Racionalização Subversiva: Tecnologia, Poder e Democracia1

Andrew Feenberg




Os Limites da Teoria Democrática

A tecnologia é uma das principais fontes de poder público nas sociedades modernas. Quando as decisões que afetam nosso dia-a-dia são discutidas, a democracia política é inteiramente obscurecida pelo enorme poder exercido pelos senhores dos sistemas técnicos: líderes corporativos e militares; associações profissionais de grupos como os médicos e engenheiros. Eles detêm mais controle sobre os padrões de crescimento urbano, o desenho das habitações e dos sistemas de transporte, a seleção das inovações, sobre nossa experiência como empregados, pacientes e consumidores do que todas as instituições governamentais de nossa sociedade juntas.

Marx constata o advento desta situação se iniciando no meio do século XIX. Ele questionava se a teoria democrática tradicional não teria errado ao tratar a economia como um domínio extra-político, regido por leis naturais tal como a lei da oferta e da procura. Ele dizia que nós permaneceríamos alienados e sem direitos civis na medida que não tivéssemos participação no processo das decisões industriais. A democracia deve ser estendida do domínio político para o mundo do trabalho. Esta é a demanda subjacente que está pôr atrás da idéia de socialismo.

As sociedades modernas foram desafiadas por esta demanda pôr mais de um século. A teoria da política democrática não oferece nenhuma razão convincente de princípios que rejeite isto. De fato, muitos teóricos da socialistas democracia o endossam.2 Além disso, em muitos países, as vitórias parlamentares ou as revoluções levaram ao poder partidos dedicados a alcançá-la. Porém, ainda hoje, parece que não estamos mais perto da democratização industrial do que estávamos nos tempos de Marx.

Este estágio de interesses é explicado normalmente de uma das duas maneiras possíveis. Por um lado, a visão do senso comum considera a tecnologia moderna incompatível com a democracia no mercado trabalho. A teoria democrática não pode pressionar as reformas que destruíriam os pilares econômicos da sociedade. Para provar isto basta considerar o caso soviético: embora fossem socialistas, os comunistas não democratizaram a indústria, e a democracia atual da sociedade soviética só vai até o portão da fábrica. Pelo menos na ex-União Soviética, todo mundo podia concordar com a necessidade de uma administração industrial autoritária.

Por outro lado, uma minoria de teóricos radicais reivindica que esta tecnologia não é a responsável pela concentração do poder industrial. Isto é uma questão política que está relacionada à vitória do capitalismo e das elites comunistas nas lutas com o povo. Sem dúvida, a tecnologia moderna se rendeu à administração autoritária, mas em um contexto social diferente poderia da mesma maneira, ser operacionalizada democraticamente.

A seguir, argumentarei por uma versão qualificada desta segunda posição, um pouco diferente da versão marxista habitual e das formulações social-democráticas. Essa qualificação se preocupa com o papel da tecnologia, que eu vejo, nem como determinante nem como neutro. Discutirei como as modernas formas de hegemonia estão baseadas na mediação técnica de uma variedade de atividades sociais, seja na produção ou na medicina; na educação ou no exército, e que, conseqüentemente, a democratização de nossa sociedade requer tanto mudanças técnicas radicais quanto mudanças políticas.

Esta é uma posição controvertida. A tecnologia, na visão do senso comum, limita a democracia aos estados. Entretanto, acredito que, a menos que a democracia possa ser estendida além de seus limites tradicionais para os domínios tecnicamente mediados da vida social, seu valor de uso continuará declinando, sua participação diminuirá, e as instituições que identificamos como sendo parte de uma sociedade livre desaparecerão gradualmente.

Volto agora para o meu argumento de fundo. Começarei apresentando uma avaliação de várias teorias que afirmam que da mesma maneira que as sociedades modernas dependem da tecnologia, elas requerem uma hierarquia autoritária. Estas teorias pressupõem uma forma de determinismo tecnológico que é refutado através de argumentos históricos e sociológicos que resumirei brevemente. Apresentarei então um esboço de uma teoria não-determinista da sociedade moderna que chamo de "teoria crítica da tecnologia." Esta alternativa enfatiza aspectos do contexto tecnológico ignorados pela visão dominante. Argumentarei que a tecnologia não é só o controle racional da natureza; juntos, seu desenvolvimento e seu impacto são, intrinsicamente, sociais. Mostrarei então que esta visão arruina a confiança habitual na eficiência como um critério de desenvolvimento tecnológico. Aquela conclusão, em troca desta, abre largas possibilidades de mudança que foram excluídas pela compreensão habitual que se tem da tecnologia.



Modernidade Distópica

A famosa teoria de Max Weber sobre a racionalização é o argumento original contra a democracia industrial. O título deste ensaio insinua uma reversão provocativa nas conclusões de Weber. Ele definiu racionalização como o papel crescente do controle da vida social, uma tendência que conduz ao que ele chamou de a 'gaiola de ferro' da burocracia. Racionalização "subversiva" é assim uma contradição de termos.3

Uma vez que a tradicional luta contra a racionalização estiver anulada, uma maior resistência no universo weberiano pode somente reafirmar os impulsos irracionais contra a rotina e a previsibilidade enfadonha. Este não é um sistema democrático, mas um sistema romântico distópico que foi previsto nas "Notes From Underground" de Dostoievsky e em várias ideologias naturalistas.

Meu título rejeita a dicotomia entre hierarquia racional e o protesto irracional implícito na posição de Weber. Se a hierarquia social autoritária é verdadeiramente uma dimensão contingente do progresso técnico, como acredito, e não uma necessidade técnica, então deve haver um modo alternativo de racionalizar. Nós não precisamos voltar à ordem natural das coisas ou ao submundo para preservar valores ameaçados como a liberdade e a individualidade.

Mas as críticas mais poderosas à sociedade tecnológica moderna seguem diretamente nos passos de Weber rejeitando esta possibilidade. Eu estou pensando na formulação de Heidegger de 'a pergunta da tecnologia' e a teoria de Ellul de "o fenômeno técnico".4 De acordo com estas teorias, nós nos tornamos pouco mais que objetos da técnica, incorporados em um mecanismo criado por nós mesmos. Como Marshall McLuhan colocou, a tecnologia nos reduziu a "órgãos sexuais das máquinas." A única esperança é uma renovação espiritual vagamente evocada que é muito abstrata para dar início a uma nova prática técnica.

Estas são teorias interessantes, mas eu tenho que pagar tributo à contribuição deles e abrir um espaço de reflexão sobre a tecnologia moderna. Para aprofundar meu argumento, me concentrarei na sua falha principal: a identificação da tecnologia em geral com as tecnologias específicas que se desenvolveram no último século no Ocidente. Estas são tecnologias de conquista que fingem ter uma autonomia sem precedentes; suas fontes sociais e impactos estão escondidos. Discutirei que este tipo de tecnologia é uma característica particular de nossa sociedade e não uma dimensão universal da 'modernidade' como tal.



Determinismo tecnológico

O determinismo se baseia na suposição de que as tecnologias têm uma lógica funcional autônoma que pode ser explicada sem se fazer referência à sociedade. Presumivelmente a tecnologia é só social apenas em relação ao propósito ao qual serve, e propósitos estão na mente do observador. A tecnologia se assemelharia assim à ciência e à matemática devido sua independência do mundo social.

Ainda que seja distinta da ciência e da matemática, a tecnologia tem impactos sociais imediatos e poderosos. Pareceria que o destino daquela sociedade é, pelo menos, parcialmente dependente de um fator não-social que influencia isto sem sofrer influência recíproca. Isto é o que significa "determinismo tecnológico."

As visões distópicas da modernidade que eu tenho descrito são determinantes. Se nós quisermos afirmar as potencialidades democráticas da indústria moderna, então teremos que desafiar as premissas do seu determinismo. Estes eu chamarei de a tese do progresso unilinear e a tese de determinação pela base. Eis um breve resumo destas duas posições:

1. O progresso técnico aparece seguir um curso unilinear, um curso fixo, das configurações menos avançadas para as mais avançadas. Embora esta conclusão pareça óbvia de um olhar retrospectivo sobre o desenvolvimento familiar-técnico, isto se baseia de fato em duas reivindicações de plausibilidade desigual: primeiro, aquele progresso técnico procede desde os níveis mais baixos para os mais altos níveis de desenvolvimento; em segundo, que este desenvolvimento segue uma única sucessão de fases necessárias. Como veremos, a primeira reivindicação é independente da segunda e não é necessariamente determinista.

2. O determinismo tecnológico também afirma que as instituições sociais têm se adaptar aos "imperativos da base tecnológica". Esta visão que, sem nenhuma dúvida, tem sua fonte em uma certa leitura de Marx, é agora parte do senso comum das ciências sociais.5 Abaixo, discutirei em detalhes uma de suas implicações: o suposto comércio entre prosperidade e ideologia ambiental.

Estas duas teses de determinismo tecnológico apresentam de modo descontextualizado e auto-gerador como sendo o único fundamento da sociedade moderna. O determinismo assim insinua que nossa tecnologia e suas estruturas institucionais correspondentes são universais, na verdade planetárias, em objetivo. Pode haver muitas formas de sociedade tribal, muitos feudalismos, até mesmo muitas formas de capitalismo primitivo, mas há só uma modernidade e ela é exemplificada em nossa sociedade, para o bem ou para o mal. As sociedades em desenvolvimento deveriam tomar nota: como Marx uma vez disse chamando a atenção dos compatriotas alemães que tinham ficado para atrás sobre os avanços britânicos: 'De te fabula narratur' - é de vocês que aqui se fala.6



Construtivismo

As implicações do determinismo aparecem tão óbvias que é surpreendente descobrir que nenhuma de suas duas teses pode resistir a escrutínio mais próximo. Ainda que a sociologia contemporânea da tecnologia arruine a primeira tese sobre o progresso unilinear, pois os precedentes históricos são inadequados à segunda tese de determinação pela base.

Uma recente sociologia construtivista da tecnologia cresce a partir dos novos estudos sociais da ciência. Estes estudos questionam nossa tendência de isentar teorias científicas do tipo de exame sociológico ao qual submetemos as crenças não-científicas. Eles afirmam o 'princípio de simetria' de acordo com qual todas as crenças em disputa estão sujeitas ao mesmo tipo de explicação social não importando se elas são verdadeiras ou falsas.7 Uma aproximação semelhante para tecnologia rejeita a suposição habitual de que as tecnologias sucedem de campos puramente funcionais.

O construtivismo defende que as teorias e as tecnologias são subdeterminadas através de critérios científicos e técnicos. Concretamente, isto significa duas coisas: primeiro, geralmente há um excesso de soluções executáveis a qualquer um problema, e os atores sociais fazem a escolha final entre um grupo de tecnicamente opções viáveis; e segundo, a definição do problema muda freqüentemente o curso de sua solução. O último ponto é o mais conclusivo, mas também o mais difícil dos dois.

Dois sociólogos da tecnologia, Pinch e Bijker, ilustram este fato com a recente história da bicicleta.8 O objeto que nós tomamos como uma evidente "caixa preta" começou com dois dispositivos muito diferentes: veículo de corrida de um desportista e um veículo de transporte utilitário. A roda dianteira mais alta da bicicleta do desportista era, na ocasião, necessária para se atingir altas velocidades, mas isto também causava instabilidade. Rodas de igual tamanho foram feitas para uma corrida mais segura mas menos excitante. Estes dois modelos satisfizeram necessidades diferentes e eram, na realidade, tecnologias diferentes com muitos elementos compartilhados. Pinch e Bijker chamam esta ambigüidade original do objeto designada como uma "bicicleta", de "flexibilidade interpretativa".

Eventualmente o modelo mais seguro ganhou, e beneficiou-se de todos os avanços posteriores que aconteceram no campo. Em retrospecto, parece que as bicicletas com as rodas maiores representavam uma fase tosca e menos eficiente em um desenvolvimento progressivo desde a bicicleta segura até os modelos atuais. Efetivamente a bicicleta com rodas maiores e a mais segura compartilharam o mesmo campo durante anos, e nenhum era uma fase do desenvolvimento da outra. As bicicletas com rodas maiores representam um possível caminho alternativo de desenvolvimento de uma bicicleta que enfrentou problemas diferentes à origem.

O determinismo é uma das espécies da história Whig que faz isto parecer que o fim da história era inevitável desde o começo, pôr projetar a lógica técnica e abstrata do objeto acabado para o passado, como a causa de seu desenvolvimento. Aquele enfoque confunde nossa compreensão do passado e sufoca a imaginação de um futuro diferente. O construtivismo pode abrir este futuro, embora seus seguidores hesitem em se engajar nas questões mais amplas implicadas em seu método.9



Indeterminismo

Se a tese do progresso de unilinear falha, o colapso da noção de determinismo tecnológico não pode estar muito atrás. Porém, ele ainda é freqüentemente invocado em debates políticos contemporâneos.

Eu voltarei depois a estes debates neste capítulo. Agora, consideraremos a notável antecipação de atitudes atuais na luta sobre a extensão do trabalho diário e da mão-de-obra infantil no decorrer do século XIX na Inglaterra. Os donos de fábrica e os economistas denunciaram a regulamentação como inflacionária; a produção industrial supostamente exigiria trabalho infantil e longa jornada de trabalho. Um membro do parlamento declarou que esta regulamentação é "um falso princípio de humanidade que certamente no fim derrotará ele mesmo". Ele foi adiante na discussão dizendo que as novas regras eram muito radicais para constituir "em princípio, um argumento para libertar pôr inteiro o sistema de trabalho nas fábricas".10 São ouvidos protestos semelhantes hoje de parte das indústrias ameaçadas pelo que elas chamam de "Ludismo ambiental".

Porém, o que de fato aconteceu, ainda que os reguladores tenham tido sucesso em impor limites na duração na jornada de trabalho e tirando as crianças da fábrica? Será que os imperativos violados da tecnologia voltaram atrás para os assombrar? Não. A regulamentação conduziu a uma intensificação do trabalho nas fábricas que era, de qualquer modo, incompatível com as condições anteriores. As crianças pararam de trabalhar e foram redefinidas como aprendizes e consumidores. Por conseguinte, elas entraram no mercado de trabalho com maiores níveis de habilidade e disciplina que passaram a ser pressupostos do modelo tecnológico. Ninguém é nostálgico por um retorno aos bons velhos tempos quando inflação era conseqüência da mão-de-obra infantil. Isso simplesmente não é uma opção.

Este exemplo mostra a tremenda flexibilidade do sistema técnico. Ele não é rigidamente limitado mas, pelo contrário, pode adaptar-se a uma variedade de demandas sociais. Esta conclusão não deveria ser surpreendente dada a capacidade de resposta a redefinição social previamente discutida. Isso significa que tecnologia é apenas mais uma variável social dependente, embora ela esteja crescendo de importância e não seja a chave para o enigma da história.

O determinismo é caracterizado pelos princípios de progresso unilinear e de determinação pela base; se o determinismo estiver errado, então a pesquisa sobre a tecnologia deve ser guiada pelos dois seguintes princípios contrários. Em primeiro lugar, o desenvolvimento tecnológico não é unilinear mas se ramifica em muitas direções e poderia alcançar níveis geralmente mais altos ao longo de mais de um caminho diferente. E, segundo, o desenvolvimento tecnológico não é determinante para sociedade mas é sobredeterminado por fatores técnicos e sociais.

O significado político desta posição, agora, também deveria ser esclarecido. Em uma sociedade onde determinismo monta a guarda nas fronteiras da democracia, o indeterminismo não pode ser outra coisa a não ser político. Se a tecnologia tem muitas potencialidades inexploradas, nenhum imperativo tecnológico dita a hierarquia social atual. Antes, tecnologia é um campo de luta social, uma espécie de "parlamento das coisas" onde concorrem as distantes alternativas civilizatórias.



Interpretando a Tecnologia

No resto deste capítulo eu gostaria de apresentar vários temas maiores de uma abordagem não-determinista da tecnologia. O quadro já esboçado insinua uma mudança significativa em nossa definição da tecnologia. Ela não pode mais ser considerada como uma coleção de dispositivos, ou mais freqüentemente, como a soma de meios racionais. Estas são definições tendenciosas que fazem a tecnologia parecer mais funcional e menos social do que ela é na realidade.

Como um objeto social, a tecnologia deveria estar sujeita a uma interpretação como qualquer outro artefato cultural, mas geralmente é excluída do estudo humanístico. Nós estamos seguros que sua essência repousa em uma função tecnicamente explicada mais do que em um significado interpretável humanísticamente. No máximo, os métodos humanísticos poderiam iluminar os aspectos extrínsecos da tecnologia, como o empacotamento e a publicidade, ou as reações populares para inovações controversas como o poder nuclear ou mães de aluguel. O determinismo tecnológico tira a sua força desta atitude. Se a pessoa ignorar a maioria das conexões entre a tecnologia e a sociedade, não surpreende que a tecnologia possa parecer como algo auto-engendrado.

Os objetos técnicos têm duas dimensões hermenêuticas que eu chamo de o seu "significado social" e de seu "horizonte cultural".11 O papel do significado social está claro no caso da bicicleta introduzido acima. Nós vimos que a construção da bicicleta era, em primeiro lugar, controlada por um conflito de interpretações: era ela para ser o brinquedo de um desportista ou um meio de transporte? As características como tamanho de roda também serviram para atribuir significado à bicicleta, como meio de transporte ou veículo de corrida.12

Isso poderia ser contestado como uma discordância inicial em cima de metas sem significação hermenêutica. Estando o objeto estabilizado, o engenheiro é o que tem a última palavra em relação a sua natureza, e o intérprete humanista é deixado de lado. Esta é a visão da maioria dos engenheiros e gerentes; eles dominam prontamente o conceito de 'meta' mas não têm nenhum lugar para o 'significado.'

Na realidade a dicotomia entre meta e significado é um produto da cultura profissional funcionalista que está arraigada na estrutura da economia moderna. O conceito de 'meta' separa cruamente a tecnologia dos seus contextos sociais, focalizando nos engenheiros e gerentes só o que eles precisam saber para fazer o trabalho deles.

Porém, um quadro mais completo disso é obtido estudando o papel social do objeto técnico e os estilos de vida que ele torna possível. Este quadro coloca a noção abstrata de "meta" em seu contexto social concreto. Ele torna as causas e as conseqüências do contexto tecnológico visíveis em lugar de as obscurecer atrás de um funcionalismo empobrecido.

O ponto de vista funcionalista lança mão de um corte transversal descontextualizado temporalmente em relação à vida do objeto. Como vimos, o determinismo defende que é implausível, nos livrarmos da configuração momentânea do objeto em relação a outras, em termos puramente técnicos. Mas no mundo real todos os tipos de atitudes imprevisíveis cristalizam os objetos técnicos ao seu redor e influenciam mudanças posteriores de modelo em sua concepção. O engenheiro pode pensar que estes são extrínsecas ao dispositivo em que ele está trabalhando, mas eles são sua própria substância como um fenômeno historicamente envolvente.

Estes fatos são reconhecidos até certo ponto nos campos técnicos, especialmente na computação. Aqui nós temos uma versão contemporânea do dilema da bicicleta discutida acima. O progresso em velocidade, o poder e a memória de um tipo muito difundido avança enquanto os planejadores empresariais lutam com a pergunta para que isso tudo serve. O desenvolvimento técnico, definitivamente, não aponta para qualquer caminho particular. Pelo contrário, abre ramificações e a determinação final do ramificação certa não está dentro da competência de sua engenharia, porque isso simplesmente não se inscreve na natureza da tecnologia.

Eu estudei um exemplo particularmente claro da complexidade da relação entre a função técnica e o significado do computador no caso de videotex francês.13 Chamado "Teletel", este sistema foi projetado para trazer à França a Era da Informação dando acesso a bancos de dados para os usuários de telefonia. Temendo que os consumidores rejeitassem qualquer coisa que se assemelhasse a um equipamento de escritório, a companhia de telefone foi tentada a redefinir a imagem social do computador; não era mais para ele aparecer como um dispositivo de cálculo para profissionais, mas com uma rede de informação ao acesso de todos.

A companhia de telefone projetou um tipo novo de terminal, o Minitel, que se parecia como um suplemento do telefone doméstico. O disfarce telefônico sugeriu a alguns usuários que eles deveriam falar um com outro na rede. Logo o Minitel passou por outra redefinição nas mãos destes usuários, muitos deles o utilizaram para conversar on-line anonimamente com outros usuários na procura de diversão, companhia e sexo.

Assim o modelo do Minitel forçou aplicações comunicativas que os engenheiros da companhia não tinham pretendido quando quiseram melhorar o fluxo de informação na sociedade francesa. Essas aplicações, em troca, deram ao Minitel a conotação de um meio de encontro pessoal, completamente oposto ao projeto racionalista para o qual foi criado originalmente. O computador "frio" se tornou um novo meio "quente".

Na questão da transformação o que vale não é somente a estreita função técnica concebida do computador, mas a natureza da sociedade avançada que a torna possível. Será que a gestão de redes abre as portas à era da informação onde, nós como consumidores racionais famintos pôr informação, procuramos estratégias de otimização? Ou isto é uma tecnologia pós-moderna que emerge do colapso da estabilidade institucional e emocional, refletidas nas palavras de Lyotard como a "atomização da sociedade em redes flexíveis de jogos de linguagem"?14 Neste caso, a tecnologia não é somente a criação de algum propósito social pré-definido; ela é um ambiente dentro do qual um modo de vida é elaborado.

Em suma, as diferenças do modo como os grupos sociais interpretam e usam os objetos técnicos não são os próprios objetos meramente extrínsecos, mas o que faz a diferença na própria natureza destes objetos. No final das contas, o que o objeto é para os grupos que decidem seu destino determina o que se ele se tornará, seu novo padrão e sua melhora com o passar do tempo. Se isto for verdade, então, nós só poderíamos entender o desenvolvimento tecnológico somente estudando a situação socio-política dos vários grupos envolvidos nisto.



Hegemonia tecnológica

Além de todo o tipo de suposições sobre os objetos técnicos individuais que temos discutido, esta situação também inclui suposições mais amplas sobre os valores sociais. Isto é o estudo do horizonte cultural onde a tecnologia se encontra. Esta segunda dimensão hermenêutica da tecnologia é a base das modernas formas de hegemonia social; é particularmente pertinente a nossa pergunta original relativa à inevitabilidade da hierarquia em sociedade tecnológicas.

A hegemonia, de acordo com o modo como usaremos o termo, é uma forma de dominação tão profundamente arraigada na vida social que parece natural a esses a quem domina. Alguém também poderia definir isto como o aspecto da distribuição de poder social que tem a força da cultura pôr trás dele.

O termo "horizonte" se refere a suposições genéricas e culturais que formam um pano de fundo inquestionado para qualquer aspecto da vida.15 Alguns destes se apóiam na hegemonia prevalecente. Por exemplo, em sociedades feudais, a "cadeia de seres" garantiu a hierarquia estabelecida na estrutura do universo divino e protegeu as relações de casta das mudanças sociais. Debaixo deste horizonte, camponeses se revoltaram no nome do rei, a única fonte imaginária de poder. A racionalização é nosso horizonte moderno, e o padrão tecnológico é a chave para entender sua efetividade como a base das hegemonias modernas atuais.

O desenvolvimento tecnológico é limitado por normas culturais que se originam da economias, da ideologia, da religião e da tradição. Nós discutimos antes como suposições sobre a composição etária da força de trabalho entraram no desenho das tecnologias de produção do século XIX. Tais suposições parecem tão naturais e óbvias que elas, freqüentemente, jazem no limiar da percepção consciente.

Este é o ponto da importante crítica de Herbert Marcuse a Weber.16 Marcuse mostra que o conceito de racionalização se confunde com a gerência do trabalho com o controle da natureza pela tecnologia. A procura de controle da natureza é genérica, mas o gerenciamento só surge a partir de um fundo social específico, o sistema de salários capitalista. Os trabalhadores não têm nenhum interesse imediato na produção neste sistema, diferentemente das formas anteriores de trabalho agrícola e artesanal, na medida que seus salários não estejam essencialmente unidos à renda da empresa. O controle de seres humanos é o que importa neste contexto.

Através da mecanização, algumas das funções de controle são eventualmente transferidas dos supervisores humanos e das práticas de trabalho parcelizados pôr máquinas. O desenho das máquinas não é pois socialmente relativo àquilo que Weber jamais reconheceu, e a 'racionalidade tecnológica' que ela encarna não é universal, mas particular ao capitalismo. De fato, é o horizonte de todas as sociedades industriais existentes, das comunista como também das capitalistas, na medida que determina como elas são administradas de cima para baixo. (em uma seção posterior, discuto uma aplicação generalizada deste enfoque em termos do que eu chamo de o 'código técnico").

Se Marcuse tiver razão, deveria ser possível localizar a impressão de relações de classe no mesmo modelo de tecnologia de produção, como foi realmente mostrado por estudiosos Marxistas como Harry Braverman e David Noble sobre o processo do trabalho.17 A linha de montagem oferece um exemplo particularmente claro porque alcança as metas de administração tradicionais, como o trabalho fragmentado e desqualificador, através de um padrão técnico. Seu trabalho tecnologicamente forçado disciplinam produtividade e aumentam os lucros aumentando o controle. Porém, a linha de montagem aparece como progresso técnico só em um contexto social específico. Não seria percebida como um avanço em uma economia baseada em cooperativas de trabalhadores, nas quais a disciplina de trabalho foi mais auto-imposta do que imposta de acima. Em tal uma sociedade, uma racionalidade tecnológica diferente ditaria modos diferentes modos de aumentar a produtividade.18

Este exemplo mostra que a racionalidade tecnológica não é somente uma convicção, uma ideologia, mas está efetivamente incorporada na estrutura das máquinas. O desenho das máquina reflete os fatores sociais operantes em uma racionalidade predominante. O fato de que o argumento para a relatividade social da tecnologia moderna foi originada em um contexto marxista obscureceu a maioria de suas implicações radicais. Nós não estamos lidando aqui com uma mera crítica do sistema de propriedade, mas estendendo a força além de sua crítica para a base técnica. Este enfoque vai além da velha distinção econômica entre capitalismo e socialismo, mercado e planejamento. Pelo contrário, se chega a uma distinção muito diferente entre sociedades nas quais o poder está na mediação técnica das atividades sociais e naquelas que democratizam o controle técnico, e por esse meio, o padrão tecnológico.



Teoria de Duplo Aspecto

O argumento para este ponto poderia ser resumido como uma reivindicação de que o significado social e a racionalidade funcional são dimensões interligadas interiormente da tecnologia. Eles não são ontologicamente distintos, como o significado na mente do observador e a racionalidade própria da tecnologia, por exemplo. Eles são, entretanto, 'aspectos duplos" do mesmo objeto técnico, em que cada aspecto é revelado por um contexto específico.

A racionalidade funcional, como a racionalidade técnico-científica em geral, isola objetos do seu contexto original para os incorporar em sistemas funcionais teóricos. As instituições que apóiam este procedimento - tal como laboratórios e centros de pesquisa - formam um contexto específico com práticas próprias e ligações com os vários agentes e poderes. A noção de racionalidade 'pura' surge quando o trabalho de descontextualização não foi controlado como uma atividade social que reflete interesses sociais.

As tecnologias são selecionadas por estes interesses entre muitas possíveis configurações. O processo de seleção são códigos sociais estabelecidos pelas lutas culturais e políticas que definem o horizonte sob o qual a tecnologia atuará. Uma vez introduzida, a tecnologia oferece uma validação material do horizonte cultural para o qual foi pré-formada. Eu chamo isto de a "tendência" da tecnologia: a racionalidade funcional aparentemente neutra alinhada está em defesa de uma hegemonia. Quanto mais a sociedade emprega tecnologia, mais significativo é o seu apoio recíproco.

Como Foucault discute em sua teoria sobre "poder/saber", as formas modernas de opressão não estão tão baseadas em falsas ideologias quanto em técnicas efetivas "codificadas' pela hegemonia dominante para reproduzir o sistema.19 Enquanto a escolha permanece escondida, a imagem determinística de uma ordem social justificada tecnicamente se projeta.

A efetividade legitimadora da tecnologia depende da inconsciência do horizonte político-cultural em que ela foi concebida. A crítica recontextualizadora da tecnologia pode descobrir aquele horizonte, desmistificando a ilusão de necessidade técnica, expor a relatividade das escolhas técnicas predominantes.



A Relatividade Social da Eficiência

Estes assuntos aparecem com força particular no movimento ambientalista de hoje. Muitos ecologistas discutem mudanças técnicas que protegeriam a natureza no processo de melhoria da vida humana. Tais mudanças aumentariam a eficiência em largas condições através da redução dos efeitos colaterais prejudiciais e custosos da tecnologia. Porém, este programa é muito difícil de ser imposto em uma sociedade capitalista. Há uma tendência para desviar a crítica dos processos tecnológicos para os produtos e as pessoas, de uma prevenção a priori para uma limpeza a posteriori. Estas estratégias preferidas são geralmente caras e reduzem a eficiência de uma determinada tecnologia. Esta situação tem conseqüências políticas.

Restabelecer o ambiente depois que este foi afetado é uma forma de consumo coletivo, financiada por impostos ou preços mais altos. Estes enfoques dominam a consciência pública. Isto acontece por que o movimento ambientalista geralmente é percebido como um custo que envolve perdas e ganhos, e não como uma racionalização que aumenta a eficiência global. Mas em uma sociedade moderna, obcecada pôr um bem-estar econômico, esta percepção é condenável. Os economistas e empresários estão interessados em explicar o preço que temos que pagar pela inflação e pelo desemprego pelo culto de santuários naturais em vez de Mammon`s (deus do dinheiro). A pobreza espera aqueles que não se ajustam as expectativas sociais e políticas da tecnologia.

Este modelo de intercâmbio baseado em perdas e ganhos, apanha os ambientalistas que estão tentando de tudo pôr uma estratégia. Alguns prometem uma piedosa esperança de que as pessoas trocarão os valores econômicos pelos valores espirituais face a ascensão dos problemas da sociedade industrial. Outros esperam que os ditadores esclarecidos encarem a reforma tecnológica mesmo se uma população gananciosa fuja de seu dever. É difícil decidir qual destas soluções é mais improvável, mas ambos são incompatíveis com os valores democráticos básicos.20

O modelo de intercâmbio nos confronta com dilemas - tecnologia ecológica vs prosperidade, satisfação de trabalhadores e controle vs produtividade, etc - sempre que precisamos de sínteses. A menos que os problemas do industrialismo moderno possam ser resolvidos de modos que bem-estar público aumente e que conquiste o apoio público, há pouca razão para esperar que eles nunca serão resolvidos. Mas como uma reforma tecnológica poderia ser reconciliada com a prosperidade quando se coloca uma variedade de novos limites na economia?

O caso do trabalho infantil mostra como aparentes dilemas surgem nos limites de uma mudança cultural, especialmente quando a definição social das principais tecnologias está em transição. Em tais situações, grupos sociais excluídos do arranjo original articulam os seus interesses não representados politicamente. Novos valores que os estranhos acreditam que aumentariam o seu bem-estar aparecem como meras ideologias para os incluídos que são adequadamente representados pelo arranjo existente.

Esta é uma diferença de perspectiva, não de natureza. Ainda que a ilusão de conflito essencial seja renovada, as principais mudanças sociais sempre afetarão a tecnologia. A princípio, a satisfação das demandas dos novos grupos em seguida a isso, tem custos visíveis e, senão é feita de maneira bem distribuída, reduziria a eficiência do sistema até que se encontrem melhores concepções. Mas, normalmente, podem ser encontradas concepções melhores e o que parecia ser uma barreira insuperável ao crescimento dissolve-se face às mudanças tecnológicas.

Esta situação indica a diferença essencial entre troca econômica e técnica. Troca está em toda parte de intercâmbios: mais As significa menos Bs. Mas a idéia de avanço técnico é precisamente evitar tais dilemas por um arranjo elegante que otimize imediatamente várias variáveis. A um único mecanismo, inteligentemente concebido, pode corresponder muitas demandas sociais diferentes, uma estrutura para muitos funções.21 A concepção de uma tecnologia não é um jogo de soma zero mas um processo cultural ambivalente que serve a uma multiplicidade de valores e grupos sociais sem necessariamente sacrificar a eficiência.



O Código Técnico

Que estes conflitos sobre o controle social de tecnologia não são novos, isso pode ser visto no caso interessante da "caldeiras explosivas".22 As caldeiras de barcos a vapor foram a primeira tecnologia que o governo norte-americano sujeitou um regulamento de segurança. Mais de cinco mil pessoas morreram ou ficaram feridas em centenas de explosões de barcos a vapor entre 1816, quando regulamento foi proposto pela primeira vez, e 1852, quando este foi implantado. São muitas vítimas ou poucas? Os consumidores evidentemente não foram alarmados para que continuassem viajando de barco, já que este número estava crescendo. Compreensivelmente, os donos de barcos interpretaram isto como um voto de confiança e protestaram contra o custo excessivo dos projetos mais seguros. Porém, os políticos também ganharam votos exigindo segurança.

A taxa de acidentes caiu drasticamente uma vez que melhorias técnicas foram designadas. A legislação quase não teria sido necessária para alcançar este resultado, se isso houvesse sido tecnicamente determinado. Mas na realidade o projeto das caldeiras era relativo a um julgamento social sobre segurança. Aquele julgamento poderia ter sido feito estritamente nas leis de mercado, como desejavam os navegadores, ou politicamente, com diferentes resultados técnicos. Em qualquer caso, esses resultados formaram o que veio a ser a própria caldeira. O que uma caldeira 'é' estava assim definido por um processo longo de lutas políticas que finalmente culminaram em códigos uniformes emitidos pela Sociedade Americana de Engenheiros Mecânicos.

Este exemplo apenas mostra como a tecnologia se adapta às mudanças sociais. O que eu chamo de o 'código técnico' do objeto media o processo. Aquele código responde ao horizonte cultural da sociedade no nível do desenho técnico. Parâmetros técnicos totalmente comezinhos, como a escolha e o processamento de materiais, são especificados socialmente pelo código. A ilusão da necessidade técnica surge frente ao fato de que o código é assim, literalmente, 'moldado em ferro' ou "concretado" como o caso pode ser.23

As filosofias conservadoras anti-regulação social estão baseadas nesta ilusão. Elas esquecem que o processo de concepção e desenho incorpora sempre padrões de segurança e compatibilidade ambiental; semelhantemente, todas as tecnologias se apóiam em algum nível básico de iniciativa do trabalhador ou usuário. Um objeto técnico feito corretamente deve simplesmente satisfazer estes padrões para ser reconhecido como tal. Nós não tratamos a conformidade como um brinde caro, mas consideramos isto como um custo de produção intrínseco. Elevar os padrões significa alterar a definição do objeto, não pagar um preço por um bem alternativo ou valor ideológico como o modelo de perdas e ganhos exige.

Mas o que do muito discutido cálculo de custo-benefício de desenho muda a partir das exigências da legislação ambiental e de outras similares? Estes cálculos têm alguma aplicação em situações transitórias, antes que os avanços tecnológicos respondam aos novos valores, alterando os termos fundamentais do problema. Mas muito freqüentemente, os resultados dependem de estimativas muito grosseiras do valor monetário de coisas como um dia de pesca de truta e um ataque de asma. Se feitas em preconceito, estas estimativas pode ajudar a priorizar alternativas políticas. Mas não se pode generalizar a partir de tal aplicação política para se chegar a uma teoria universal dos custos de regulamentação. Tal fetichismo da eficiência ignora nosso entendimento comum do conceito que pôr si só é relevante no processo de tomada de decisões pela sociedade. Neste sentido, a eficiência interessa a uma gama estreita de valores que os agentes econômicos rotineiramente influenciam ao tomar suas decisões. Os aspectos não-problemáticos da tecnologia não são incluídos. Teoricamente uma pessoa pode decompor qualquer objeto técnico e pode responder por cada um de seus elementos em termos da satisfação das metas, se estes são seguros, rápidos e confiáveis, etc; mas na prática ninguém está interessado em abrir o 'caixa preta' ver o que há dentro.

Por exemplo, uma vez que foi estabelecido o código das caldeiras, coisas como a densidade de uma parede ou o modelo de uma válvula de segurança aparecem como essenciais ao objeto. O custo destas características não diz respeito ao 'preço' específico de segurança e comparado desfavoravelmente com uma versão mais eficiente mas menos segura da tecnologia. Violar o código para abaixar os custos é um crime, não uma compensação. E desde que todo o progresso adicional apareceu na base do novo padrão de segurança, ninguém olhou para trás, para os bons velhos dias de modelos mais baratos e inseguros.

Os parâmetros tecnológicos são controvertidos apenas quando estão em fluxo. Os conflitos solucionados sobre a tecnologia são rapidamente esquecidos. Aceitos sem questionamento, eles são corporificados em um código estável e formam o fundo contra o qual os atores econômicos manipulam as porções instáveis do ambiente na procura da eficiência. O código não varia em cálculos econômicos reais mas é tratado como uma norma fixa.

Se antecipando à estabilização de um novo código, a pessoa pode ignorar freqüentemente argumentos contemporâneos que serão logo silenciados pelo aparecimento de um novo horizonte de cálculos de eficiência. Isto é o que aconteceu com modelo de caldeira e mão-de-obra infantil; presumivelmente, os debates atuais sobre ambientalismo terão uma história semelhante, e nós os zombaremos daqueles que são contra a limpeza do ar pelo fato de esse ser um "'falso princípio de humanidade" que viola os imperativos tecnológicos. Os valores não-econômicos vinculam a economia ao código técnico. Os exemplos com os que nós estamos lidando ilustram claramente este ponto. Os padrões legais que regulam a atividade econômica dos trabalhadores têm um impacto significativo em todos aspectos de suas vidas. No caso do trabalho infantil, a regulamentação ajudou a alargar as oportunidades educacionais com conseqüências que não possuem caráter fundamentalmente econômico. No caso do barco à vapor, os americanos preferiram gradualmente aumentar os níveis de segurança, e o desenho das caldeiras refletiu esta escolha. No final das contas, esta não era uma troca de um bem por outro, mas uma decisão não-econômica sobre o valor da vida humana e as responsabilidades de governo.

A tecnologia não é, assim, somente um meio de se chegar a um fim: padrões de desenho técnicos definem as porções principais do ambiente social, tais como espaços construídos e urbanos, ambientes de trabalho expectativas e atividades médicas, padrões de vida e assim por diante. O significado econômico da mudança técnica freqüentemente parecem menos importantes que suas implicações humanas mais amplas em estruturar um modo de vida. Em tais casos, a regulação define as condições de atuação cultural da economia; não é um ato na economia.



As Conseqüências da Tecnologia

A teoria esboçada aqui sugestiona a possibilidade de uma reforma geral da tecnologia. Mas os críticos distópicos contestam que o mero fato de procurar eficiência ou efetividade técnica já faz uma violência inadmissível aos seres humanos e à natureza. A funcionalidade universal destrói a integridade de tudo isto. Heidegger defende que um mundo carente de objetos e de meros recursos substitui um mundo de coisas, tratado com respeito pelo seu modo de ser enquanto espaços de reunião de nossos múltiplos engajamentos como o "ser".24

Esta crítica ganha força a partir dos atuais perigos com que a tecnologia moderna ameaça o mundo hoje. Mas minhas suspeitas são despertadas pelo contraste famoso de Heidegger entre uma represa na Reno e um cálice grego. Seria difícil de achar uma comparação mais tendenciosa. Sem dúvida, a tecnologia moderna é imensamente mais destrutiva que qualquer outra. E Heidegger tem razão em defender que os meios não são verdadeiramente neutros, que o seu conteúdo substantivo afeta a sociedade independente das metas às quais eles servem. Mas este conteúdo não é essencialmente destrutivo; na verdade, é uma questão de arranjo e inserção social.

Em outro texto, Heidegger nos mostra um jarro 'reunindo' os contextos nos quais foi criado e funciona. Não há nenhuma razão por que a tecnologia moderna também não pode reunir-se com seus múltiplos contextos, embora com pathos menos romântico. Este é, na realidade, um modo de interpretar as demandas contemporâneas para coisas como ecologia ambiental, aplicações de tecnologia médica que respeitem a liberdade humana e a dignidade, planos urbanos que criem espaços vivos e humanos, métodos de produção que protejam a saúde dos trabalhadores e ofereçam espaços para o aprimoramento da sua inteligência e assim por diante. O que são estas demandas se não uma chamada para reconstruir a tecnologia moderna, de forma que isto agregue uma maior gama de contextos ao invés de reduzir seu ambiente natural, humano e social a meros recursos?

Heidegger não levaria estas alternativas muito seriamente, porque ele reifica a tecnologia moderna como algo separado de sociedade, como uma força inerentemente sem contexto forçam apontando para o poder. Se isto é a 'essência' de tecnologia, uma reforma seria meramente extrínseca. Mas neste momento a posição de Heidegger converge com o mesmo prometeísmo que ele rejeita. Ambos dependem de uma definição estreita de tecnologia que, pelo menos desde Bacon e Descartes, enfatizou sua vocação de controlar o mundo, excluíndo o seu igualmente essencial contexto de inserção cultural. Eu acredito que esta definição reflete o ambiente capitalista no qual tecnologia moderna se desenvolveu primeiramente.

O principal exemplo moderno de senhor da tecnologia é o empresário, uma mente que focaliza apenas a produção e o lucro. A empresa é um plataforma radicalmente descontextualizada de ação, sem as responsabilidades tradicionais para com as pessoas e lugares que colaboraram com poder técnico no passado. É a autonomia do empresa que torna possível distinguir tão nitidamente entre conseqüências planejadas e não intencionais, as metas e os efeitos contextuais, ignorando último.

O foco estreito de tecnologia moderna satisfaz as necessidades de uma hegemonia particular; não é uma condição metafísica. Sob esta hegemonia, o desenho técnico é geralmente descontextualizado e destrutivo. É esta a hegemonia que é chamada para explicar, não tecnologia pôr si mesma, quando nós mostramos que hoje os meios técnicos forma uma crescente ameaça aos meios técnicos em que vivemos. É esta hegemonia, que se encarnou na tecnologia que deve ser questionada na luta pela mudança tecnológica.



A "Essência" da Tecnologia

Heidegger rejeita qualquer diagnóstico meramente social dos males das sociedades tecnológicas e reivindica que a fonte dos seus problemas remontam pelo menos a Platão, que sociedades modernas meramente concretizam um telos imanente na metafísica Ocidental. A sua originalidade consiste na demonstração a um imperativo de que a ambição para controlar o ser é um modo de ser e portanto está subordinado num nível mais profundo a uma dispensa ontológica além do controle humano. A demanda de Heidegger para uma resposta nova para o desafio desta dispensa está envolvido em obscuridade que ninguém nunca pôde dar a isto um conteúdo concreto. O efeito global da sua crítica é condenar o agenciamento humano, pelo menos nos tempos modernos, e confundir diferenças essenciais entre os tipos de desenvolvimento tecnológico.

Esta confusão tem um aspecto histórico. Heidegger sabe que a atividade técnica não era 'metafísica' na sua definição até recentemente. Ele precisa, portanto, distinguir nitidamente tecnologia moderna de todas as formas prévias de técnica, obscurecendo as muitos conexões e continuidades reais. Pelo contrário, eu argumentaria que o que é novo sobre tecnologia moderna só pode ser entendido contra o fundo do mundo técnico tradicional no qual desenvolveu. Além disso, o potencial positivo da tecnologia moderna só pode ser percebido pela recapitulação de certas características tradicionais da técnica. Talvez isto aconteça porque as teorias que tratam tecnologia moderna como um fenômeno sem igual permite tais conclusões pessimistas.

A tecnologia moderna difere das práticas técnicas prévias através de mudanças significativas na sua ênfase e não na sua generalidade. Não há nada sem precedente em suas características principais, como a transformação de objetos em matérias-primas, o uso de planos e medidas precisos e planos, o controle técnico de alguns seres humanos por outros, operações em grande escala. Esta é a centralidade destes aspectos que é novo, e claro que as conseqüências disso são verdadeiramente sem precedentes.

O que mostra um quadro histórico mais abrangente da tecnologia? As dimensões privilegiadas de tecnologia moderna aparecem em um contexto maior que inclui muitas características atualmente subordinadas do que foram anteriormente assim definidas. Pôr exemplo, até a generalização do Taylorismo, a vida técnica era essencialmente a escolha de uma vocação. A tecnologia era associada a um modo de vida, com formas específicas de desenvolvimento pessoal, virtudes, etc. Só o sucesso das habilidades capitalistas finalmente reduziram estas dimensões humanas da técnica a fenômenos marginais.

Semelhantemente, a administração moderna substituiu o colegiado tradicional dos grêmios pôr novas formas de controle técnico. Da mesma maneira que o investimento vocacional no trabalho continua em certas colocações excepcionais, também os colegiados sobrevivem em alguns locais de trabalho profissionais ou cooperativos. Numerosos estudos históricos mostram que estas formas antigas são incompatíveis não apenas com a "essência" da tecnologia como com as economias capitalistas. Dados um diferente contexto social e um diferente caminho de desenvolvimento técnico, poderia ser possível recuperar estes valores técnicos tradicionais e as formas organizacionais de uma nova maneira em uma futura evolução da sociedade tecnológica moderna.

A tecnologia é um complexo elaborado de atividades relacionadas que se cristalizam em torno da fabricação e uso de instrumentos em qualquer sociedade. Assuntos como a transmissão de técnicas ou a administração de suas conseqüências naturais não são extrínsecos a tecnologia per se mas são suas dimensões. Quando, em sociedades modernas, torna-se vantajoso minimizar estes aspectos da tecnologia, isto também é um modo de acomodá-lo a uma certa demanda social e não a revelação de sua pré-existente 'essência.' Sempre que faz sentido falar sobre uma essência da tecnologia, é preciso que isso abarque o campo inteiro revelado pelo estudo histórico, e não alguns alguns aspectos etnocêntricos privilegiados pôr nossa sociedade .



Conclusão: Racionalização subversiva

Por gerações a fé no progresso foi apoiada por duas convicções amplamente defendidas: que a necessidade técnica dita o caminho de desenvolvimento, e que a procura da eficiência provê uma base para a identificação deste caminho. Eu argumentei aqui que ambas as convicções são falsas, e que, além disso, elas são ideologias empregadas para justificar restrições nas oportunidades para a participação nas instituições da sociedade industrial. Eu concluo que nós podemos alcançar um tipo novo de sociedade tecnológica que pode apoiar uma gama maior de valores. A democracia é um dos valores principais que um industrialismo redesenhado poderia servir melhor.

O que significa democratizar a tecnologia? O problema não é primordialmente de direitos legais, mas de iniciativa e participação. As formas legais podem eventualmente rotinizar as reivindicações que são feitas pela primeira vez informalmente, mas as formas permanecerão ocas a menos que elas emerjam da experiência e das necessidades dos indivíduos que resistem a uma hegemonia tecnológica específica.

Esta resistência assume muitas formas, desde lutas sindicais por saúde e segurança em usinas nucleares, batalhas comunitárias sobre o lixo tóxico desperdiçado, até demandas políticas pela regulação das tecnologias de reprodução da espécie. Estes movimentos alertam-nos para a necessidade de se levar em conta as externalidades tecnológicas e a demanda por mudanças de arranjo capazes de responder ao contexto mais amplo revelado nesse arrolamento.

Tais controvérsias tecnológicas se tornaram uma característica inevitável da vida política contemporânea, revelando os parâmetros para a "avaliação da tecnologia" oficial.25 Eles prefiguram a criação de uma nova esfera pública que inclua o background técnico da vida social, e um estilo novo de racionalização que internalize custos não contabilizados provocados "naturalmente", i.e., algo ou alguém explorável na procura do lucro. Aqui o respeito pela natureza não é antagônico a tecnologia mas aumenta a eficiência em termos amplos.

Como estas controvérsias se tornam comuns, pegando de surpresa novas formas de resistência, emergem com elas novas e surpreendentes formas de resistência e novos tipos de demanda. O sistema de trabalho em rede deu origem a uma entre muitas reações inovadoras do público à tecnologia. Os indivíduos que foram incorporados em novos tipos de redes técnicas aprenderam a resistir pela própria rede na tentativa de influenciar os poderes que a controlam. Esta não é uma competição por riqueza ou poder administrativo, mas uma luta para subverter as práticas técnicas, os procedimentos, e os arranjos que estruturam a vida cotidiana.

Novamente, o exemplo do Minitel pode servir de modelo deste novo enfoque. Na França, o computador foi politizado assim que o governo tentou apresentar um sistema de informação altamente racionalista ao público geral. Os usuários "abusaram" da rede na qual eles foram inseridos e alteraram seu funcionamento, introduzindo a comunicação humana em vasta escala onde apenas a distribuição centralizada das informações tinha sido planejada.

É instrutivo comparar este caso aos movimentos dos pacientes da AIDS.26 Da mesma maneira que uma concepção racionalista do computador tende a fechar suas potencialidades comunicativas, na medicina as funções de atendimento se tornaram meros efeitos colaterais do tratamento, que é compreendido exclusivamente em termos técnicos. Os pacientes se tornam objetos desta técnica, mais ou menos "complacentes" com o gerenciamento por parte dos médicos. A incorporação de milhares de aidéticos incuráveis neste sistema desestabilizou-o e o expôs a novos desafios.

O assunto fundamental era o acesso a tratamentos experimentais. Com efeito, a pesquisa clínica é um modo no qual um sistema médico altamente tecnologizado pode cuidar daqueles que ainda não pôde curar. Mas, até bem recentemente, o acesso às experiências médicas foi severamente restringido por preocupações paternalistas pelo bem-estar dos pacientes. Os aidéticos puderam ter acesso porque as redes de contágio no qual eles foram pegos foram assimiladas pelas redes sociais que já tinham sido mobilizadas em favor dos direitos homossexuais no mesmo tempo em que a doença foi pela primeira vez diagnosticada.

Em vez de participar individualmente na medicina como objetos de uma prática técnica, eles desafiaram isto coletiva e politicamente. Eles "exploraram" o sistema médico e o direcionaram para novos propósitos. A sua luta representa uma contra-tendência à organização tecnocrática da medicina, uma tentativa pela recuperação da sua dimensão simbólica e funções assistenciais.

Como no caso do Minitel, não é óbvio como avaliar este desafio nos termos do conceito habitual de política. Nem faz estas lutas sutis contra o crescimento do silêncio nas sociedades tecnológicas parecerem significantes do ponto de vista das ideologias reacionárias que competem ruidosamente com o modernismo capitalista hoje. Todavia a demanda por comunicação que estes movimentos representam é tão fundamental que pode servir como pedra-de-toque para a adequação de nossos conceitos de política para a idade tecnológica.

Estas resistências, como o movimento ambiental, desafiam o horizonte da racionalidade sob a qual a tecnologia é projetada atualmente. A racionalização na nossa sociedade responde a uma definição particular de tecnologia como um meio para obter lucro e poder. Uma compreensão mais abrangente da tecnologia sugere uma noção muito diferente de racionalização, baseada na responsabilidade para os contextos humanos e naturais da ação técnica. Eu chamo isto "racionalização subversiva" porque requer avanços tecnológicos que só podem ser feitos em oposição à hegemonia dominante. Isto representa uma alternativa tanto à celebração contínua da tecnocracia triunfante quanto à escura contrapartida Heideggeriana que "apenas um Deus pode nos salvar" de um desastre tecno-cultural.27

Mas a racionalização subversiva é, nesse sentido, socialista? Há certamente um espaço para a discussão das conexões entre esta nova agenda tecnológica e a velha idéia do socialismo. Eu acredito que há continuidade significante. Na teoria socialista, a vida dos trabalhadores e a sua dignidade representaram os contextos maiores que a tecnologia moderna ignora. A destruição das suas mentes e corpos nos seus locais de trabalho era vista como uma conseqüência contingente ao sistema técnico capitalista. A implicação de que as sociedades socialistas poderiam projetar uma tecnologia muito diferente sob um horizonte cultural diferente foi talvez apenas discurso, mas pelo menos foi formulada como uma meta.

Nós podemos fazer uma argumentação semelhante hoje em cima de uma gama maior de contextos em uma variedade mais abrangente de configurações institucionais com muito maior urgência. Estou inclinado a tomar uma posição socialista e esperar que, a tempo, isso possa substituir a imagem do socialismo projetada pela fracassada experiência comunista.

Mais importante que esta questão terminológica é o ponto substancial que eu tenho tentado tocar. Por que a democracia não foi levada para domínios tecnicamente mediados da vida social apesar de um século de lutas? Isto acontece porque a tecnologia exclui a democracia, ou porque ela foi usada para bloqueá-la? O peso do argumento apóia a segunda conclusão. A tecnologia pode apoiar mais de um tipo de civilização tecnológica, e pode algum dia ser incorporada em uma sociedade mais democrática que a nossa.




Tradução: André (adm.), Rodrigo Jacobus, Sílvia M. Lisboa e Vinícius Bastiani




NOTAS E REFERÊNCIAS

1. Este artigo amplia uma apresentação de meu livro Critical Theory of Technology (Nova Iorque: Oxford University Press, 1991), entregue à Associação Filosófica Americana, 28 Dec 1991.
2. Veja, por exemplo, Joshua Cohen e Joel Rogers, On Democracy: Toward a transformation of American Society (Harmondsworth: Penguin, 1983); Frank Cunningham, Democratic Theory and Socialism (Cambridge: Cambridge University Press, 1987).
3. Max Weber, The Protestant Ethic and the Spirit of Capitalism, traduzido por T. Parsons (Nova Iorque: Scribners, 1958), pp. 181-82.
4. Martin Heidegger, The Question Concerning Technology, traduzido por W. Lovitt (Nova Iorque: Harper & Row, 1977); Jacques Ellul, The Technological Society, traduzido por J. Wilkinson (Nova Iorque: Vintage, 1964).
5. Richard W. Miller, Analyzing Marx: Morality, Power and History (Princeton: Princeton University Press, 1984), pp. 188-95.
6. Karl Marx, Capital (Nova Iorque: Moderna Library, 1906), pág. 13.
7. Veja, por exemplo, David Bloor, Knowledge and Social Imagery (Chicago: University of Chicago Press, 1991), pp. 175-79. Para uma apresentação geral do construtivismo, veja Bruno Latour, Science in Action (Cambridge, MA: Harvard University Press, 1987).
8. Trevor Pinch e Wiebe Bijker, "The Social Construction of Facts and Artefacts: Or How the Sociology of Science and the Sociology of Technology Might Benefit Each Other", Social Studies of Science, no 14, 1984.
9. Veja a crítica ácida que Langdon Winner faz sobre as limitações características da posição, intitulada "Upon Opening the Black Box and Finding it Empty: Social Construtivism and the Philosophy of Technology", The Technology of Discovery and the Discovery of Technology: Proceedings of the Sixth International Conference of the Society for Philosophy and Technology (Blacksburg, VA: The Society for Philosophy and Technology, 1991).
10. Hansard's Debates, Third Series: Parliamentary Debates 183o-1891, vol.LXXIII,1844(22 feb -22 apr), pp. 1123 e 1120.
11. Um ponto de partida útil para o desenvolvimento de uma hermenêutica da tecnologia é oferecido por Paul Ricocur em "The Model of the Text: Meaningful Action Considered as a Text"; P. Rainbow e W. Sullivan (eds.), Interpretative Social Science: A Reader (Berkeley: University of California Press, 1979).
12. Michel de Certeau usou a frase "retóricas da tecnologia" para referir-se às representações e práticas que contextualizam as tecnologias e lhes dá um significado social. De Certeau escolheu o termo "retórico" porque este significado não é simplesmente imediato mas comunica um conteúdo que pode ser articulado pelo estudo das conotações que a tecnologia evoca. Veja a edição especial de Traverse, no 26, out 1982, intitulado Les Rhétoriques de la Technotogie, e, nesta edição, especialmente o artigo de Marc Guillaume, Téléspectres (pp. 22-23).
13. Andrew Feenberg, "From Information to Communication: the French Experience with Videotext" in Martin Lea (ed), The Social Contexts of Computer Mediated Communication (London, Harvester-Wheatsheaf, 1992).
14. Jean-François Lyotard, La Condition Postmoderne (Paris: Editions de Minuit, 1979), p 34.
15. Para uma introdução à teoria social baseada nesta noção (chamada, porém, doxa, pelo autor), veja Pierre Bourdieu, Outline of a Theory of Practicei, traduzido por R. Nice (Cambridge: Cambridge University Press, 1977), pp 164-70. 0.
16. Herbert Marcuse, "Industrialization and Capitalism in the Work of Max Weber", em Negations, traduzido por J. Shapiro (Boston: Beacon Press, 1968).
17. Harry Braverman, Labor and Monopoly Capital (Nova Iorque: Monthly Review, 1974); David Noble, Forces of Production (Nova Iorque: Oxford University Press, 1984).
18. Bernard Gendron e Nancy Holstrom, "Marx, Machinery and Alienation", Research in Philosophy and Technology 2 (1979).
19. A apresentação mais persuasiva de Foucault desta visão é Discipline and Punish, traduzido por A. Sheridan (Nova Iorque: Vintage Books, 1979).
20. Veja, por exemplo, Robert Heilbroner, An Inquiry into the Human Prospect (Nova Iorque: Norton, 1975). Para uma revisão destes assuntos em algumas das suas primeiras formulações, veja Andrew Feenberg, "Beyond the Politics of Survival", Theory and Society 7(1979), no 3.
21. Este aspecto da tecnologia, chamado concretização, é explicado em Gilbert Simondon, La Mode d'Existence des Objets Techniques (Paris: Aubier, 1958), capítulo 1.
22. John G. Burke, "Bursting boilers and the Federal Power", in M. Kranzberg e W. Davenport (eds.), Technology and Culture (Nova Iorque: New American Library, 1972).
23. O código técnico expressa o "ponto de vista" dos grupos sociais dominantes em nível do desenho e da engenharia. Assim, é relativo a uma posição social sem ser uma mera ideologia ou disposição psicológica. Como eu argumentarei na última seção deste capítulo, a luta por mudanças socio-técnicas pode emergir dos pontos de vista subordinados dos dominados por esses sistemas tecnológicos. Para mais sobre o conceito do ponto de vista epistemológico, veja Sandra Harding, Whose Science? Whose Knowledge? (Ithaca: Cornell University Press, 1991).
24. Os textos de Heidegger discutidos aqui são, na ordem, The Question Concerning Technology, op. cit.; e "The Thing: Poetry, Language, Thought" traduzido por A. Hofstadter (Nova Iorque: Harper & Row, 1971).
25. Alberto Cambrosio e Camille Limoges, "Controversies as Governing Processes in Technology Assessment" em Technology Analysis and Strategic Management 3 (1991), no 4.
26. Para mais sobre o problema da AIDS neste contexto, veja Andrew Feenberg, "On Being a Human Subject: Interests and Obligation in the Experimental Treatment of Incurable Disease", The Philosophical Forum 23 (1992), no 3.
27. "Only a God Can Save us Now", Martin Heidegger entrevistado em Der Spiegel, traduzido por D. Schendler, Graduate Philosophy Journal 6 (1977), no 1.




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