Uma Arqueologia dos Ciberespaços:
Virtual, Comunidade e Identidade


Shaw P. Wilbur

 

Cultura de Internet? Comunidade Virtual?

“Comunidade Virtual” está certamente entre as mais utilizadas, e talvez abusadas, frases na literatura sobre “Comunicação Mediada por Computador – (CMC)”. Isto não deve ser nenhuma surpresa. Um crescente número de pessoas está achando suas vidas sendo permeadas por coletividades que não tem nada relacionado com a proximidade física. Um espaço tem sido aberto para algo parecido como comunidades em redes de computadores, em uma era onde muitas formas de comunidade da “vida real” estão ameaçadas, talvez pelas mesmas forças tecno-culturais que tornam a “Cultura de Internet” possível. Nos precisamos ser especialmente criteriosos ao selecionar as ferramentas que utilizaremos para explorar a “Cultura de Internet”, até mesmo as palavras precisam ser selecionadas. Considere a noção de “Comunidade Virtual”. Ela revela algo acerca de nossas pressuposições sobre ambas comunidades (não-modificada, presumida como “real”) e tecnologias (primariamente o computador) em que este termo tem sentido. É mais relevante que pensemos em “Comunidade Virtual” como algo novo no cenário cultural.

O que se segue é uma tentativa de trazer a tona ao menos algumas das questões envolvidas pela noção de “Comunidade Virtual”, especialmente por sua aparente aceitação como termo escolhido pelos usuários de Internet, pesquisadores de CMC e jornalistas. Este vem a ser um estudo arqueológico em dois diferentes caminhos. A primeira parte, é uma exploração – ou talvez escavação – de algumas das possíveis raízes culturais e etimológicas do termo “Comunidade Virtual”, que visa formar uma escala de possibilidades interpretativas e descartar as remotas, para podermos começar o processo especulativo de (re)construção dos conceitos que poderemos usar em pesquisas sérias em CMC. A segunda parte envolve uma exploração de ruínas ligeiramente mais literais, pois examino o que restou de duas “Comunidades Virtuais”que já vieram e já se foram – uma seção de um sistema de realidade virtual baseada em troca de mensagens de texto situada no Laboratório de Mídia do MIT, e uma cidade virtual baseada em mensgaens de voz criada por Harlequim Romance, em conjunto com uma de sua série de livros. Contudo, o trabalho é dirigido por meu juizo de que os usuários de internet e pesquisadores de CMC foram aleatórios em suas escolhas para ferramentas e terminologias, mas também pelo meu senso de que estas escolhas podem nos surpreender poderosamente, assumindo que possamos aprender a usar elas com os olhos bem abertos.

É provavelmente a pior nota que meus investimentos nesses assuntos são complexos e múltiplos. Pesquisadores na Internet observam para mostrar uma tendência maior de “volta à natureza”, e eu temo que eu não seja uma exceção. Contudo eu me sinto tentado a escrever o que segue a voz de um pesquisador em CMC e acadêmico, eu uso numerosos outros “títulos” na internet – usuários não-profissional, publicador eletrônico, MOO “wizard”, e possuo uma porção de listas de discussão. Eu suspeito que algumas dessas outras vozes tenham participado disto. Claro, em referência pessoal – e resultando em desconforto escolar – isso parece apontar como característica da variada literatura emergente na “Cultura de Internet”. Isso deve ser um simples resultado lógico do trabalho solitário que muitos pesquisadores de CMC estão engajados, sentados sozinhos em seus computadores, mas cercados por uma multidão global.

As ferramentas certas para o trabalho

Nós usamos palavras como ferramentas, como indivíduos e como acadêmicos. Na internet nós fazemos o mesmo em escala menor. O que quer que “Cultura de Internet” venha a ser, ela continuará largamente baseada em texto. Palavras não são simples ferramentas que podemos utilizar a medida em que elas encaixam. Elas vêm até nós enquadradas por usos e significados históricos, e são produtos de ideologias particulares. O conceito de Richard Dawkins de “meme” deve nos ajudar aqui. O “meme” é o equivalente cultural ao gene, uma unidade básica de “imitação”. Assim como os genes agem como replicadores das estruturas biológicas, “memes” replicam cultura [1]. Se nós pensarmos em comunidades virtuais e em Comunicação mediada por computadores com o resultado de (re)combinações “meméticas”, então talvez seremos mais concernentes a suas particularidades, mas nós também encorajamos considerar a seriedade de nossos conceitos. Nós procuraremos os “memes” recessivos, e também as circunstâncias nas quais os elementos de nossa herança “memética” puderam se recombinar em maneiras que possibilitassem a sobrevivência de nossa cultura.

O marco atual para qualquer estudo de Comunidades Virtuais é “The Virtual Community: Homesteading on the Eletronic Frontier”, de Howrad Rheingold. O recente “virtual Reality”, de Rheingold, estabeleceu como um observador de olhar afiado, e talentoso popularizador de novas tecnologias [2]. Segundo Rheingold,

Comunidades Virtuais são agregações sociais que emergem da internet quando um número suficiente de pessoas acha aquelas discussões longas demais, com sentimentos humanos o suficiente, para formar redes de relacionamentos pessoas no ciberespaço [3].

“Com sentimentos humanos o suficiente” é uma medição imprecisa, cheia de associações sobre “humano” e que tipo de emoções contam como “sentimentos”. Não fazemos idéia de quando a medida desse “sentimento humano” será o “suficiente”. Nós ainda estamos muito no escuro quanto ao processo de desenvolvimento de comunidades virtuais – talvez geração ou gênesis sejam mais apropriados – mas sabemos que os ingredientes chave são comunicação e sentimentos. Para seu mérito, Rheingold não é inclinado a clamar nenhum rigor em suas definições, contudo ele provê muitos indicadores sobre seus próprios sentimentos. Julgando pelo exemplo que usa, Rheingold está mais preparado para visualizar “comumidades” naqueles grupos que passam da CMC a interação faca-a-face, assim como aqueles que compartilham detalhes específicos, ou comuns, da “vida real” (VR) [4]. Essa é a visão de Rheingold, despistando sua imersão em certas comunidades virtuais e seu entusiasmo pelo uso de CMC, a melhor comunidade virtual é uma extensão de uma “comunidade real” – embora não, penso eu, no senso de extensão e amputação transformativa de Marshall McLuhan.

Outro aspecto do estudo de Rheingold que nós notaremos, pelo menos de passagem, é sua invocação da metáfora da fronteira eletrônica, particularmente em seu uso do termo “fundadores” para descrever os pioneiros na construção de comunidades virtuais. Por causa de companhias como a “Electronic Frontier Foundation (EFF)”, que tem desempenhado um importante papel nas novas premissas de liberdade civil e privacidade relacionadas a CMC, a noção de uma fronteira eletrônica tem ganhado considerável repercussão on-line, mesmo usuários de internet que antigamente tinham reservas sobre esta metáfora caminham em tradições imperialistas, de justiça áspera e às vezes violenta oposição para qualquer número de outros. [5] No complexo espaço social e legal da cultura de internet, grupos como o EFF tendem a serem vistos como que vestindo “white hats”, mas nos temos de considerar a herança “memética” que eles carregam. Em qualquer evento, nós devemos tomar nota da conexão feita entre comunidade e as condições próximas do primitivo de uma fronteira.

Comunidade

Daqui, nós precisamos ser cautelosos. Um pouco de etimologia elementar somente serve para mostrar o quão complicado as edições são. [6] Comunidade parece referir primariamente a relações de comunalidade entre pessoas e objetos, e apenas variando imprecisamente quanto ao local de cada comunidade. O que é importante é “algo em comum”, sejam qualidades, propriedades, identidades ou ideais. As raízes da comunidade estão profundamente arraigadas no terreno abstrato. Por exemplo, comunidade teve uma remarcação flexível em sua carreira como termo político. Ela pode significar literalmente comunhão de bens, como em um estado comunista, ou pode significar algo relacionado ao estado e ao cidadão. No uso comum, ela pode significar o local onde uma comunidade está estabelecida. Debaixo da influência burocrática e cartográfica, o uso mais comum reduz o “algo em comum” da comunidade a proximidade física. Comunidade surge como uma abreviação de comunidade local, contudo nós não presumimos nada relacionado a se unir a uma sociedade.

Um exemplo pessoal deve clarear o assunto em questão. Minha primeira lembrança da palavra “comunidade” é vendo ela em mapas de auto-estradas, sentado no banco de trás guiando meu pai enquanto ele dirigia o carro da família enquanto explorávamos o desolado sul de “San Joaquin Valley”. Eu deveria traçar nossa rota de cidade a cidade – e a maior parte daquelas cidades talvez fossem apenas cruzamentos de estradas com um posto de gasolina e alguns trailers por perto. Os mapas designavam essas pequenas cidadelas, com uma população abaixo de um número mágico que eu devo ter esquecido, como comunidades. Como uma criança, então, eu imaginava que uma comunidade era uma cidade vazia ou inexistente.

Esse mais baixo denominador comum para comunidade está certamente longe de “com sentimentos humanos o suficiente” de Rheingold. Ainda aqueles pequenos vilarejos rurais ressoam com um discurso de “homesteading” e fronteiras, se somente para desenhar uma clara linha entre estas comunidades que crescem como pontos nos mapas, surgindo espalhadas umas ao redor das outras, e aquelas que ficam isoladas. Aqui está o ponto em que começam os questionamentos sobre o fim do processo de “homesteading” – sobre as questões de sociedade e emprededorismo, a divisão entre trabalho e estabelecimento, entre lei e ordem. Para a maior parte destas, Rheingold deixa a resposta em aberto. São seus “homesteaders” são os patronos dos caros serviços como o “WELL (Whole Earth'Lectronic Link)”? [7] Se sim, que papel os menos “civilizados” usuários da internet estão desempenhando? Pelo momento, os “White hats” da “EFF” e demais parecem inclinados a defender “foras-da-lei” e “selvagens”, mas isso deve ser seu papel e alguma maneira obscura pelo relativo não-senso da lei real na Internet até então.

O Virtual

Se na fala cotidiana, o “virtual” parece mais referir ao que aparenta ser (mas não é) real, autêntico ou apropriado – contudo isso deve ter alguns efeitos. Mesmo na forma coloquial isso atesta a possibilidade de que representar e ser podem estar confundidas, esta confusão pode não estar no fim. Mas o senso de “virtual” desembarca de um complexo histórico de relações entre realidade, aparência e bondade. As raízes de “virtual” estão em “virtu”, que está tanto em força como em moral. Na forma arcaica, o “virtual”é sinônimo de virtuoso. Outro sentido de “virtual” – que nós podemos pensar estar desconexo – se refere a ótica, onde a imagem virtual é, por exemplo, aquela que aparece no espelho. Mas todos estes tópicos etimológicos finalmente sopraram juntos.

A mais profunda raiz do “virtual” parece nos levar de volta a uma visão de mundo religiosa onde força e moral bondosas estão unidas em virtude. E o que caracteriza o “virtual”é aquilo que está apto a produzir efeitos, ou se produzir como efeito mesmo com um não-senso de “efeito real”. O ar miraculoso que paira no “virtual” nos ajuda a obscurecer a divisão entre efeitos reais e/ou bondade e efeitos que são tanto bondade como reais. Os dois usos do termo estão corretos. Talvez isto seja um efeito necessário do alto da metáfora de uma igreja Cristã que conjura o corpo (virtual) de Cristo em qualquer lugar “onde dois ou três estiverem reunidos no nome de Jesus” (Mateus 18:20), ou esse investimento de poder simultânea para toda uma religião em um concílio da elite ou “igreja virtual”.

Um entendimento mais secular de virtude começa com a associação a poderes mais físicos, então a virtude é igualada a saúde, força e pureza sexual. Estes estão, é claro, perto da noção de moral. Entre essa virtude física e a virtude de semelhança pode de fato haver algum tipo de descontinuidade. Nos podemos desenhar sobre o que nós conhecemos da história do Protestantismo para sugerir ao menos uma ponte entre esses dois pontos. Pense em “Santos Visíveis”, cautela entre um fato desconhecido mas predestinado e demandas de uma cultura que exigia “provas” de salvação. [8] Talvez você possa enxergar o quanto uma aparência (moral) boa pode vir a ser bondade como de um bom coração. Segundo Max Weber, você pode ver como a preocupação com a forma vem para substituir largamente o interesse no depois.

A definição ótica do “virtual” sem dúvidas compartilha alguns elementos miraculosos, mas se refere específicamente ao reino das aparências. A tecnologia ótica nos ilude de muitas formas, trazendo a visão aquilo que não podíamos ver – através da reflexão, refração, lentes de aumento, visão remota e simulação. Nós só precisamos ligar a televisão para ver quão poderosas estas tecnologias podem ser. Não é surpresa que a promessa que uma imersão na realidade virtual cause tanta controvérsia. E talvez não haja surpresa que esta forma extrema de visão virtual levante oposições de interesse moral, como a fascinação pelo, entitulado pela mídia, “sexo virtual” e “teledildonics”. Por trás desse interesse na tecnologia “suja”, há um interesse maior e mais interessante sobre o esvanecer dos limites entre o fato e a fantasia. Paul Virilio sugere que as tecnologias do virtual não estão somente destinadas a simular o real, como Jean Baudrillard sugere, mas para substituí-lo. [9]

O Eu no Ciberespaço

Antes de retornar a questão das “comunidades virtuais”, é correto explorar ainda um uso do virtual que remonta a questão da indentidade individual. O computador – e particularmnete o computador como um terminal de internet – é uma máquina com possibilidades visuais sem igual. Ela envolve o usuário, canalizando sua visão, de modo telepresencial e simula alguns ou todos os sentidos. É como se aqueles que fossem mais imergidos na cultura de internet desenvolvessem uma série de sinestesias que os tornassem capazes de exercitar todos os seus sentidos apenas usando os olhos e dedos. Talvez algo semelhante a extensão e amputação do sistema nervoso central que Marshall McLuhan sugeriu fosse o efeito do computador, mas muitos usuários de computadores enxergam a experiência de “entrar” no ciberespaço como algo libertador dos constrangimentos da vida real – transcendência maior que uma prótese. No limiar, o discurso (emancipatório) do ciberespaço sugere a possibilidade de caminhar para trás e permanecer você mesmo usando uma última maneira virtual de brincar com a identidade.

Eu suspeito que há alguma verdade na sugestão que a mudança de tempo e espaço – um efeito da imersão na cultura de internet – pode ajudar indivíduos a ver suas próprias identidades sobre uma perspectiva diferente. Mas o mais extravagante reclame conta com alguma aura de miraculoso que continua a brilhar sobre as tecnologias do virtual. Eu estou lembrando do lugar privilegiado do espelho na psicanálise de Jacques Lacan. Em seu seminário de 1953-54, Lacan usou um complexo diagrama para explicar a dinâmica da formação do Eu. Junto com a combinação de espelhos curvos e planos, é feito para que uma pessoa imagine ter visto como dois objetos, um vaso e um buquê, como se o vaso contivesse o buquê. Este truque feito com espelhos, dizia Lacan, é o mecanismo necessário para reconhecer que os humanos são aptos para imaginar que eles possuem uma identidade coerente (fálica). No diagrama de Lacan, o espaço virtual “atrás” do espelho plano é onde a pessoa imagina (através do reconhecimento) que ele mesmo existe como uma unidade (avaliada como alguma desorganizada coletânea de identidades). Este espaço virtual também contém o reflexo do olhar da pessoa – o espaço da pessoa virtual – com potencial, segundo Lacan, de olhar para trás na confusão e o ver como é. [10] Isto parece ser um campo da análise, mas também parece ser um espaço impossível – uma fantasia da análise, que pode finalmente ser um pouco mais que um reino de projeções – que poderia ser construído através de algum tipo de reconhecimento, à medida que o próprio sujeito assume a posição de identidade buquê-no-vaso completa. Todavia, isso parece como se o virtual fosse o local onde toda a ação está, despistando seu status impossível. O trabalho de analisar pedaços de espaço e analisar o que imaginamos deles – ou pelo menos o que deveríamos – como analistas que tem algum investimento em claro discernimento de análise fragmentada. Ambos operam em espaços que, finalmente, são obscuros e inabitáveis.

Quando nós retornamos a questão da livre “brincadeira com a identidade” na internet nos veremos a invocação de algo muito semelhante à situação analítica de Lacan. O grande ideal da discussão sobre o potencial libertador que a internet libera ao sujeito é semelhante à posição assumida no espelho virtual. Existe um pouco de auto-ajuda trabalhando “por trás” do plano da tela do computador. Mas nós estamos moldados como Lacan para estar entre as dinâmicas dos espelhos e estas do monitor, dinâmicas estas que podem parecer um pouco diferentes. Em particular, parece confuso saber quem ou que ninguém pode ocupar o espaço atrás do monitor. Mas também não é um espaço impossível, no mesmo sentido, em parte porque uma imagem virtual não necessita nenhuma partícula “verdadeira” ou ainda “real” em relação à pessoa. A pessoa que aparece no ciberespaço é potencialmente mais fluída do que aquela assumida em outros aspectos de nossas vidas, em parte porque podemos conscientemente molda-las. E essa consciência nos permite engajar com nós mesmos para aparecer em maneiras “romanceadas”. Contudo, devemos ter cuidado ao considerar a extensão em que essa consciência-própria é atribuída ao “romance” do CMC mais do que outro poder midiático particular. Existem remanescentes de nossos sonhos com a Cultura de Internet mais do que “a whiff of pixie dust, incense and brimstone”.

Sem dúvidas, o debate continua. E talvez eu esteja tentado a fechar a porta prematuramente. O que está claro nesse estágio do jogo é que um engajamento com comunidades virtuais em qualquer caminho adequado e rigoroso nos envolverá em uma dolorosa negociação com um complexo campo de idéias e associações – onde a possibilidade de escolha entre o “real” e o “tão-bom-quanto-o-real” será apenas uma entre as muitas questões que se constituirão.

Nesse terreno, um deve permanecer longe dos efeitos da velocidade. O deserto comunitário de minha juventude não foi totalmente deserto, mas minha passagem através dele – no rudimentário ciberespaço de um automóvel viajando em auto-estradas – foi de longe muito rápida. Minha momentânea presença estava fora de sincronia com o ritmo da vida naqueles lugares. Eu estou escrevendo sobre cultura de internet, eu tenho tentado permanecer em sincronia com minha experiência da vida on-line. É um trabalho difícil – mais uma razão para ter bastante cuidado ao elaborar um trabalho que deva ser “tão-bom-quanto” algum aspecto dessa cultura.

(Re)Combinações

Então, o que é comunidade virtual? Muito rapidamente – ou na velocidade da internet, nós poderíamos sugerir:

•  É a experiência de compartilhar um espaço de comunicação com pessoas nunca vistas. É outro contribuinte de listas de correio eletrônico, como FutureCulture ou CyberMind, que inundam minha caixa de entrada com centenas de mensagens a cada hora do dia. É a multidão que entra no sistema de realidade virtual baseada em troca de mensagens de texto sobre Cultura Pós-Moderna MOO, onde eu sou um dos “wizards”, e aonde festinhas virtuais, exibições de arte e grupos de discussões competem por atenção e recursos do sistema. É o resultado de uma prática semi-compulsiva de ocasionalmente checar se alguém que está ocasionalmente checando ocasionalmente respondeu em toda sorte de fóruns online. Este é o sol sinergético de todos indivíduos semi-compulsivos que chegam a pensar neles mesmos como cidadãos de algum lugar que podemos referir com palavras como “ciberespaço” ou “a rede”, colaboradores na conjuntura de massa que produz o que nós pretendemos chamar de “Internet Culture”

•  Para mim é o trabalho de algumas horas ao dia, cavado em minutos e continuado antes do alvorecer até que por muito tempo após a obscuridade. Eu me aventuro na Net quando caminho pela noite, enquanto a água para o café borbulha, ou a água do banho escorre, entre seções de manuscritos e apontamentos de estudantes. Ou eu mantenho uma conexão de rede aberta no plano de fundo enquanto eu realizo outro trabalho. Uma ou duas vezes por dia eu conecto por longos períodos de tempo, a maioria para entrar em demanda por comunicações em tempo real, mas eu acho que não é o suficiente. Meus colegas e amigos expressam necessidades parecidas de conexões mais freqüentes, mesmo em conversas ou através de um olhar desejoso quando passam por terminais ocupados no escritório. Comunidade virtual é este trabalho, essa imersão, e todas essas conexões que ela representa. Algumas vezes é comunicação em tempo real. Mais freqüentemente ela é assíncrona e mais solitária, um punhado de cortejo textual que somente ocasiona um alvo para confronto direto entre vozes e corpos. Mas quando o telefone toca a meia-noite e uma voz estranha fala seu nome, ou uma carta chega na caixa postal, ou você se acha com uma passagem aérea para passar a semana em uma cidade distante, quebrando a cama de alguém com quem você compartilhou texto por um ano, mas nunca – e este nunca é o nunca “de verdade”, como seus amigos lembraram de você – encontrou.

•  Comunidade virtual é a ilusão de uma comunidade onde não existem
pessoas reais e nem comunicação real. É um termo usado por tecnófilos
idealistas que falham em entender que o autêntico não pode ser
construído por vias tecnológicas. Comunidades virtuais somem em face
de uma "natureza humana" isso é essencialmente, ao que me parece,
depravação.

•  Comunidade virtual não tem necessariamente uma ligação com
computadores ou tecnologias de ponta. Existe uma comunidade virtual em enviar cartas para artistas – indivíduos que subvertem o sistema
postal mundial para seu próprio fim ideológico e estético. Existem
linhas telefônicas para fazer amigos e pen-pal networks. Talvez todas
essas coletividades, também mediadas, merecem o termo "comunidade".

•  Comunidade virtual é a simulação de uma comunidade,
preferencialmente com uma larga dose de tradição e um pouco de
desordem. Colonial Williamsburg, Disneyland e o acampamento KOA deixam o caminho aberto para compartilhar um pouco de seu sabor. Pague na entrada, por favor.

•  Comunidade virtual são as pessoas de todo o mundo unidas pelo portal
da televisão programadas para ver o Super Bowl ou uma partida da copa do mundo.

•  Comunidade virtual é a nova terra média, o jardim na máquina, onde
os valores democráticos podem prosperam em uma renascença
ciber-Jeffersoniana. Dirigindo para uma nova espécie de sertão, além
de uma fronteira eletrônica, que nos ensinará de novo a depender de
nós mesmos, mas também a respeitar ao próximo. Nós reconciliaremos
expansão com intimidade e os valores do capitalismo com os "valores da
família".

Nós poderíamos sem dúvida ir mais e mais. Cada uma destas definições responde por parte do material memético carregado pela noção de comunidade virtual. Nenhum deles endereça a linhagem inteira, ao longo do tempo e das culturas. Nos duramente esperamos que isso possa ou deva. Algumas dessas definições empurra os limites da inteligibilidade, maquiados como apertados como estão em suas contradições e confusões que informam noções de comunidade e do virtual.

Talvez múltiplas, contraditórias definições pareçam consideravelmente menos usuais que, por exemplo, a tentativa claramente elegante de Rheingold. Contudo, o ponto de toda essa dissecação memética não encaixar melhor as palavras “comunidade virtual” em alguma realidade social conhecida. Contrariamente, nos estamos em um ponto em nossas pesquisas sobre “Internet Culture” onde é particularmente importante não forçar concepções antigas – como na fronteira mítica, por exemplo – no novo fenômeno das redes multi-tarefas descentralizadas, maquinas de compartilhamento de tempo e interfaces homem-máquina. Nós não sabemos muito sobre “Internet Culture”, então talvez as melhores definições são multifacetadas, um crítico canivete suíço. Precisamente por causa da riqueza de sua linhagem memética, “comunidade virtual” nos servirá bem como observação.

Eu concluirei essa exploração com dois breves estudos de caso que irão demonstrar a utilidade da comunidade virtual como um conceito chave para pesquisas em CMC, e para novamente enfatizar a abertura desse campo através da comparação de um elemento da “Internet Culture” com um sistema baseado na telefonia de um tipo anterior. Estes não são casos representativos em nenhum senso de ideal. Contrariamente eles representam extremos que devem funcionar como uma folha para o trabalho, como Rheingold, estes têm dois olhares tão distantes como, dentro de um claro e estreito alcance para esses exemplos de comunidades virtuais.

A cidade de correio de voz

Os restos de meu tempo na cidade virtual de Tyler, Wincosin, consistem em um pacote de 12 romances em brochura, três cópias da mesma receita, os registros de quatro chamadas de pedágio e um artigo acadêmico que surgiu de minha experiência ali. Isso, e umas poucas memórias, é tudo que foi deixado de doze meses gastos em envolvimento com vidas e amores – particularmente amores – com as pessoas de Tyler, ao menos se contarmos meu acréscimo e o aumentar da inveja de respeito ao experiente negócio da Harlequim enterprises como um artefato do período. E ainda, por um ano, eu me envolvi com os personagens que se moveram através da série de doze livros de romances de Tyler.

Eu vim para Tyler quando meu foco acadêmico ainda era a mídia impressa. Minha saída, que tem o mesmo sentido de expulsão, coincide, não totalmente coincidentemente, com minha entrada no mundo da “Internet Culture”. Harlequim lançou a série de Tyler em Março de 1992, no meio de uma plástica na face de um de seus produtos. Nessa época, a nova face era decididamente high-tech, com fotografias ou algo próximo a fotografias na arte da capa e um liso livro que parecia ter sido projetado em um túnel de vento. A primeira vista, Tyler deveria se mostrar como uma despedida da proximidade, como essa caseira, enrolada, acobertada capa ambientada em uma cidade pequena. Entretanto, Tyler talvez tivesse sido elaborado e construído como qualquer outra série de livros para o mercado de namoro para as massas, e isso não foi sem a sua inovação tecnológica. Juntamente com a promoção normal da Harlequim, Tyler apresentou uma linha 1-900 (1-900-78-TYLER) que permitia você ouvir as vozes de diversos personagens, enquanto eles te diziam as fofocas do dia na cidade, davam previsões sobre os próximos capítulos ou trocavam receitas. Nesse elaborado sistema de correio de voz, você podia navegar de uma seção do Tyler para a outra pelo usual comando onde “se você quer X, pressione Y”. Você também podia deixar mensagens em diversos pontos, a maioria para comprar livros ou receber uma cópia da receita do mês enviada para você.

Talvez seja muito comparar isso com algum tipo de realidade virtual, contudo isso envolve a negociação em uma terra distante usando comandos similares àqueles que você deve usar em um MUD (NT: jogo semelhante ao RPG, só que desenvolvido pela internet) na internet. Mas mesmo se nós reconhecermos que 1-900-TYLER nos conectaria a uma bizarra e rudimentar realidade virtual baseada na voz, deveríamos pensar no Tyler como uma comunidade virtual? Segundo a definição de Rheingold nós deveríamos dizer não, penso eu. Os requerimentos de explícita comunicação pessoa-pessoa diz que não importa quantos indivíduos compartilharam a experiência do Tyler virtual, eles não constituem uma comunidade. Sem dúvidas, algumas efusões de sentimento humano foram orquestradas pela combinação de escrever e falar textos. Se você, o leitor anônimo, lesse os livros e ligasse para o número então eu e você teríamos algo em comum. Mas o que essa espécie de compartilhamento significa? Nós podemos reconhecer que existe algo assim no surgimento de uma comunidade virtual que provem dessas culturas de compatibilidade ou compartilhar consumos que moldam muito de nossas multimediadas vidas cotidianas? Nós estamos certos que nós sabemos a diferença entre falar com outra pessoa e falar com a televisão?

Tyler levanta um soma de interessantes questões sobre comunidade. Algumas delas se tornaram claras para mim quando eu comecei a analisar as séries. Por exemplo, nós suspeitamos que existe alguma coisa como uma comunidade de leitores que compartilham gostos particulares e conceitos que os levou a uma série como a Tyler, ou a romances em geral. Algumas vezes essa comunidade potencial se mostra como algo mais sólido, na forma de revistas como Romantic Times que narra a sua existência, ou em conferências para leitores e escritores românticos. E também suspeito que exista um considerável sobreposição entre aqueles que lêem e aqueles que escrevem novelas românticas, e que escritoras de sucesso devem ser heroínas mais importantes para seus leitores do que a principal e dinâmica dama que povoa a novela. O acontecimento foi realizado para escritores românticos e leitores da mesma forma como estratégias de resistência a demandas ao poder dos homens. Nesse contexto, a questão sobre a potencial comunidade de leitores românticos é política, e a escolha de reconhecer a comunicação (sem dúvida mediada) que possibilitaria a tomada desse lugar é uma decisão que fazemos com um certo risco. Em particular, nós podemos estar inclinados a ter um olhar para a solidariedade em uma série focada em uma comunidade literal, especialmente depois da série Tyler ser finalmente uma extensão prescrita para a reunificação de elementos rurais e urbanos e reacender os supostos valores centrais da vida Americana. Nós poderíamos ficar maravilhados em como essa retórica quase populista serve a uma corporação multinacional como a que possui a Harlequim. Nós deveríamos estar particularmente aflitos com o papel proposto a ele por si mesmo – um mediador de muitos níveis de uma nova comunidade agora mostrada totalmente integrada com uma economia que obteve sucesso no trabalho em casa e na produção descentralizada, e que sobrevive com entrada de consumidores em um marketing cada vez mais direto e preciso de volta aos mesmos.

Tyler é, talvez, o simulacro de uma comunidade. É uma comunidade virtual dupla porque está contida em meios impressos e baseados em voz e porque é uma substituição para o tipo de interação pessoa-pessoa que ele retrata apelar. Seu desaparecimento subseqüente – os números 1-900 foram desconectados há muito tempo – o marca primariamente como um artefato de marketing. Mas antes de presumidamente despedirmos Tyler como uma mera curiosidade histórica, vamos considerar quão diferentes as interações são em listas eletrônicas moderadas normalmente, ou grupos de notícias da Usenet. Sobre o que se estende, em outras palavras, a função da internet como um sistema efetivo de comunicação muitos-para-muitos, e para que se estende a alta segmentação e a auto seleção natural de muitas das encorajadas conversações muitos-para-um entre entusiastas e seu público alvo? Eu tenho discutido em outro lugar que uma das razões que inflamam guerras podem ser tão facilmente começadas ou prolongadas é que em muitos fóruns o assunto combina, e a relação do usuário com ele é mais importante, para o usuário, que a relação entre os participantes. [11] Talvez grande parte da rede seja composta por essas culturas de compatibilidade, quando não de convívio, consumo.

Siga os Donuts Saltitantes

O surgimento e queda do FutureCulture (FC) experimentado no MIT´s MEDIAMOO foi um tipo diferente de affair. A entrada principal do FC está bastante quieta agora, mas uma vez foi com algumas das mais interessantes e frutíferas interações online que eu experimentei. FC é uma lista de correio eletrônico com centenas de assinantes pelo mundo. Seu foco nominal é as novas tecnologias e seus efeitos na cultura global, mas as discussões atuais giram em generalidades – de questões acerca do futuro da monogamia a discussão de artigos constitucionais. Na FC, o futuro é agora, e muito do que aparenta ser aprendido para viver em um mundo que aparenta estar em constante mudança, muda sem fim. As pessoas da lista dirigem o assunto conforme seu interesse particular. Não há um assunto claramente definido na mediação entre indivíduos, e as coisas podem ficar bem pessoais. Para aqueles que duvidam de intimidade online, eu somente posso dizer de nascimentos e mortes que sacudiram a lista de maneiras variadas – de horas sentado ao meu teclado com lágrimas correndo pela minha face, ou convulsionando de choro. Comunicação em listas de correio eletrônico é assíncrona, o que tem algumas desvantagens com relação a um fórum em tempo real como o Internet Relay Chat (IRC) para criar conexões entre indivíduos. É raro, no momento, eu me conectar sem achar alguma nova mensagem de membros do FC, que estão sempre lá quando eu tenho tempo para ler. Fóruns em tempo real quase não podem acomodar membros tão diferentes em sua comunidade, desde que eles contem com respostas imediatas e então consigam a coordenação de presenças físicas cruzando em crescente número de fusos-horários.

Entretanto, a urgência de comunicação em tempo real tem um apelo definido, e isso é comum para grupos baseados em fóruns assíncronos para experimentos com interações em tempo real. Quando o FC estava entrado no MediaMOO, existiam também um grande acordo de interesse no IRC como um meio de expandir as formas de contato entre os membros. De fato, o MOO e os usuários do IRC engajaram em um nível quente de intrigas na lista, e em ambos aplicativos de tempo real, por alguns meses. O que estava em jogo era a foram da comunidade do FC, e mais especificamente, sua velocidade. A turma do IRC estava debatendo em favor que uma série de relativa transparência de presença, e contra o que eles diziam estava o “núcleo” da realidade virtual baseada em texto. Um dos mais interessantes conflitos revolvidos sobre o uso de suportes no MOO. Por que, por exemplo, deveríamos perder tempo programando um elaborado e realístico café no ciberespaço? Dêem as comunidades online depender da criação de um ambiente confortável e familiar com a vida real? Ou talvez nós devêssemos estar procurando por alternativas que levem a outros tipos de interação, e talvez outros tipos de comunicação?

O debate nunca foi esclarecido e o site agora está deserto, mas os artefatos de um breve período de divertidos experimentos continuam marcando as salas vazias. Saídas são atravessadas com comandos como “flip” ( e “backflip” pra voltar). A sala de gravação da FC tinha uma mesa de ping-pong, uma “pente board ”, assentos para a platéia e uma série de adereços virtuais – incluindo uma caixa de donuts, que podiam ser comidos, e repostos com um comando de “bake”, esmagados ou arremessados. O comando para arremessar enviava uma série de mensagens que descrevia o donut ricocheteando de parede a parede antes de finalmente voltar ao resto. Eu ajudei um amigo muito mais novo a escrever um código que fazia o donut dançar, e eu vi professores universitários terem grande regozijo em sentir o “ar” da FCRec com donuts voadores. Então, essas explosões deveriam vir dentro de minutos de discussões sérias sobre filosofia ou música, ou debates sobre o impacto das novas tecnologias ou leis. Os participantes variavam substancialmente em idade, educação e ocupação, mas uma bem codificada guerra de comida podia ser um maravilhoso nivelamento.

Então, onde estão eles agora? Aquelas interações iniciais eram frívolas demais para suster o interesse, ou o ambiente que fora construído não era similar o suficiente à vida real, ou talvez muito escravizado em sua aderência ao “real”? Estas são as questões que gostaríamos de perguntar se pudéssemos interpretar o silêncio e o vazio do complexo do FC/MediaMOO como um sinal da falência. Mas se nós rastrearmos os participantes dessa comunidade de vida curta, nos encontraremos outros tipos de sinais. Por exemplo, o declínio do FC/MediaMOO combina com o nascimento do BayMOO, um MOO baseado em São Francisco que rodou nos seus primeiros meses quase que inteiramente por membros do FC, ou indivíduos que foram conectados através de contatos feitos através do MediaMOO. As pessoas continuavam a conversar sobre o FC usando palavras como “lar”, que estava abandonado. A concha do FC/MediaMOO talvez seja aoenas isso, uma concha que a comunidade do FC quebrou em algum momento que nenhum de nós pode recordar, e que deveria ser difícil para voltar. É possível que a própria FC possa ser constrangida em algum ponto da vida da comunidade, e talvez lá exista um tempo em que olharemos para trás carinhosamente para a lista de onde quer que esteja transformada a comunidade agora recolhida. Existiram comunidades antes da FC que representam parte de sua linhagem. Algumas delas sobrevivem até hoje no ambiente provido pelas listas.

Formas de Comunidades

É muito fácil entrar e se conectar em um sistema de bate-papo online e imaginar que é exatamente igual vagabundear em um bar local. É muito fácil entrar e imaginar que tudo é de faz de conta. E em geral é muito fácil entrar em um mundo virtual e imaginar que isso nos possibilita entender o mundo “real”. Qualquer estudo sobre comunidade virtual nos envolverá em uma difícil tarefa de escolher um caminho que cruza um terreno em mutação, onde a circulaçao de presença, realidade, ilusão, moralidade, poder, sentimento, confiança, amor, e muito mais, constroem novos blocos de estrada a cada volta. Os perigos são dobrados para qualquer viajante que anseie reportar o que ele(a) viu, desde que cada descrição nos leve ao reino do virtual, o tão-bom-quanto. Contudo, em face do desafio, nós não devemos ser tão desanimadores. Como podemos ver, as ferramentas que nós selecionamos são flexíveis na remarcação. Um passo na estrada para aumentar nossa flexibilidade como pesquisadores de CMC é entender essas ferramentas.

Nós devemos estar preparados para achar comunidades debaixo de uma série de variadas circunstâncias, em um amplo alcance de ambientes, e misturadas com um número de elementos que trabalham contra o desenvolvimento de “sentimento humano o suficiente”. Com os olhos bem abertos e usando as ferramentas que herdamos – com algum respeito pelas heranças meméticas que elas carregam – pesquisadores de CMC podem estar aptos para carregar a frente o estudo de comunicação em direções que nós previamente nunca imaginamos. Nós podemos imaginar o próximo conjunto de obstáculos, que deverão, eu suspeito, ser tomados todos de uma vez e em uma só corrida. Comunidade, virtual, mediação, comércio: como esses elementos estão a rticulados dentro da “Internet Culture”? Nós podemos dizer a diferença, por exemplo, entre uma comunidade e um segmento de mercado, ou uma cultura de compatibilidade de consumo? Qual é a relação entre o real e o virtual, entre ser e ver, entre “vida real” e “vida.com”? As estruturas e marcas de classe, raça, gênero e gosto estão mais ou menos afundadas dentro desses espaços virtuais? Esses espaços virtuais claramente mediados podem prover espaços para contestar os poderes do “mundo real”? Ou estão muitas dessas questões mal colocadas, como eles assumem uma certa autenticidade e carência de mediação em nossa vida cotidiana que está talvez ilusória? É essa tela um espelho, ou algo mais? Estas são apenas algumas das questões que pressionam, e elas estão pressionando com mais urgência a cada dia.

NOTAS DO AUTOR

1 Richard Dawkins, The Selfish Gene (New York: Oxford University Press, 1989).
2 Veja também Bruce Sterling, The Hacker Crackdown (New York: Bantam, 1992); Clifford Stoll, The Cuckoo´s Egg (New York: Doubleday, 1989); e Stewart Brand, II Cybernetic Frontiers (New York: Random House, 1974).
3 Howard Rheingold, The Virtual Community: Homesteading on the Eletronic Frontier (Reading, MA: Addison-Wesley, 1993), 5.
4 É comum, na internet, fazer referência às atividades online como RV, de “Realidade Virtual”, e às atividades offline como VR, de “Vida Real”. Existe, contudo, uma forte dose de ironia que informa que muitas dessas atividades online como pertencentes ao não-real.
5 Veja o capítulo de Rheingold sobre a Eletronic Frontier Foundation e organizações similares (Rheingold, 241-275).
6 No que segue, eu usei os registros de “comunidade” e “virtual” no The Oxford English Dictionary, Second Edition (Oxford: Oxford Univerity Press, 1989) como um guia etimológico.
7 O WELL, ou Toda Terra Ligada Eletronicamente (Whole Earth ´Letronic Link), é um sistema de conferência por computador baseado na área de São Francisco, que possui uma combinação de assinatura mensal e recarga por horas de uso. Ele é o foco dos capítulos introdutórios e de definição de Rheingold. Entretano, muitos habitantes de comunidades na internet aberta (N.T.: por internet aberta fica subentendido que se trata de serviços gratuitos) enxergam comunidade como o WELL como os habitantes das partes centrais de cidades grandes olham para os habitantes de subúrbios bem policiados. Rheingold é cuidadoso ao olhar para os outros empreendimentos, mas não é claro por que “sentimento humano o suficiente” representa um instrumento de mensuração adequado para comunidade na internet ou chat em tempo real ou com um grupo de notícias da Usenet, não é claro em como devemos mensurá-lo.
8 O tratado básico para esse probela teológico é Edmund Sears Morgan, Visible Saints (New York: New York University Press, 1963).
9 Louise Wilson, “Cyberwar, God, and Television: Interview with Paul Virilio,” CTHEORY (eletronic edition), Article 20, December 1994. O próprio Virilio desenha uma comparação entre ele mesmo e Baudrillard, dizendo que ele sobrepujou Baudrillard na predição da substituição do real pelo virtual. Entretanto, isso soa muito semelhante à explanação de Baudrillard sobre simulação como algo “mais real do que o real”.
10 Jacques Lacan, Freud´s Papers on Tchniques (The Seminar of Jacques Lacan, Book I), (New York: Norton, 1991), 139-142.
11 Veja o meu artigo “Running Down the Meme: Cyberpunk, alt.cyberpunk, and the Panic of ‘93” ( ftp://ftp.netcom.com/pub/sw/swilbur/Running_Meme.txt ), originalmente apresentado na “American Culture Association National Conference, ‘994.

Uma Arqueologia dos Ciberespaços: Virtual, Comunidade e Identidade. Publicado em Internet Cultura , editado por David Porter. Traduzido por Thiago Mendes Ourives.








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