. Por um período de 4 meses, as atividades mais intensas foram: o email, os fóruns, as "conferências (para uso social)"; enquanto que o uso para acessar notícias, "boletins informativos", "bibliotecas" e "banco de dados" foi o menos utilizado. Além disso, a "SeniorNet" provê acesso a conselheiros para as pessoas deprimidas, que de outra maneira seriam inacessíveis. Um membro contou que "se eu não estou conseguindo dormir à noite, só o que eu tenho a fazer é ir até o meu computador: eu encontrarei alguém com quem conversar, rir e trocar idéias (Furlong 1989: 149)".

Existem muitos outros exemplos de possibilidades online de apoio emocional, obtenção de companhia e de conselhos, além da informação (p.e. Hiltz et al. 1986; Rice e Love 1987; Rheingold 1993; Sproull e Faraj 1995). Um grupo de apoio informal tornou-se inadvertidamente uma "Rede de Jovens Cientistas" decidida a fornecer aos físicos com doutorado discas de colocação profissional, armazenando informação e histórias de jornais (Sproull e Faraj 1995). Similarmente, "Systers", uma lista de e-mails, foi originalmente projetada para permitir a troca de informações entre computadores de mulheres cientistas, mas se tornou um fórum de companheirismo e apoio mútuo (Sproul e Faraj 1995). Em outro caso, os membros de um laboratório de ciências da computação de uma universidade utilizaram o e-mail para fins de apoio emocional. Como muito do seu tempo era gasto online, era natural para eles comunicar seus problemas confidenciais por e-mail. Quando os confidentes recebem uma mensagem de alguém aflito, o e-mail é um meio fácil para eles responderem (Haythornthwaite et al. 1995).

Ajuda emocional, companhias, informação, agendar compromissos e promover uma sensação de pertença são todos recursos não-materiais facilmente obtidos com o conforto do computador. Usualmente, eles não requerem maiores investimentos de tempo, dinheiro ou energia. Céticos (p.e. Stoll 1995) perguntam porém sobre a qualidade tanto quanto a proximidade de cada ajuda. Considere-se o seguinte diálogo:

Na Internet... as pessoas poderiam colocar palavras como "riso" ou "sorriso" ou "abraço" entre parênteses. É um código que significa ciberabraços, cibersorrisos, ciberbeijos. Mas no fundo, um ciberbeijo não é mesma coisa que um beijo real. No fundo, esse ciberabraço não causa o mesmo efeito. Há uma grande diferença. (Mark Slouka em Barlow et al. 1995: 42)

Sim, há uma grande diferença. Mas eu não estaria sem o carinho dos meus amigos. Eu recebo assim um monte de abraços e eu ainda os tenho comigo. Minha comunidade está à minha volta. Quero dizer, não é um caso de escolha. Eu não tive que desistir dos contatos humanos para ter este outro, uma forma ligeiramente mais de contato humano, um tipo de meta-contato. De fato, um suplementa o outro. (John Perry Barlow em Barlow et al. 1995: 42)

Para enfrentar o ponto, só podemos ser como Slouka e Barlow, providenciando casos isolados, senão anedotas, ao invés de evidências mais persuasivas de experimentos controlados, etnografias detalhadas ou surveys sistemáticas. Há muitos exemplos de suporte online que são mais do que efêmeros. Para ilustrar, citemos o seguinte. Quando David Alsberg, 42 anos, programador de computadores, foi assassinado na cidade de Nova Iorque, seus amigos da Internet organizaram-se online para arrecadar receitas de culinária para compilar um livro, cujas vendas iriam formar um fundo de apoio para a família de Alsberg (Lewis 1994). Outro: quando os bens de Mike Godwin foram queimados durante sua mudança para Washington, sua "vizinhança do ciberespaço" na comunidade "WELL" respondeu enviando-lhe caixas de livros durante seis meses.

Além da preocupação com a redução da integralidade da comunicação online em oposição à pessoal, alguns especialistas estão convictos de que a Internet pode estar se tornando uma reprodutora de informação enganosa. Em 1995, o Wall Street Journal publicou um artigo proclamando que os usuários mais velhos da Internet estariam rejeitando o meio eletrônico, soterrados que estavam pela "lama" de informação que é exageradamente difundida na Usenet (Chao 1995). Os críticos preocupam-se com o número excessivo de usuários "que não das coisas e estão postando questões apenas porque eles o podem, e não porque eles tem alguma coisa para oferecer" (James Bidzo, presidente da RSA Segurança de Dados e veterano de 20 anos em comunicações online, citado em Chao 1995). Essa posição é a mesma dos profissionais de saúde, que criticam os serviços online por funcionarem como reprodutores de informação equivocada e de maus conselhos (Foderaro 1995).

Entretanto, preocupações como essas não consideram o fato de que as pessoas sempre trocaram conselhos. Antes da vida na Internet, as pessoas nem sempre procuravam especialistas: eles mesmos eram os mecânicos para os seus carros, os médicos para seus corpos, ou terapeutas para as suas psiquês. Por exemplo, a literatura sobre cuidados com a saúde possui muitos relatos de "redes de conselheiros leigos", que oferecem aos membros da comunidade avisos do que comer, quais remédios usar e quais médicos ou métodos alternativos procurar (Beverly Wellman 1995). De certo modo, a Internet apenas tornou esses processos mais acessíveis e mais visíveis para os outros, inclusive os especialistas, cujas reivindicações no sentido de monopolizar esse tipo de aconselhamento estão ameaçadas (Abbott 1988).

Porém, a informação já disponível na Internet não é como a informação que flui por meio de outros relacionamentos, porque sua velocidade seu maior potencial de conectividade podem acelerar a disseminação da (des)informação (Gurak,), já que as pessoas freqüentemente enviam mensagens para muitos amigos e para enormes listas de discussão (DLs). Por exemplo, na noite em que estávamos completando um esboço deste capítulo, recebemos um e-mail de um amigo alertando sobre a existência de um novo vírus de computador, chamado "Good Times", transmitido por e-mail e que poderia destruir do disco rígido. Tínhamos recebido o alerta sobre este mesmo vírus 11 vezes nos últimos 4 anos. Apesar da mensagem de alerta inicial ser um trote, as pessoas que o enviaram agiam de boa fé e estavam realmente preocupadas com a possibilidade dos computadores dos seus amigos virem a ser infectados. Apesar da velocidade da Internet permitir que tais informações sejam disseminadas de forma ágil e rápida, felizmente a capacidade do sistema de e-mail em manter cópias para quem envia e recebe mensagens, facilita a correção das desinformações.

É como se as mensagens transmitidas pela Internet pudessem fundir a "comunicação de mão dupla" (Katz e Lazarsfeld 1955) em uma única mão, combinando a disseminação rápida dos meios de comunicação de massa com a persuasão da comunicação pessoal. Os avisos sobre os vírus não-existentes usualmente chegam em bando, de forma que quando chega um, normalmente vem seguido por vários outros. Essa redundância ocorre porque as mensagens são enviadas para vários amigos e esses amigos são, freqüentemente, amigos entre si.




Questão 2: De que maneira são úteis os muitos laços fracos na Internet?

As comunidades virtuais podem se parecer com comunidades da vida-real no sentido de que a ajuda é disponível, em geral através de relacionamentos especializados. Os integrantes da Internet têm, todavia, atitudes distintas em prover informações, apoio, e companheirismo para aqueles que conhecem na vida offline e aqueles que são totalmente estranhos. Anedotas sobre comunidades virtuais e relatos mais sistemáticos do trabalho cooperativo pelo computador dão evidências amplas da utilidade de acessar novas informações a partir de laços sociais fracos na Internet (Constant et al. 1996; Garton e Wellman 1995; Harasim e Winkelmans 1990). Por exemplo, 58% das mensagens no Fórum online de uma organização vieram de estranhos (Finholt e Sproull 1990; Kiesler e Sproull 1988).

Alguns críticos alertaram para as conseqüências de se filiar a um meio eletrônico cheio de estranhos, cujas biografias, posições sociais e grupos sociais são desconhecidas (Stoll 1995; Chao 1995; Sproull e Faraj 1995). Mas os usuários da rede tendem a confiar em estranhos, assim como as pessoas davam carona a estranhos nos floridos anos 60. Por exemplo, alguns usuários ocultam suas identidades e endereços, usando um serviço de endereçamento que diz aceitar todas as mensagens e repassá-las para os destinatários indicados, escondendo o nome e o endereço de email do remetente original. Tal serviço poderia ser útil para aqueles que querem perturbar a ordem estabelecida ou importunar os outros. Todavia, os usuários precisam confiar que o serviço vá manter suas identidades em segredo e mandar suas mensagens para os destinatários desejados. O mais conhecido destes serviços diz-se estar na Finlândia, mas para muitos usuários pode ser controlado pela CIA, a KGB, a Máfia ou pela Microsoft.

A vontade de se comunicar com estranhos pela rede contrasta com as situações face-a-face, já que os protagonistas costumam ser relutantes em intervir e ajudar estranhos (Latané e Darley 1976). Os protagonistas eventuais de uma situação estão mais aptos a intervir quando são os únicos por perto (sendo mais relutantes quando existem muitos outros) e os pedidos são recebidos por indivíduos solitários, sozinhos em seus monitores. Mesmo se o pedido online é feito a um grupo de discussão, e não a uma pessoa específica, uma vez sabendo ser a recebedora do pedido, a pessoa pode ser a única disponível que pode oferecer ajuda. A ajuda online pode ser observada pelo grupo inteiro e recompensada positivamente pelos seus membros (Kollock e Smith 1996). Além disso, é mais fácil retirar-se de situações problemáticas quando eles estão online - tudo que você tem que fazer é sair da sessão de Internet - do que retirar-se de interações face-a-face.

A falta de status e outros indícios situacionais podem também encorajar o contato entre pessoas com laços fracos. Freqüentemente, a única coisa sabida sobre os outros são endereços de email, os quais podem prover informações mínimas ou enganosas (Slouka 1995).

A natureza relativamente igualitária do contato através da Internet pode encorajar a manifestação em respostas. Por contraste, os indícios associados com o contato pessoal direto transmitem informações sobre sexo, idade, raça, origem étnica, estilo de vida e status socioeconômico e de qual grupo faz parte (Garton e Wellman 1995; Hiltz e Turoff 1993). As interações online podem também gerar uma cultura própria, como quando histórias de humor (ou alertas de vírus) varrem a Internet, vindo repetidamente para os participantes. A Internet está promovendo o retorno do humor popular. Às vezes a velocidade e a proliferação dessa forma de comunicação podem ter conseqüências, como ocorreu quando a circulação pública da piada do "Intel Insied" (sic) ajudou a criar uma pressão bem sucedida para a troca de chips de computadores Pentium defeituosos.

Na rede ou fora dela, a fraqueza dos laços sociais, mais do que os laços fortes, é um fator que torna mais apto ligar pessoas com características sociais diferentes. Além disso, eles também são um meio melhor de manter contato com outros círculos sociais (Granovetter 1973). Isto sugere que o tipo de pessoa que você conhece é mais importante para obter informações do que o seu número. Por exemplo, em uma grande organização, as pessoas eram mais capazes de resolver problemas quando elas recebiam sugestões online de outras com um perfil variado de características sociais do que quando elas recebiam sugestões de um grande número de pessoas socialmente parecidas (Constant et al. 1996).




Questão 3: existe reciprocidade online e vinculação a comunidades virtuais?

É uma norma geral de comunidade que o que quer que seja dado deve ser restituído, mesmo que seja apenas para garantir que ainda mais esteja disponível quando necessitado. A restituição de apoio e recursos sociais pode ser na forma de trocas do mesmo tipo de assistência, respondendo de outra forma, ou ajudando um amigo na rede. Por exemplo, as comunidades da vida real de moradores de Toronto que estamos estudando mantém recíprocas e ajudam-se mutuamente. Quase todos podem conseguir alguma quantidade de ajuda em algum lugar de sua rede e seus vários pacotes de relações proporcionam acesso a uma larga variedade de outras pessoas e recursos da rede (Wellman e Nazer 1995).

O problema da motivação para dar ajuda em uma comunidade virtual surge quando consideramos que muitas das trocas que acontecem online são entre pessoas que nunca se conheceram face-a-face, têm apenas laços fracos e não estão presas a estruturas comunitárias densamente unidas que possam impor normas de reciprocidade. Alguns analistas sugeriram que quanto maior a distância social e física entre quem procura e quem oferece apoio (isto é: quanto mais fraco o laço), menos provável torna-se que a venha a ocorrer reciprocidade. Isso sugere que pode haver pouca motivação para que ps indivíduos prestem ajuda, informações e apoio a outras pessoas fisicamente e socialmente distantes na Internet, já que é menos provável que venham a ser recompensados ou recebam apoio em retorno, quando precisarem (Thorn e Donolly 1987; Constant et al. 1996).

Apesar disso, há evidência substantiva de apoio recíproco na Internet, mesmo no âmbito dos laços fracos (Hiltz et. Al. 1986). Constant et al. (1986), estudando o compartilhamento de informação em uma organização, sugere duas explicações para essa reciprocidade (ver também Constant et al. 1994). A primeira é que o fornecimento de ajuda e informações via Internet é um meio de expressar a identidade do indivíduo, particularmente se a especialização técnica ou o apoio a alguém são percebidos como parte integral desta identidade. Ajudar os outros pode aumentar a auto-estima, o respeito dos outros e a obtenção de status.

O estudo de Meyer (1989) sobre o mundo subterrâneo do computador confirma essa explicação sócio-psicológica. Quando envolvidos em atividade ilegais, os hackers precisam proteger suas identidades pessoais com pseudônimos. Se eles utilizam o mesmo apelido repetidamente, podem estar ajudando as autoridades a rastrea-los. Apesar disso, eles relutam em mudar seus pseudônimos regularmente, porque assim perdem o status associado a um apelido particular. Com um novo apelido, eles teriam de recomeçar do início o processo de obtenção do respeito do grupo. Apenas assim, os hackers podem vir a ser reconhecidos como membros de uma comunidade.

As normas de reciprocidade generalizada e de cidadania organizacional são outra razão para explicar por que as pessoas ajudam as outras online (Constante et al. 1996). Pessoas que têm forte ligação com a organização tendem a ajudar outras com problemas organizacionais. Normas como essas aparecem tipicamente em comunidades densamente ligadas, mas parecem ser comuns entre contribuintes freqüentes de listas de discussão e grupos de notícia. Pessoas com forte vinculação a grupos eletrônicos são as mais prováveis de participar e prover assistência as outras. Como Kollock e Smith (1996) argumentam:

Qualquer que seja o objetivo de um boletim de notícias online, seu sucesso depende de contribuições ativas e funcionais daqueles que escolheram participar dele. Se o objetivo do grupo de notícias é trocar informações e responder questões sobre um tópico específico, os participantes precisam estar querendo responder às questões levantadas por outros, sumariar e mandar réplicas às questões que eles mesmos fizeram e passar adiante informações que são relevantes para o grupo. (Kollock e Smith, 1996:116)

A ligação com o grupo está intrinsicamente ligada às normas de reciprocidade generalizada de ajuda a amigos mútuos. Pessoas que têm consideração positiva pelo sistema social no qual são feitos pedidos de ajuda tendem a mostrar respeito por aquele sistema, oferecendo sua ajuda, seja diretamente àqueles que tenham ajudado-lhes no passado, seja a completos estranhos (Constant et al. 1996). Rheingold, um participante da comunidade "WELL", escreve que "a pessoa que eu ajudo pode nunca estar em posição de me ajudar, mas alguma outra pode estar." (Rheingold 1993:60). Além disso, um de nós observou que aqueles que contribuíram ativamente na rede da BMW tiveram seus pedidos de consultoria respondidos mais rápido e mais amplamente. Isso se deve provavelmente ao fato de que as pessoas mandam a resposta ao grupo inteiro quando respondendo a uma questão individual.

Além de facilitar a expressão pessoal, o vínculo organizacional e a reciprocidade generalizada, a estrutura tecnológica e social da Internet fomenta o fornecimento de auxílio social sob outras formas. A logística e o custo social de participar de reuniões eletrônicas é relativamente baixo se a pessoa tem um computador (Sproull e Faraj 1995). As pessoas podem facilmente participar dentro do conforto e segurança de suas próprias casas ou escritórios, pelo intervalo de tempo que escolherem e conforme sua própria conveniência. Além disso, parece ser bem fácil providenciar assistência aos outros quando o grupo é grande. A acumulação de pequenos atos individuais de assistência pode sustentar uma grande comunidade, porque cada ato é visto por todo o grupo e ajuda a perpetuar uma imagem de reciprocidade generalizada e ajuda recíproca. As pessoas sabem que podem não receber ajuda das pessoas que ajudaram na última semana, mas a receberão de outros membros (Rheingold 1993; Barlow 1995; Lewis 1994).




Questão 4: vínculos fortes e íntimos são possíveis online?

Embora laços fracos floresçam em meio às comunidades virtuais, a estreiteza das comunicações mediadas por computador ou não contra seu oposto, os vínculos sociais fortes e próximos ? Quando as pessoas freqüentam chats, obtêm informações e encontram apoio na Internet, experimentam elas comunidades reais ou apenas o simulacro inadequado sobre o qual Jim Hightower e Mark Slouka alertaram?4 O teste é ver se a rede cria e sustenta laços sociais próximos, fortes e íntimos, que são a essência da comunidade. Teóricos das relações pessoais nos dizem que quanto mais forte é o laço, mais intensamente ele exibe estas características:

"(1) o sentimento de que a relação é íntima e especial, (2) com um investimento voluntário no laço e (3) um desejo de companheirismo com o parceiro de laço; (4) um interesse no estar junto o mais freqüentemente possível (5) em múltiplos contextos sociais (6) por um longo período; (7) um sentimento de cumplicidade mútua no relacionamento (8) com as necessidades do parceiro conhecidas e satisfeitas; (9) uma intimidade reforçada sobretudo por características sociais como sexo, status sócio-econômico, estágio no ciclo de vida e estilo de vida compartilhados." (Perlman e Fehr 1987; Blumstein e Kollock 1988)

Na prática, a maior parte dos laços fortes não contém a maioria dessas características. Por exemplo, amigos íntimos vivendo no exterior raramente podem se ver ou dedicar apoio mútuo, enquanto relacionamentos onde as pessoas se vêem freqüentemente são com vizinhos e colegas de trabalhos, cujos relacionamentos são raramente íntimos, voluntários ou sustentáveis (Wellman et al. 1988). Logo essa lista de nove características é mais uma tipologia com a qual se pode avaliar a força de relacionamentos online do que uma descrição precisa da natureza real de vínculos fortes.

Laços desse tipo, online, têm muitas características similares aos laços fortes offline. Eles estimulam contato (4) freqüente e (3) amistoso e são (2) voluntários, exceto em situações de trabalho. Uma ou duas tecladas são tudo o que é necessário para começar a obter respostas, facilitando a (7) reciprocidade (8) de laços mutuamente apoiados nas necessidades dos parceiros. Além disso, a ausência de lugar físico do contato que caracteriza o sistema de e-mail facilita (6) o contato a longa distãncia, sem a perda do laço que tão freqüentemente acompanha a mobilidade geográfica.

Mas se os relacionamentos são amistosos e auxiliares, são eles (1) realmente íntimos e especiais o suficiente para serem fortes e, mais, tendem eles a se manifestarem (5) em múltiplos contextos sociais? Parte dos medos dos entendidos que defendem a incapacidade da Internet em sustentar laços fortes está mal especificada. Os entendidos de ambos os lados, os entusiastas e críticos das comunidades virtuais, usualmente falam de relacionamentos como sendo exclusivamente online. Sua fixação na tecnologia leva-os a ignorar a quantidade de laços comunitários operando tanto online quanto offline, com a Internet sendo apenas um dos inúmeros meios de comunicação. A despeito de toda a conversa sobre comunidades virtuais que transcendem tempo e espaço, ocorre muito contato entre pessoas que vêem umas às outras diretamente e que vivem localmente. Nossa pesquisa em um meio de comunicação menos tendencioso, o telefone, descobriu que os habitantes de Toronto falavam mais com pessoas que moravam perto do que com os que moravam longe. Suas chamadas preenchiam as lacunas existentes no contato pessoal e serviam de arranjos para futuros encontros (Wellman 1996).

Todavia alguns relacionamentos mantêm-se principalmente online: podem ser fortes? Alguns analistas argumentaram que a amplitude relativamente baixa das comunicações mediadas por computador não pode por si mesma apoiar laços fortes (Beniger 1987; Jones 1995; Stoll 1995). Eles argumentam que sem sinais físicos e sociais ou sem retorno imediato, o email pode fomentar linguagem radical, dificuldades de coordenação e polarizações nos grupos (Kiesler e Sproull 1992; Hiltz e Turoff 1993). Talvez o meio em si não suporte relacionamentos fortes e íntimos; ou como os neo-McLuhanianos diriam: o meio pode não agüentar a mensagem (McLuhan 1965). Assim, Clifford Stoll (1995:24) preocupa-se com o fato de que na comunidade virtual a intimidade é ilusória: "Comunicação eletrônica é um contato instantâneo e ilusório, que cria um sentimento de intimidade sem o investimento emocional que leva a amizades fortes".

O debate ainda não está resolvido, porque a pesquisa acadêmica até agora se concentrou na presença de relações de apoio, nas relações íntimas em situação online mais do que nas relações das comunidades virtuais. (Entretanto, como mencionado acima, o apoio de colegas de trabalho online tem sido um efeito inesperado do que originalmente era visto como um meio instrumental, de amplitude limitada e focado na troca de informações.) Em um estudo, alguns participantes perceberam que seus amigos mais próximos eram membros de seus grupos eletrônicos, a quem eles raramente ou nunca viram (Hiltz e Turoff 1993). Walther (1995) argumenta similarmente que relações online são socialmente próximas, sugerindo que grupos de pessoas interagindo na Internet tornam-se mais pessoais e íntimos com o tempo. Ele aponta que a maioria das pesquisas experimentais analisa as interações sociais dentro de uma estrutura de tempo limitada, perdendo as nuanças das interações posteriores e o potencial das relações crescerem em proximidade com o tempo. Ele argumenta que o meio não proíbe as relações íntimas de crescerem, mas simplesmente desaceleram o processo. O desenvolvimento relacional leva mais tempo online do que em interações face-a-face, porque a comunicação é geralmente assíncrona (e mais lenta) e o canal disponível oferece menos informação verbal e não-verbal na troca. Os experimentos de Walther comparando grupos de estudantes reunidos online e em pessoa sugere que, com o tempo, as interações online podem ser tão sociáveis ou íntimas quanto as interações em pessoa. Em outras palavras, a Internet não impede a intimidade.

Há poucas análises sistemáticas da natureza e longevidade da intimidade online, fora os experimentos com estudantes universitários ou observações acidentalmente esclarecedoras da intimidade observada em trabalho cooperativo via computador (revisto em Garton e Wellman 1995). Apesar dos relatos da imprensa, o comportamento anti-social online pode não ser mais do que proferir observações "flamejantes" hostis e de entupir indivíduos e listas de discussão com emails descartáveis. Entretanto, estudos psico-sociais relatam que redes sociais veiculadas por computador parecem promover discussão desinibida, comportamento não-conformista e polarização intergrupos (Kiesler et al. 1985; Sproull e Kiesler 1991; Walther et al. 1994). Estudos de grupos de usuários de rede (e. g. Kollock e Smith 1996) relatam que muitos internautas apenas "espreitam" (lêem comentários de outros sem contribuir). Embora esse ato não contribua para o grupo, é um comportamento menos prejudicial para a moral deste já que a pessoa não é notado e, portanto, não tem o efeito nocivo do comportamento similar em situações face-a-face.

Com respeito a longevidade, não há estatísticas de (6) quão duráveis são relacionamentos pela Internet, embora um estudo mostre que as pessoas são mais aptas a participar ativamente em grupos online que elas percebem ser mais duradouros (Walther 1994). Nós notamos que a durabilidade de laços fortes da vida real pode ser mais um mito pastoral do que uma realidade corrente. Por exemplo, apenas 27 porcento dos laços da comunidade da vida real socialmente mais próxima de moradores de Toronto continuaram íntimos uma década depois (Wellman et al. 1997).

Por certo, há numerosas anedotas sobre comportamento anti-social online, tal como homens confiáveis enganando inocentes, aventureiros lotando a rede com propaganda, caçadores a espreita para importunar membros da rede e salafrários assumindo vários personagens. As histórias mais amplamente relatadas parecem ser sobre homens se fingindo de mulheres e seduzindo outras mulheres (e. g. Slouka 1995), mas os relatos sugerem que esses são incidentes provavelmente raros. Além disso, o mascaramento pode ter um aspecto criativo, permitindo que as pessoas experimentem diferentes papéis: os sistemas de comunicação em tempo real (Reid 1991) e o assíncrono EIES (Hiltz e Turoff 1993) encorajam a performance de papéis, permitindo aos participantes comunicarem-se por apelidos.

Uma ameaça muito maior para os relacionamentos comunitários é a facilidade com que as relações são rompidas. A literatura que discute o assunto mostra que a baixa amplitude do canal de comunicação facilita a interpretação errada de comentários e que a natureza assíncrona da maioria de conversações impede o reparo imediato de danos.

E quanto ao ponto (5), o fortalecimento de relações através de interações onde as pessoas desempenham múltiplos papéis e estão em diversas arenas sociais? Em relacionamentos múltiplos, um vizinho pode vir a ser um amigo, ou uma amizade pode ampliar-se a partir de um simples interesse compartilhado. A rede comporta tanto os relacionamento ditos especializados quanto os mais diversos. Grupos da Usenet e listas de discussão concentram interesses especiais, apesar dos relacionamentos online freqüentemente se ampliarem com o tempo. Por exemplo, um de nós observou que participantes freqüentes da lista de discussão da BMW sabem pouco uns dos outros, além do modelo de carro que dirigem e seu nível de conhecimento sobre reparos. De fato, as regras da lista de discussão proíbem comentários não relacionados a BMW.

Nossas observações de tais grupos sugerem que muitas interações online são o que Wireman (1984) chama "relacionamentos íntimos secundários": laços comunitários informais, freqüentes e apoiadores, que operam apenas em um domínio especializado. Embora Wireman tenha formulado suas análises com base em grupos com contato face-a-face, como organizações voluntárias, elas são bastante relevantes para o entendimento dos relacionamentos online.




Questão 5: como a comunidade virtual afeta a comunidade real ?

Vários escritores expressaram medo de que o alto envolvimento em comunidades virtuais possa mover as pessoas para longe dos envolvimentos em comunidades na vida real, que são mantidos por contato face-a-face, por telefone e postal. Certamente existem histórias de "ciberviciados" cujo grande envolvimento em relacionamentos online tirou-os de relacionamentos na vida real com a família e os amigos (Hiltz e Turoff 1993; Barlow 1995; Rheingold 1993; Kling 1996; Newsweek 1995). O vício pode até criar "ciberviúvos" como relata O´Neill (1995): "Eu estava chegando em casa cada vez mais tarde. Minha esposa pensou que eu havia começado a beber de novo. Apenas eu perco toda noção de tempo quando estou online. Eu sou um viciado."

Tais medos são infundados de muitas formas. Em primeiro lugar, eles tratam comunidade como um jogo sem conteúdo, assumindo que se pessoas gastam mais tempo interagindo online, elas gastam menos tempo interagindo na vida real. Segundo, as circunstâncias citadas demonstram a força e importância de laços online e não suas fraquezas. Como vimos na seção anterior, laços fortes e íntimos podem ser mantidos online tão bem quanto os face-a-face. Só o canto da sereia das comunidades virtuais aparenta estar seduzindo algumas pessoas para fora de sua vida real. Acreditamos, ao invés, que os críticos que desacreditam a autenticidade de tais laços fortes e íntimos são esnobes em negligenciar a seriedade com a qual os participantes da rede tomam seus relacionamentos.

Terceiro, suspeitamos que a excitação a respeito das implicações do email para o a comunidade projeta uma falsa comparação entre comunidades baseadas em email e comunidades da vida real baseadas no face-a-face. De fato, muitas comunidades modernas no mundo desenvolvido não se parecem com vilas rurais ou urbanas, onde todos se conhecem e têm contato face-a-face freqüente. Na verdade, muitos amigos e parentes que não vivem mais longe do que uma caminhada (ou uma pequena volta de carro) sustentam seus vínculos com o contatos telefônicos tanto quanto os encontros face-a-face (Wellman et al. 1988). Porém, enquanto as pessoas admitem hoje em dia o contato telefônico, ele era visto em 1940 como uma forma exótica e despersonalizada de comunicação (Fischer 1992). Suspeitamos que assim que a comunicação online tornar-se largamente usada e rotineiramente aceita, a corrente fascinação com ela vai declinar bruscamente. Ela será vista mais como o contato telefônico o é hoje e como a correspondência o era no tempo de Jane Austin: um meio racional de manter laços forte e fracos entre pessoas que não estão em condições de ter encontros face-a-face no momento. De fato, há vezes em que as pessoas preferem o contato por email do que face-a-face, porque podem controlar melhor sua fala e apresentação pessoal, podem controlar, também, o tempo de resposta, que não precisa ser exatamente momentâneo.

Quarto, as pessoas não dividem seus mundos nitidamente em dois grupos distintos: pessoas vistas face-a-face e pessoas contatadas online. Em vez disso, muitos laços comunitários se conectam tão bem offline quanto online. É o relacionamento que importa, não o meio de comunicação. O email é apenas um dos múltiplos meios pelos quais um relacionamento é mantido. Por exemplo, um grupo de cientistas da computação universitários intercala comunicação em pessoa e por email, freqüentemente usando o email para marcar encontros face-a-face (Haythornthwaite et al. 1995; Finholt e Sproull 1990). Em outro exemplo, empregados em um pequeno escritório se comunicam por email enquanto trabalham fisicamente lado-a-lado. Isso permite que eles batam papo online, dando a aparência de trabalhar aplicadamente em seus computadores (Garton 1995). Em tais situações, as conversações começadas em um meio podem continuar em outro. Assim como com o telefone e o fax, a baixa amplitude do email pode ser suficiente para manter laços fortes entre pessoas que se conheçam bem. Assim, "colégios invisíveis" de estudantes comunicam-se a grandes distâncias por email e outras mídias (Kaufer e Carley 1993), enquanto redes de parentesco utilizam a Internet para arranjar casamentos e visitas fora da cidade.

Quinto, embora muitos relacionamentos online continuem especializados, a inclusão de endereços de email em mensagens e cabeçalhos de fóruns de discussão proporcionam a base para o desenvolvimento de relacionamentos mais complexos entre os participantes (Rheingold 1993; King 1994; Hiltz e Turoff 1993). Por exemplo, a pesquisa survey de King sobre a recuperação de viciados em grupos eletrônicos reporta que 58% dos respondentes fizeram contato com outros conhecidos da Internet por telefone, carta ou face-a-face (King 1994). Seus achados comprovam a hipótese de Walther mencionada (1995): quanto mais um viciado freqüentava um grupo eletrônico, mais provável era que o viciado contatasse os outros offline. Tal multiplicidade foi encontrada em outro lugar: "Durante e seguindo a Conferência '72, uma parcela significativa de participantes alteraram seus negócios e planos de viagens nas férias para incluir encontros face-a-face com algum outro" (Hiltz e Turoff 1993:114).

Como nessa situação, o desenvolvimento da multiplicidade pode envolver a conversão de relacionamentos que operam apenas online para aqueles que incluem encontros pessoais e telefônicos. Assim como os laços que começaram pessoalmente podem sustentar-se através de emails, os laços online podem ser reforçados e ampliados através de contatos pessoais. Na ausência de pistas sociais e físicas, as pessoas podem encontrar-se e conhecer-se na Internet e então decidir em que momento devem trazer o relacionamento para um domínio mais amplo. Por exemplo, em um grupo de discussão dedicado ao tópico de planejar casamentos, um de nós observou uma mulher explicando que alguns de seus convidados eram pessoas que ela nunca tinha visto, mas conhecia há algum tempo pela Internet.

Em suma, a Internet sustenta uma variedade de laços comunitários, incluindo alguns que são bem próximos e íntimos. Mas enquanto há preocupação legítima sobre até que ponto a intimidade verdadeira é possível em relacionamentos operados apenas online, a Internet promove o funcionamento de relacionamentos íntimos secundários e vinculações fracas que, porém, não são insignificantes. Eles não apenas sustentam importantes, porém mais especializados, relacionamentos. A vasta maioria dos laços interpessoais informais são laços fracos, quer operem online ou face-a-face. Pesquisa recente sugere que os norte-americanos usualmente têm mais de mil relações interpessoais, mas que apenas a metade deles são íntimos e não mais que 50 são significativamente fortes (Kochen 1989; Wellman 1992b). Todavia, no conjunto, os outros 950 laços dessa pessoa são importantes fontes de informação, apoio, companheirismo e um sentimento de pertença.




Questão 6: A Internet aumenta a diversidade comunitária ?

Neste ponto, consideramos a capacidade da Internet em sustentar laços comunitários. Uma comunidade é mais do que a soma de um conjunto de laços. Compõe-se e atua como uma estrutura afetiva, que dá suporte a relações de companheirismo, informação e um sentimento de identidade.

Consideremos dois tipos de comunidades. As comunidades tradicionais da nostalgia pastoral eram densamente entrelaçadas, assemelhando-se à estrutura de uma aldeia composta de membros socialmente parecidos. Estrutura e composição davam-lhe a capacidade comunicativa de coordenar e controlar o suprimento de recursos de sustentação para a satisfação das necessidades dos membros da comunidade. Tinham a tendência a serem fechadas, pouco propensas à inovação.

Nas sociedades ocidentais contemporâneas, tais comunidades tradicionais são tipicamente encontradas em áreas rurais isoladas ou núcleos de imigrantes pobres (por ex. Gans, 1962), mas até mesmo estas comunidades têm laços significativos com o mundo exterior (Allen e Dillman, 1994).

A maioria das comunidades ocidentais contemporâneas não se assemelha às vilas pré-industriais, por serem socialmente diversas, pouco entrelaçadas e bem conectadas ao mundo exterior (Wellman et. al, 1988). São comunidades parciais, que não monopolizam todos os interesses da pessoa. Cada pessoa é um membro único de múltiplas comunidades, tais como grupo de parentesco, vizinhança e círculos de amizade. Esta heterogeneidade das comunidades de baixa densidade não exerce sobre seus membros o mesmo controle que é exercido pelas comunidades tradicionais, pois os membros descontentes sempre podem mudar sua atenção para outras esferas. Embora estas comunidades não controlem os recursos tão bem quanto as estruturas das comunidades tradicionais, elas são melhores na aquisição de recursos externos. A multiplicidade de ramificações comunitárias introduz cada membro em um conjunto mais variado de mundos sociais, com fontes de informação e apoio social heterogêneos e não-redundantes (Fischer 1975).

Embora os MUDs (Multi-User Dungeons) e ambientes similares às vezes se assemelhem às estruturas das comunidades tradicionais no modo de atrair a atenção de alguns participantes, as pessoas raramente dispensam todo o seu tempo nesses espaços. Antes disso, a tendência da Internet é de incentivar a participação múltipla em comunidades especializadas. As pessoas muitas vezes cadastram-se em dezenas de listas de discussão e grupos de notícia. Elas podem facilmente enviar mensagens para listas pessoais ou criar suas próprias, talvez mantendo diferentes listas com variados tipos de conversação. Além disso, elas podem alternar seus envolvimentos em diferentes comunidades, participando ativamente em algumas, ocasionalmente em outras e sendo apenas um observador em muitas outras.

Deste modo, as comunidades estimulam sempre novas conexões. A Internet facilita o ato de convidar conhecidos distantes e estranhos para comunicação e informação via e-mail (listas de distribuição, grupos de notícia etc.). Quando um laço forte é incapaz de produzir informação, a mesma será buscada de laços mais frágeis. As conexões mais fortes são mais prováveis de engajarem pessoas mais parecidas socialmente e de levar ao conhecimento das mesmas pessoas de sempre. Por isso estão mais aptos a controlar a mesma informação. Em contraste, a nova informação tende a vir através de laços mais fracos, melhor conectados entre si, em círculos sociais mais diversificados. (Granovetter 1973).

A Internet promove a expansão das redes comunitárias. As novidades podem chegar espontaneamente das listas de discussões, boletins de notícia e mensagens encaminhadas de amigos que acham que você gostaria de saber aquilo. Os amigos enviam mensagens a terceiros e, assim o fazendo, promovem contato indireto entre pessoas antes desconectadas, que agora podem fazer contato direto. Os boletins de notícias e listas de discussão são permeáveis, mudando o grupo de participantes, sendo que os que possuem maior afinidade continuam a relacionar-se por e-mail. Esta flexibilidade no tamanho e proximidade de um grupo que se comunica na Internet pode ampliar a diversidade de encontros pessoais (Lea and Spears 1995).

Paradoxalmente, a relativa falta de riqueza social na Internet pode fomentar contatos entre pessoas com características diversas. O desconhecimento das características sócio-físicas online, torna difícil determinar se um membro da rede tem aspectos sociais similares ao do correspondente ou se é fisicamente atraente (Sproull and Kiesler 1986). As regras da rede desencorajam a perguntar se alguém tem status, é bonito ou feio (como um cão em um desenho nova-iorquino diz a outro: "Na Internet ninguém sabe se você é um cachorro." (Steiner 1993). Deste modo, a falta de envolvimentos pessoais pode estimular, nos participantes, mais controle sobre a velocidade e o conteúdo de suas autodescobertas. Isso permite às relações desenvolver, no início da comunicação, o compartilhamento de interesses, antes que elas se esvaziem devido ao choque de status sociais.

A preocupação com os interesses compartilhados, antes das características comuns, pode potencializar, por outro lado, a formação de grupos de baixo status e de excluídos. Considere-se, por exemplo, a situação de Amy, no romance de Douglas Coupland:

"(Amy) disse-me que, em toda sua vida, somente tinham lhe tratado como uma simples pessoa ou uma garota - ou ambas. Interagir com (seu amante virtual) Michel na Internet (onde ela usou um pseudônimo de gênero indefinido "Bar Code" ) foi a única maneira pela qual ela realmente pode saber que ele estava falando para ela e não com seu conceito de "ela". "Revele seu sexo na Internet e você estará frito." Ela considerou sua situação. " É uma visão atual do rico que se veste de pobre e encontra sua princesa. Mas dane-se a princesa - ambos somos reis. (Coupland 1995: 334)

Como Amy/Bar Code observa, as características sociais não desaparecem completamente na Internet. Mulheres, em particular, recebem atenção especial de homens, e podem sentir-se incomodadas (ou fingirem-se incomodadas) em participar ativamente. (Herring 1996; O´Brien, Capítulo 4 deste volume). Isso pode ser o resultado da desproporção entre homens e mulheres na Internet. (Pitkow and Kehoe 1995).

A possibilidade de diversificar as comunidades depende por sua vez da diversidade social da população da rede. Até agora um levantamento de usuários da rede na primavera de 1995, constatou que as mulheres compreendiam menos de um quinto da amostra, proporção que chegou a dobrar nos últimos seis meses (Pitkow and Kehoe 1995: os autores notam que a conveniência dessa amostra pode não ser representativa). A pesquisa mostrou que aproximadamente dois terços dos entrevistados tinham no mínimo algum tempo de universidade, possuíam uma média de renda de U$ 59.600 e três quartos viviam na América do Norte.

O fato da maioria dos amigos e parentes viverem a quilômetros de distância geralmente facilita mais a manutenção de relacionamentos on-line do que pessoalmente (Welman et al. 1988). Na verdade, a fidelidade das pessoas nas comunidades da Internet pode ser mais forte do que entre vizinhos, porque numa mesma comunidade virtual compartilha-se mais interesses do que quando se vive num mesmo condomínio. Howard Rheingold define seu compromissos com os encontros de pais Well (uma das primeiras comunidades virtuais - N. dos T.) nos seguintes termos:

"As pessoas que você conhece como sendo estúpidas, que se opõe severamente à intelectualidade, num outro contexto lhe dão suporte emocional mais profundo, como a um familiar, criam um pequeno mas terno recanto no ciberespaço." (Rheingold 1993: 18).

As comunidades fundamentadas em interesses compartilhados podem fomentar outras formas de homogeneidade. Apesar do seu potencial de mediação para conectar diversas culturas e ideologias, nós supomos que as pessoas são geralmente atraídas para grupos eletrônicos que possam vinculá-las a outras com interesses comuns. A participação exclusiva em um grupo da Internet pode ter um efeito de integração; a falta de informação sobre as características pessoais pode promover a atração entre pessoas do mesmo grupo. (Lea and Spears 1992).

Questão 7: Comunidades Virtuais são Comunidades Reais?

Apesar da limitada presença social nas conexões on-line, a Internet tanto mantém os laços comunitários sustentáveis e fortes como aumenta o número e a diversidade de laços fracos. A Internet é especialmente apropriada para manter os laços fortes de intermediação entre as pessoas que não podem ver-se freqüentemente. As conexões online estão baseadas mais nos interesses compartilhados e menos nas características sociais compartilhadas. Embora alguns relacionamentos funcionem fora da Internet tão bem quanto nela, as redes sociais amparadas por computador (CSSN´s) estão desenvolvendo normas e estruturas próprias. Elas não são apenas pálidas imitações da vida real. A Internet é a Internet.

As poucas evidências disponíveis sugerem que as ligações pessoais surgidas e mantidas no ciberespaço se assemelham muito àquelas desenvolvidas nas comunidades da vida real: intermitentes, especializadas e alternando a intensidade. Da mesma forma que na vida real, as pessoas precisam manter diferenciadas coleções de vínculos para obter uma grande variedade de recursos. Mas nas comunidades virtuais a metáfora de mercado na aquisição de suporte em laços especializados é ainda mais exagerada do que na vida real. De fato, a vasta arquitetura das redes de computadores promove situações similares às do mercado. Por exemplo, decisões sobre em que boletim de notícias ingressar podem ser tomadas a partir de menus de tópicos que listam todas as possibilidades de escolha, enquanto um pedido de auxílio pode ser transmitido a um vasto público do conforto de casa, sem ter que fazê-lo individualmente a cada pessoa. Desta forma, enquanto os laços on-line podem ser especializados, o conjunto de laços agregados nas comunidades virtuais estão aptos a suprir um vasto espaço de suporte.

O suprimento de informações é amplo tanto nos laços online quanto nos laços da vida real. Até agora, apesar da limitada presença social nos laços online, companheirismo, apoio emocional, serviços e um sentido de identidade são coisa que não falta no ciberespaço. Além disso, enquanto não é possível enviar bens materiais pela Internet, ela permite combinações para providenciar bens e serviços. O mecanismo ou o funcionamento envolvido na manutenção de laços de apoio na Internet existem tanto nas redes de comunidades virtuais como na vida real. Tais como outras formas de comunidade, as comunidades virtuais são recursos úteis, significando que ambas dão e recebem apoio social.

As comunidades virtuais se diferenciam das comunidades da vida real principalmente no fato dos participantes perceberem que seus relacionamentos são íntimos. Na Internet, as pessoas têm maior tendência para basear seus sentimentos de proximidade, principalmente em interesses compartilhados, do que baseado em características sociais compartilhadas, tais como gênero ou status sócio-econômico. Destrte, elas tendem a ser homogêneas nos seus interesses e atitudes, assim como são provavelmente heterogêneas na idade, classe social, etnia, estado civil e outros aspectos de sua base social. Os interesses homogêneos dos participantes das comunidades virtuais podem estar criando níveis relativamente mais elevados de empatia e apoio mútuo (Lazarsfeld e Merton 1954; Marsden 1983).

A arquitetura da rede pode proporcionar significativas alterações de tamanho, composição e estrutura nas comunidades. Embora nenhum estudo tenha dado conta do número de laços existentes nas comunidades virtuais, pode-se dizer que a arquitetura da Internet sustenta e mantém grande número de laços comunitários, especialmente os não-íntimos. As listas de discussão e boletins de notícia normalmente envolvem centenas de membros, porque é fácil para cada pessoa enviar notas rápidas ou longas cartas para muitos amigos e conhecidos. O baixo custo da estrutura permite transcender os limites espaciais ainda mais que o telefone, o carro ou avião, porque a sua natureza assíncrona permite que as pessoas se comuniquem em tempos e lugares diferentes. Baseando-se nisso, poderia ser que os que laços relativamente latentes existentes se tornassem contatos mais ativos até que os participantes tenham a oportunidade de se conhecer pessoalmente. Promovendo o contato online desta maneira, a Internet pode até mesmo proporcionar encontros mais freqüentes entre pessoas que, de outro modo, tenderiam a esquecerem-se uma das outras.

Considerando a estrutura das comunidades, a Internet alimenta dois fenômenos um tanto contraditórios. Grupos de notícias especializados, listas de discussão e similares promovem a multiplicação de afiliações em comunidades parciais. Ao mesmo tempo, a facilidade do grupo em responder e encaminhar pode favorecer desdobramentos arcaicos e separar os participantes de acordo com sub-comunidades.

Operando via Internet, as comunidades virtuais são glocalizadas. Simultaneamente globais e locais, com conexões espalhadas pelo mundo onde se intersectam assuntos domésticos. As conectividades globais não enfatizam a importância da localização da comunidade; os relacionamentos online podem ser mais estimulantes do que as vizinhanças suburbanas. Ao mesmo tempo, as pessoas estão instaladas normalmente nas suas próprias casas, o ambiente mais local imaginável, quando se conectam com suas comunidades virtuais, e suas vidas podem se tornar muito mais centradas em seus lares se eles teletrabalharem. (Wellman et al. 1996). Assim como antes da Revolução Industrial, casa e local de trabalho estão agora sendo integrados por teletrabalhadores, apesar dos papéis de gênero não terem sido renegociados. O ambiente doméstico dos teletrabalhadores tem se tornado um espaço vital para o neo-operários sentaren à frente das suas telas de computadores. Os ninhos estão se tornando bem empenados, e os teletrabalhadores estarão melhor posicionados para pôr os olhos nas ruas do que o está a relação de vizinhança (Jacobs 1961).

Os entendidos no assunto preocupam-se que comunidades virtuais podem não ser verdadeiramente comunidades. Preocupações como esses confundem o mito pastoralista de comunidade para a realidade. Os vícnulos comunitários já são geograficamente dispersos, são pontos separados em uma malha, conectados fortemente por telecomunicações (telefone e fax) e especializados em seu conteúdo. Existe pouca vida comunitária na maioria das vizinhanças das cidades ocidentais, onde é mais útil pensar que cada pessoa procura ter uma comunidade pessoal: uma rede social individual de laços interpessoais informais, agrupando desde meia dúzia de amigos até centenas de laços fracos com estranhos. Assim como a Internet suporta comunidades nos moldes de uma vizinhança, com laços densamente tramados, também comporta comunidades pessoais, não importando em que espaços sociais ou geográficos estes laços estejam localizados ou quão dispersos eles possam estar.

As comunidades grupais ou pessoais operam tão bem online quando offline. Wellman recebe diariamente e-mails amplamente distribuídos de seus grupos de aficcionados por BMW e analistas de redes sociais. Ele lê as mensagens dos grupos de discussão e é lido por todos. As mensagens de grupos comunitários restringem seu foco nos interesses do grupo. (Hiltz and Turoff 1993). Por exemplo, nenhum integrante do grupo de análise de redes sociais está interessado em BMWs e vice-versa.

Wellman mantém ao mesmo tempo um arquivo com endereços de e-mail de mais de 800 membros de sua comunidade pessoal. Como criador, mantenedor e centro desta rede, ele é o único que inicia as conversações com sua comunidade. Normalmente, os correspondentes respondem suas mensagens de maneira particular, embora alguns programas de e-mail facilitem replicar para todos aqueles que receberam a mensagem. Por sua natureza, esta comunidade pessoal se interconecta com o espaço das comunidades parciais. Destarte, cada comunidade provê a base para estabelecer laços que podem ser ligados a grupos que de outra forma estariam desconectados.

Talvez, a proliferação da comunicação mediada por computador venha a produzir uma oposição à recente privatização das comunidades. No século 20, as comunidades têm se movimentado para dentro das casas ou ambientes acessíveis, tais como cafés e bares. Os ocidentais estão gastando menos tempo em lugares públicos, onde esperavam por amigos para passear e apresentá-los uns aos outros (Wellman 1992a). Até os franceses estão indo menos freqüentemente a cafés (Economist 1995). Em vez disso, os encontros privados e conversas telefônicas particulares tornaram-se moda. Essa dispersão e privatização significam que, em vez de ficarem em um café ou bar esperando conhecidos para se sentar junto, as pessoas sentem necessidade efetiva de entrar em contato com membros de comunidades para conversar. O resultado é, provavelmente, uma diminuição do volume de contatos [offline] entre os membros de uma comunidade.

A comunicação mediada por computador acelera o modo como as pessoas interagem no centro das comunidades parciais e pessoais, mudando rápida e freqüentemente de um grupos para outro de relacionamentos. As pessoas têm uma grande habilidade em fazerem esse movimento. Ao mesmo tempo, seus comportamentos individualistas significam o enfraquecimento da solidariedade que vem sendo densamente tramada, ao ampliar os limites do grupo. (Wellman 1997).

Até agora, as comunidades virtuais proporcionaram possibilidades para reverter a tendência a um menor número de contatos entre membros de uma comunidade, porque tornou-se fácil conectar-se online a um grande número de pessoas. Por exemplo, um de nós tem uma lista de amigos pessoais de oito membros e freqüentemente envia para os mesmos piadas, pensamentos e escritos sobre experiências de vida. Tal tipo de mensagem estimula o retorno de dez a vinte réplicas, além de outras vindas de fora, enviadas por outros para seus amigos online. Comunidades tais como "grupos de Chat" , normalmente estimulam a comunicação de uma outra forma. O fato de todos os participantes poderem ler todas as mensagens - como numa conversa de bar, onde grupos de pessoas podem falar umas com as outras casualmente e buscar conhecer os amigos de seus amigos. " O teclado é meu bar" entusiasma-se William Mitchel. (1995: 7).

Do mesmo modo que a Internet pode acelerar a tendência em mover as interações comunitárias para fora dos espaços públicos, pode também integrar sociedades e estimular a confiança pública. (Putnam 1995). A Internet facilita a que os laços fortes e fracos cruzem com ambientes sociais - sejam eles grupos de interesse, localidades, organizações ou nações - fazendo com que os ciberlinks entre pessoas se tornem links sociais entre grupos que de outra maneira seriam socialmente e fisicamente dispersos (Wellman 1988b).

Concluímos este capítulo mais como pretensos entendedores e como contadores de história do que como pesquisadores. Como outros antes de nós, argumetnamos com, base em asserções e anedotas. Isso porque a falta de metodologia para pesquisa em comunidades virtuais tem levantado mais questionamentos do que alguma resposta prévia. Como disse um famoso tecnólogo de vanguarda de Bellcore , quando os "cientistas falam sobre a evolução da infra-estrutura da informação, ... (nós não) estamos falando sobre... a tecnologia. Nós falamos sobre ética, direito, política e sociologia, pois ela é uma invenção social. (Lucky 1995: 205).

Chegou a hora de substituir anedotas por evidências. O assunto é importante: na prática, academicamente e politicamente. As respostas ainda não foram encontradas. Entretanto, as perguntas continuam a ser formuladas.




Tradução de Antenor Vicente Junior, Josmar Leite e Andrey Damo. Revisão de Vanessa Pereira e Francisco Rüdiger.




*"Virtual communities as communities: Net surfers don't ride alone". In Marc Smith & Peter Kollock (orgs.): Communities in cyberspace. Londres: Routledge, 1999. Barry Wellman é professor de sociologia da Universidade de Toronto. Milena Gulia é doutora em sociologia pela mesma Universidade.


NOTAS



1.Mensagem na Internet da lista de distribuição dos usuários "Apple" em 3 de agosto de 1995. Convenientemente, a mensagem foi encaminhada para Wellman em Toronto por Steven Friedman, um membro da lista de discussão e amigo de Wellman que vive em Israel. A interação ainda não é exclusivamente um produto da comunidade virtual. A relação entre Wellman e Friedman desenvolveu-se a partir de uma íntima amizade de infância da esposa de Wellman e foi reforçada quando os Wellman passaram em abril de 1995 por Israel.
2.Colocamos "vida real" entre aspas porque acreditamos que a interação na Internet é tão vida real quanto outra qualquer. Entretanto, continuamos a usar "vida real" entre aspas nesse capítulo porque é útil fazer o contraste entre relações on-line e outros tipos de laços comunitários.
3.Focalizamos esse capítulo os sistemas de comunicação mediada por computador (CMC), que são primariamente baseados em textos e, a princípio, usados com razões pessoais e recreativas. Isso inclui tanto o modo síncrono como assíncrono dessa comunicação, como a Internet, e Chats (i. e. Internet Relay Chat) e-mail, grupos de discussão, fóruns virtuais, redes comerciais como American Online ou Prodigy, MUD´s, MOO´s, etc. Apesar de alguns desses sistemas não serem literalmente parte da Internet, estão rapidamente se conectando a ela. Por isso, ao menos que façamos distinções especiais, nos referimos aqui ao resumo de todos esses sistemas como "Internet", ou simplesmente "a rede". De fato, a rede nunca foi uma entidade única: é a "rede das redes", uma forma identificada pela primeira vez por Craven e Wellman (1973). Excluimos aqui a análise de vídeofones, videoconferências e outras formas de comunicação mediada por computador baseadas em vídeo, que são agora largamente usadas em grandes organizações ou experimentalmente por acadêmicos. Para informações sobre plataformas de vídeo-conferências, veja Garton (1995).
4.Os devotos das ciências da computação e ficção científica já estão cientes que os membros de comunidades virtuais, num futuro próximo, devem interagir via mecanismos de simulação. Ao invés de mandar mensagem de textos, vamos interagor através de imagens animadas (Commnunications of the ACM 1994). Vários sistemas de chat experimentais, usando "avatares" gráficos, já existem, como o Alphaword na Internet e o Worldsaway na rede Compuserve. "Agentes" não gráficos (baseados em texto) se proliferaram rapidamente na rede desde 1995. Embora esses agentes sejam muito usados para procurar na World Wide Web informações relevantes, eles devem em breve ter a capacidade de interação com os habitantes da rede (de arquivos para humanos) que encontrarem. (Morris 1998).
5.Nosso próprio estudo de uma comunidade de "vida real" em Toronto, fornece base para aceitar os juízos que as pessoas fazem acerca dos laços fortes. Pedimos aos participantes do estudo para diferenciarem entre suas relações mais íntimas e as menos fortes, e codificamos nossos conceitos de intimidade independentemente. As correlações foram extremamente altas (> 0,90 ) entre as respostas dos participantes e nossa codificação de "especialistas".
6.É claro que qualquer contato intergrupal pode não ser benigno. Os Guardian Angels, um grupo de voluntários formado em 1979 para patrulhar espaços públicos de Nova Iorque, criaram os "Cyber Angels" para procurar na Internet as "atividades suspeitas" que pudessem indicar crimes contra crianças ou ódio entre os grupos. Os Guardian Angels estão indo onde a ação está, tendo em vista que, com a privatização das comunidades, as ruas estão ficando mais vazias ( Atlanta Journal Constituition 1995).




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